Bilionários ucranianos como Ihor Abramovich e Vadym Yermolaiev refugiaram-se da guerra em destinos como Mónaco, Monte Carlo e Nice - com direito a iates, carros de luxo e noites em casinos
O eclodir da guerra na Ucrânia significou, também, o separar de inúmeras famílias. Em cumprimento da Lei Marcial imposta pelo governo de Kiev, todos os homens entre os 18 e os 60 anos de idade, elegíveis para o serviço militar obrigatório, foram forçados a ficar para trás e a combater pelo seu país. Todos, exceto alguns: 84 oligarcas, deputados e milionários ucranianos abandonaram o país aquando da invasão russa e refugiaram-se na Riviera Francesa, denuncia o jornal online Ukrainska Pravda.
A informação foi avançada pouco antes do Dia da Independência e coincidia com o assinalar de seis meses de guerra. Era um momento de resistência exausta, e a indignação coletiva perante a vida ociosa da elite política e financeira fez-se sentir sem demora. O grupo de oligarcas foi apelidado pejorativamente de "Batalhão do Mónaco", em contraste sarcástico com o Batalhão Azov.
Em regiões como Mónaco, Monte Carlo e Nice, o cenário é bem diferente. Os vídeos e imagens que percorrem os meios de comunicação oficiais de Kiev, e que agora estão a ser investigados pelo serviço de inteligência ucraniano SBU, comprovam-no: passeios, tardes de compras e noites em casinos na comuna de Saint-Jean-Cap-Ferrat, uma das zonas residenciais mais caras do mundo e destino de férias de eleição de aristocratas e milionários em todo o mundo.
Alguns dos nomes mais sonantes apontados pela investigação são os do deputado Ihor Abramovich e do chefe político Serhiy Vyazmiki. Kostyantyn Zhevago, o bilionário mais novo da Ucrânia que caiu em desgraça - mas não perdeu a fortuna - após suspeita de ter desviado 113 milhões de dólares (112,8 milhões de euros) do banco JSC, também consta da lista. O seu iate, de nome "Z" - a inicial do seu apelido, e ironicamente também a letra que ficou conhecida como símbolo de guerra dos russos - encontra-se ancorado na costa do Mónaco.
Os irmãos Ihor e Hryhoriy Surkis foram fotografados em passeios descontraídos em Saint-Jean-Cap-Ferrat. Ihor é detentor e presidente do clube de futebol Dínamo de Kiev, Hryhoriy é ex-deputado e ex-dirigente da Associação Ucraniana de Futebol. Agora, frequentam assiduamente o Casino de Monte Carlo e estão registados como "residentes" num apartamento cuja renda ronda os dois milhões de euros anuais.
O programador informático Vadym Yermolaiev fica-se pelo "modesto" 45.º lugar na lista de ucranianos mais abastados, de acordo com dados do El Mundo. Partilha, de resto, a vida luxuosa dos restantes homens aqui destacados. Um carro que lhe pertence, um Mercedes Maybach no valor de 300.000 euros, aparece estacionado perto do Casino de Monte Carlo em diversas provas fotográficas. A matrícula do carro faz referência a Kharkov, cidade ucraniana que há muito abandonou.
O colonista George Woloshyn, colaborador frequente do Kyiv Post, denuncia as prováveis intenções do "Batalhão do Mónaco". "Estas são pessoas que fizeram fortuna num dos países mais pobres da Europa, e estão à espera para ver como terminará a guerra. Se a Ucrânia ganhar, voltam para enriquecer. Mas, se vencer Moscovo, terão o suficiente para viver confortavelmente para o resto das suas vidas", opina, citado pelo El Mundo.
Quanto à provável resposta da Ucrânia, o mesmo colunista aponta duas hipóteses. A primeira, a mais óbvia: pena de prisão por desrespeitarem a lei marcial, particularmente gravosa para os deputados e membros políticos. Em alternativa, e considerando as possibilidades económicas dos acusados, poderá ser exigida uma multa - sendo esta avultada quantidade de dinheiro investida na reabilitação de soldados feridos e na aquisição de proteções adicionais para aqueles que continuam, ainda, em campo de batalha.