Este foi um dos dias mais sombrios. Análise de Christiane Amanpour

CNN , Análise de Christiane Amanpour
25 fev 2022, 12:14
Aeroporto militar em Chuguiv, no nordeste da Ucrânia, atacado pela Rússia. Foto: Aris Messinis/AFP via Getty Images

“Devemos salvar a Ucrânia hoje e salvar o mundo democrático.” Com estas palavras ao povo ucraniano, o presidente Volodymyr Zelensky expôs claramente o que está em jogo neste momento sem precedentes.

Após meses de aumento da presença militar e manobras diplomáticas cada vez mais frenéticas por parte do Ocidente, a Rússia invadiu o seu vizinho a oeste. Esta invasão de um país soberano faz a Europa regressar a dias sombrios que não se viam desde o final da Segunda Guerra Mundial.

Está em jogo o futuro da ordem mundial ocidental pós-1945. O Secretário-Geral da NATO, Jens Stoltenberg, disse na quinta-feira que esta é uma “grave violação do direito internacional [por parte da Rússia] e dos princípios sobre os quais a segurança europeia foi construída”. E ele está absolutamente certo.

Com esta invasão, o presidente russo Vladimir Putin colocou-se nas fileiras dos párias e dos líderes desonestos do mundo. Na verdade, está agora a agir de forma ainda mais imprevisível do que o líder da Coreia do Norte, nesse reino eremita tão distante da Europa. Nenhum dos especialistas russos com quem falei nas últimas semanas esperava uma invasão total tão flagrante, e os diplomatas de Putin negaram repetidamente que tais ações alguma vez fossem tomadas.

No entanto, Putin mostrou que vai descer a infinitas profundezas para levar a cabo a sua própria agenda paranoica, criadora de mitos e repleta de ressentimentos. Foi em 2007 que os primeiros sinais disso mesmo se tornaram claros, quando, num discurso na Conferência de Segurança de Munique, Putin pôs os olhos na expansão da NATO e numa ordem mundial unipolar liderada pelos Estados Unidos, rotulando-a de “perniciosa”.

No entanto, à medida que a crise atual ganhava força, os EUA e a NATO retiraram desde o início a ambiguidade estratégica da mesa. Prometeram não destacar tropas nem colocar uma única arma ofensiva na Ucrânia. Algumas pessoas com quem falei acreditam que esse foi um erro grave, e que Putin só entende a força.

São os líderes dos países bálticos à porta da Rússia, em especial, que estão mais preocupados - e com razão. Embora a UE, os EUA e a NATO estejam completamente unidos, de uma forma que não víamos há muito tempo, resta saber se a resposta será forte o suficiente para combater o presidente russo.

Há um ditado frequentemente atribuído a Lenine que ajuda a explicar a mentalidade de Putin: “Sondamos com baionetas: se encontrarmos pieguice, avançamos. Se encontrarmos aço, recuamos.” Agora, são os EUA, a NATO e a UE que precisam de erguer esse aço, e depressa.

Esta semana, a presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, tentou tranquilizar os aliados quando a questionei acerca da determinação de todos: “Se um centímetro quadrado de um país aliado da NATO for atacado por um agressor externo, todos os aliados da NATO se unirão em defesa desse território”, disse-me ela. “Isso é válido, claramente, para o nosso território. E sei que estes países da linha de frente podem confiar absolutamente nisso.”

Há apenas cinco dias, estive frente a frente com o Presidente Zelensky em Munique e perguntei-lhe porque tinha deixado o país num momento tão crítico. Ele explicou-me que nenhuma decisão sobre a Ucrânia poderia ser tomada pelas costas e, acima de tudo, que ele não abandonaria o seu país. “Gostaria de dizer que tomei o pequeno-almoço na Ucrânia e vou jantar também na Ucrânia. Nunca estou muito tempo longe de casa”, disse ele.

Nos discursos que fez à nação, durante a noite de quarta para quinta-feira, aparentemente gravados num smartphone, Zelensky parecia determinado a ficar. Mas com os soldados russos a aparecer no aeroporto dos arredores de Kiev, há uma preocupação urgente sobre se ele e o seu governo estarão a salvo, ou se o objetivo de Putin é remover rapidamente Zelensky e o seu governo do poder e instalar um regime fantoche.

Em entrevistas a correspondentes da CNN, no mês passado, ficou claro que muitos cidadãos ucranianos estão decididos a resistir. É menos claro se tal resistência representaria um sério desafio à invasão.

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