Putin enviou uma mensagem de parabéns ao seu "querido amigo" Xi Jinping. Mas a mensagem não foi apenas para o presidente chinês

CNN Portugal , BCE
16 jun 2023, 19:49
Vladimir Putin e Xi Jinping em Moscovo (Foto: Alexey Maishev, Sputnik, Kremlin Pool Photo via AP)

Mensagem surge numa altura em que o presidente russo "está em apuros", isolado do resto do mundo como consequência da invasão da Ucrânia, e precisa mais do que nunca de garantir o apoio de Pequim

"Querido amigo". Foi assim que Vladimir Putin se dirigiu a Xi Jinping na mensagem de parabéns que enviou ao presidente chinês no dia do seu aniversário. Esta quinta-feira, Xi Jinping completou 70 anos e o presidente russo não quis deixar de assinalar a data com uma mensagem que fez questão de divulgar no site oficial do Kremlin e na qual Putin destaca os "resultados impressionantes" que a República Popular da China alcançou desde que o "querido amigo" assumiu o poder.

"A economia do país está a crescer constantemente, o bem-estar do povo está a melhorar e a posição de Pequim no cenário internacional está cada vez mais forte", enumerou o chefe de Estado russo, salientando depois a importância da parceria entre Moscovo e Pequim, que considerou ser "mutuamente benéfica".

"Nunca é demais sublinhar a importância do seu esforço, desenvolvido ao longo de vários anos, para reforçar as relações de parceria global e de interação estratégica entre os nossos países. A visita de Estado que Sua Excelência efetuou à Rússia em março deu um forte impulso ao desenvolvimento da nossa cooperação mutuamente benéfica em domínios fundamentais. Espero que o nosso diálogo construtivo e os nossos esforços conjuntos sobre as principais questões da agenda bilateral, regional e internacional prossigam, em benefício dos povos da Rússia e da China", declarou Putin.

O presidente russo termina a mensagem em tom mais pessoal: "Querido amigo, desejo-lhe saúde, felicidade, prosperidade e sucesso nas suas atividades públicas."

Uma mensagem que analistas políticos citados pelo New York Times admitem ser mais do que uma mensagem de parabéns - "é uma mensagem para o mundo, sobretudo para os seus rivais ocidentais".

De acordo com os especialistas, esta mensagem surge numa altura em que o presidente russo "está em apuros", isolado do resto do mundo como consequência da invasão da Ucrânia, e precisa mais do que nunca de garantir o apoio de Pequim.

"É uma dança desajeitada." É assim que Joseph Torigian, especialista na diplomacia russa e chinesa e professor auxiliar na Universidade de Washington, descreve a relação entre Xi Jinping e Vladimir Putin. É que "ao mesmo tempo que não querem que o Ocidente acredite que pode dividir esta parceria", a cooperação entre os dois países "está a ter elevados custos económicos e reputacionais para a China", analisa o especialista.

A desconfiança dos empresários chineses... e russos

Apesar de as trocas comerciais entre a China e a Rússia terem aumentado 41% nos primeiros cinco meses do ano, a verdade é que as empresas chinesas têm demonstrado alguma relutância em investir em Moscovo, sobretudo por recearem ser alvo das sanções económicas do Ocidente.

Xiao Bin, um investigador de política internacional, acredita mesmo que "até pode ter havido uma contração da cooperação pré-guerra" entre os dois países. "É que as sanções dos EUA têm de ser levadas a sério", sustenta, citado pelo New York Times.

Mas a desconfiança do setor empresarial não se resume ao país asiático: de acordo com Tatiana Miltrova, investigadora do Centro de Política Energética Global da Universidade de Columbia, também os líderes empresariais russos têm manifestado alguma desconfiança com o domínio chinês. “Foi um pesadelo para as elites russas ficarem tão dependentes da China”, salientou a investigadora ao jornal norte-americano.

Apesar das desconfianças de parte a parte, os dois líderes parecem determinados a manter a cooperação entre os respetivos países, unidos pela convicção partilhada de que os EUA e seus aliados querem enfraquecer a Rússia e, ao mesmo tempo, impedir a ascensão da China como uma grande potência mundial.

Mas esta parceria tem limites que não passam despercebidos aos analistas, por muito que os dois líderes garantam que esta é uma relação "sem limites", como assinalaram no início do ano. Um desses limites é o projeto proposto pela Rússia à China para a criação do Power of Siberia 2, que permitiria redirecionar os fluxos de gás russo da Europa para a China.

Mas Pequim não parece muito interessada no projeto. Ou, pelo menos, não o demonstra, escreve o New York Times, assumindo a possibilidade de tal acordo poder colocar a China como "financiadora da guerra" de Putin.

“A China não quer apresentar-se como o país que está a ajudar a financiar a guerra de Putin. Se queres convencer toda a gente de que és um mediador de paz, aumentar as receitas da Rússia não seria bem visto”, indica Alexander Gabuev, diretor do Carnegie Russia Eurasia Center.

Relacionados

Europa

Mais Europa

Mais Lidas

Patrocinados