A gripe pode ser um grande problema para as crianças. Saiba porquê

CNN , Edith Brancho-Sanchez
18 dez 2022, 12:00
Os sinais de de alerta de hepatite aguda estão categorizados em dois grupos. (Pixabay)

Edith Bracho-Sanchez é pediatra de cuidados primários e professora assistente de pediatria no Centro Médico Irving da Universidade de Columbia

Laura Tejeda esteve acordada durante toda a noite a observar a respiração da sua filha Zoelis, de 7 meses, no passado mês de novembro. Esteve num hospital local perto da casa da família no início do dia, preocupada com uma febre e com a respiração de Zoelis, mas mandaram-na para casa. A meio da noite, Tejeda observou o peito de Zoelis a apertar, e soube que tinha de agir. Entrou num táxi do Bronx para o Hospital Presbiteriano de Nova Iorque, em Manhattan, onde uma enfermeira olhou para Zoelis e a levou diretamente para dentro.

“Nem sequer dei entrada nas urgências” disse Tejeda.

Zoelis precisava de BiPAP, ou ventilação com pressão positiva, juntamente com oxigénio para a ajudar a respirar e foi admitida na unidade de cuidados intensivos. O culpado por detrás da sua doença: a gripe A, a estirpe mais comum do vírus da gripe que circula atualmente nos Estados Unidos.

Para Tejeda, o diagnóstico veio como uma surpresa. “Nunca tinha visto uma doença como esta”, referiu.

“A gripe não é apenas uma constipação grave; pode ser uma doença muito grave em crianças” e adultos, afirmou Melissa Stockwell, professora associada de pediatria e saúde populacional e familiar no Centro Médico Irving da Universidade de Columbia e Chefe de Divisão de Saúde da Criança e do Adolescente.

“As crianças pequenas estão em maior risco de hospitalização e de complicações graves da gripe”, acrescentou. As crianças pequenas também estão em risco de desenvolver infeções secundárias como pneumonia e infeções dos ouvidos, explicou Stockwell, e as crianças mais velhas podem desenvolver sinusite.

A gripe não é apenas uma constipação mais forte

Os pediatras sempre se preocuparam que os pais encarassem as gripes como constipações mais fortes quando não é esse o caso, explica Stockwell. As crianças têm vias respiratórias mais pequenas, o que as coloca em risco de complicações respiratórias devido à gripe. A combinação de febres altas e sensação de mal-estar também pode tornar difícil para as crianças beber líquidos e pode levar rapidamente à desidratação, afirmou.

“Aquilo que se acrescenta agora a essa má perceção subjacente é que não temos visto muita gripe durante as recentes estações de gripe devido a todas as precauções em torno da Covid-19”, acrescentou. "Os pais, especialmente das crianças mais novas, podem não estar a encarar a gripe da mesma forma que encaravam há alguns anos, mas deveriam.”

Este ano, os Estados Unidos passaram por uma onda de gripe grande e precoce, afirmou Stockwell. No final de novembro, a taxa de hospitalizações devido à gripe era mais alta do que a verificada em qualquer ano desde 2010, e aumentou, de acordo com os Centros de Controlo e Prevenção de Doenças dos EUA.

Para além da sua rápida propagação por todo o país, a propagação dentro dos lares é rápida, como Tejeda e a sua família experienciaram recentemente.

A gripe pode espalhar-se rapidamente entre membros da mesma família

“Todos nós ficámos contagiados em casa... um após o outro”, contou Tejeda, que desenvolveu ela própria fadiga e náuseas graves enquanto cuidava de Zoelis no hospital. Depois os seus dois filhos mais velhos, assim como dois primos, apanharam o vírus, seguidos pelo seu pai, diabético de tipo 2, que teve de ir para o hospital e ainda está a recuperar semanas mais tarde.

“É comum que várias pessoas na mesma casa apanhem gripe, frequentemente uma após a outra, resultando num longo período de doença doméstica”, explicou Katie Lockwood, pediatra de cuidados primários do Hospital Infantil de Filadélfia. Como consequência ficam vários dias perdidos de escola, atividades e trabalho para os pais, acrescentou.

Para os pais, a responsabilidade de cuidar de todos em casa durante um longo período pode ser pesada.

“Já não sei como é dormir”, disse Tejeda, cujo filho de 9 anos, Damian, tem asma e cuja respiração tem estado a acompanhar de perto, bem como a de Zoelis. “Não desejo isto a ninguém.”

A melhor forma de proteger a sua família

A maioria das crianças com gripe irá recuperar bem em casa, explicou Lockwood.

Embora as complicações sejam mais comuns nas crianças mais novas e naquelas com sistemas imunitários enfraquecidos ou doenças crónicas como a asma, mesmo crianças que tenham sido sempre anteriormente saudáveis podem desenvolver uma complicação, afirmou Lockwood.

“Não são apenas as crianças com condições médicas de alto risco que adoecem devido à gripe ou desenvolvem complicações. Pode acontecer a qualquer pessoa, por isso é tão importante proteger-se com a vacinação”, afirma Lockwood.

“Tomar uma vacina contra a gripe é a melhor forma de prevenir a gripe”, referiu Stockwell.

A Academia Americana de Pediatria e o CDC recomendam ambos que as crianças sejam vacinadas a partir dos 6 meses de idade. As crianças de 6 meses a 8 anos que estejam a receber a vacina da gripe pela primeira vez devem receber duas doses com um mês de intervalo. [nota: em Portugal, a vacina da gripe é recomendada a outros grupos de risco e só inclui crianças com doenças crónicas ou imunitárias]

Zoelis continua a recuperar em casa, contou Tejeda.

“O seu apetite está a voltar, e ela está a começar novamente a ficar mais brincalhona”, acrescentou. Embora tenha recuperado de um surto de gripe A, Tejeda optou por completar a série de vacinação de Zoelis e protegê-la contra estirpes adicionais da gripe nesta estação.

Ela recebeu recentemente a sua segunda dose da vacina contra a gripe.

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