Com tosse há mais de três semanas? Os xaropes nem sempre são a solução (e há outras oito coisas que tem de saber)

12 fev 2023, 12:00
Tosse (Pexels)

“Não ter tosse é tão patológico como ter tosse”, alerta Filipe Froes. Mas tossir mais do que três semanas é sinal de que está na hora de ir ao médico. Eis tudo o que tem de saber

1 - O que é a tosse?

Trata-se de “um mecanismo de limpeza da via aérea” através da “expulsão súbita de ar dos pulmões”, começa por explicar Luís Costa, médico pneumologista e dirigente da Fundação Portuguesa do Pulmão. Segundo o pneumologista Filipe Froes, “é um mecanismo de defesa fisiológica que protege as nossas via áreas de partículas estranhas”. Apesar de incómoda, “é fundamental”: “não ter tosse é tão patológico como ter tosse”, assegura.

2 - Quais as causas da tosse?

Luís Costa reconhece que, “nesta altura do ano, as causas da tosse são sobretudo as infecções”, como as que são causadas pelo vírus Influenza e SARS-CoV-2 ou por bactérias, como as que provocam pneumonias, por exemplo. “Mas temos de começar pelo tabaco”, continua Luís Costa, apontando o tabagismo como a principal causa de tosse e de problemas respiratórios - que, por consequência, podem provocar episódios de tosse.

Há também algumas doenças ou medicamentos que podem levar uma pessoa a tossir, como é o caso da “doença digestiva e de patologias obstrutivas respiratórias, como asma e bronquite”, continua o médico. Filipe Froes acrescenta ainda a doença pulmonar obstrutiva crónica (DPOC) como uma das causas de tosse, assim como “sequelas de tuberculose e neoplasia do pulmão”, duas situações em que é também recorrente a pessoa ter tosse.

No caso dos mais novos, há um outro fator em jogo: a ingestão de “corpos estranhos, como um objeto ou brinquedo”. Neste tipo de cenários, Luís Costa diz que se tem de “atuar de imediato”. Já nos mais idosos, os que apresentam dificuldades na deglutição podem ter episódios de tosse “quando ingerem” bebidas ou alimentos.

3 - Que tipos de tosse há?

A tosse pode ser dividida em três grupos, que podem ligar-se entre si: voluntária ou involuntária, aguda ou crónica, seca ou produtiva. Vamos por partes.

“Podemos ter tosse de forma voluntária ou de forma involuntária e esta última está mais associada ao inverno. Pode criar desconforto, até em termos de sono, e o esforço torácico pode causar dor”, diz Luís Costa. Dentro da tosse involuntária, que é a que surge, por exemplo, à boleia do tabaco ou de infeções víricas, podemos ter tosse aguda e tosse crónica.

A tosse aguda é aquela que é momentânea e autolimitada, desaparecendo em menos de 20 dias, e está relacionada com a ingestão de algo que nos leva a engasgar (como uma migalha), mas também com “infeção (das vias aéreas superiores, como a sinusite, faringite ou bronquite e bronquiolite, incluindo a pneumonia)” com “a exposição a alergénios”, diz a Direção-Geral da Saúde.  Luís Costa acrescenta como causas de tosse aguda a “patologia cardíaca e embolias pulmonares ou obstrução nasal com escorregência na nasofaringe”.

Já a tosse crónica, que é aquela que se prolonga para lá das oito semanas, pode acontecer também por consequência de infeções, mas sobretudo como efeito colateral de algumas doenças. Filipe Froes diz que “nos quadros de tosse mais persistente, de tosse crónica, alguns duram meses e anos e é normal acontecer em pessoas de meia idade e do género feminino”.

Segundo a Direção-Geral da Saúde, a tosse crónica é, “em aproximadamente 80% dos casos, causada por asma, refluxo gastroesofágico e síndrome da tosse das vias aéreas superiores (anteriormente referido como da rinorreia posterior)”. O organismo classifica ainda a tosse que dura entre três a oito semanas como tosse subaguda.

Depois há ainda a tosse seca e a tosse produtiva, esta última caracterizada pela presença de expectoração. A tosse seca pode estar associada a vários fatores, como “asma, fibrose pulmonar, alergias, refluxo gastroesofágico, alguns medicamentos, exposição a agentes irritantes e bloqueio das vias respiratórias por algum corpo estranho”, explica o site da CUF. Já a tosse produtiva, lê-se na mesma página, está mais relacionada a “doenças pulmonares crónicas, como doença pulmonar obstrutiva crónica e asma, infeções respiratórias, problemas cardíacos, como insuficiência cardíaca e tabagismo”.

4 - Como se avalia o impacto da tosse?

“A investigação é feita com exames de imagens, como radiografia ou TAC do tórax”, esclarece Luís Costa, que diz que pode ainda ser necessário analisar a “saturação do oxigénio” ou até realizar “testes de alergia e função respiratória”. Se a tosse tiver expectoração, o médico pode recomendar alguns exames bacteriológicos.

No entanto, adianta Filipe Froes, “nalguns doentes nem sempre é possível determinar a causa da tosse, pensa-se que com meses e anos de evolução sem causa identificada, a tosse possa resultar de alterações a nível do sistema neurofisiológico do arco da tosse que perpetuam estas queixas”,

5 - Há pessoas mais vulneráveis à tosse?

Sim. Os fumadores são os primeiros a serem apontados pelos especialistas, que referem ainda como vulneráveis as pessoas com doenças respiratórias obstrutivas, com refluxo gastroesofágico ou com dificuldades em deglutir. 

6 - Muita tosse é sinónimo de princípio de pneumonia?

Não necessariamente, apesar de ser um dos sintomas mais comuns. “A pneumonia por si é uma afetação do pulmão mais profundo, há uma infecção com bactérias. Numa fase inicial de uma infeção respiratória, temos uma estimulação da via aérea, especialmente dos principais brônquios, nessa estimulação dá-se a inflamação do nervo vago, que leva informação o sistema nervo central e vai causar tosse”, esclarece Luís Costa, que adianta que “a pneumonia pode começar com tosse”, mas que, por norma, há sempre outros sintomas associados, tais como aqueles que Filipe Froes enumera: “dor torácica, expectoração, prostração, febre, perda de apetite”.

7 - Posso ficar com tosse depois de ter tido covid-19?

Sim, aliás, a tosse é uma das queixas mais comuns nos casos de covid-19 de longa duração.

Tenho notado nos últimos anos um aumento das queixas de tosse, há uma maior sensibilidade quer das pessoas com tosse, quer dos profissionais de saúde para esta sintomatologia. E já sabemos que foi estabelecida uma relação entre a covid-19 e queixas de tosse prolongada”, diz Filipe Froes. O pneumologista e intensivista do Centro Hospitalar Lisboa Norte diz que “a tosse crónica é aquela que persiste por mais de oito semanas e está indiscutivelmente associada a pacientes com queixas de long covid”.

Luís Costa esclarece ainda que “a tosse pode estar presente quando deixa sequelas, quando temos limitação da função pulmonar ou uma alteração da estrutura do pulmão, como acontece com situações de fibrose pulmonar ou pneumonias. Isso pode fazer com que a pessoa mantenha a tosse e necessidade de recursos a fármacos”.

8- Quando é que a tosse deve ser um motivo de preocupação?

A tosse é, refere Luís Costa, “o maior motivo das consultas médicas” na área da pneumologia, alertado que se deve“olhar para tosse com alguma preocupação quando se prolonga para lá das três semanas”. Nestes casos, adianta, há que “procurar ajuda médica”. Mas não é apenas a duração da tosse que deve fazer soar o alarme.

Se a tosse está associada a falta de ar, dispneia ou saída de sangue pela boca, perda de peso e febre, podemos ter uma situação mais complicada” e que requer uma observação médica, adianta o dirigente da Fundação Portuguesa do Pulmão.

“Muitas vezes, estar mais de duas ou três semanas a tossir traz profundas alterações na qualidade de vida, como no sono. Mas a tosse pode também ser acompanhada, nos casos mais intensos, por incontinência urinária e nesse contexto deve-se recorrer a um médico e idealmente a centros especializados”, refere Filipe Froes.

9 - Os xaropes são sempre eficazes?

Nem sempre e nem para todos os tipos de tosse, dizem os dois pneumologistas. Antes de ir a uma farmácia comprar um xarope, o ideal é começar por despistar uma eventual causa da tosse - como o tabaco, por exemplo -, depois apostar na “boa hidratação”, recomenda Luís Costa. E caso nada resolva, ir ao médico, pois só assim é possível saber qual a terapêutica mais adequada, que, em alguns casos, pode passar pela toma de fármacos específicos.

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