Turbulência a bordo de um voo da Singapore Airlines fez esta semana uma vítima mortal. Passageiros que seguiam a bordo relatam o que aconteceu
"O inferno começou": passageiros do voo da Singapore Airlines descrevem pesadelo a mais de 10 km de altitude
por Jessie Yeung, Manveena Suri e Alex Stambaugh, CNN
Os passageiros de um voo da Singapore Airlines, atingido por forte turbulência na terça-feira, descreveram uma queda súbita e dramática quando "o inferno começou" a bordo do Boeing que transportava 229 passageiros e tripulantes.
No início, "o voo estava perfeitamente normal", conta o passageiro Andrew Davies, que viajava para a Nova Zelândia em trabalho e descreve o voo como "bastante suave... não me lembro de qualquer turbulência".
O voo SQ321 estava a voar a cerca de 11 km de altitude (voo Londres-Singapura) quando os dados de localização do avião mostram que este desceu bruscamente antes de subir novamente, repetindo depois a descida e a subida durante cerca de um minuto.
Muitos passageiros estavam a tomar o pequeno-almoço na altura do incidente.
Depois, cerca de nove ou 10 horas após o início do voo de aproximadamente 13 horas, Andrew Davies estava a ver um filme quando viu o sinal do cinto de segurança acender-se e colocou o cinto. "Graças a Deus que o fiz, porque momentos depois de o ter feito o inferno começou", conta ao programa "Erin Burnett OutFront", da CNN.
"Parecia que o avião tinha caído. Provavelmente durou apenas alguns segundos, mas lembro-me perfeitamente de ver sapatos, iPads e iPhones, almofadas, cobertores, talheres, pratos e copos a voar pelo ar e a bater no teto. O senhor que estava ao meu lado tinha uma chávena de café, que foi diretamente para cima de mim e para o teto", explica Davies.
As imagens do avião mostram a cabina em pantanas, com papéis, chávenas e jarros de água espalhados pelo chão e painéis e tubos do teto soltos.
Davies estava sentado na parte da frente do avião e testemunhou alguns dos ferimentos sofridos por dezenas de passageiros - incluindo Geoff Kitchen, o britânico de 73 anos que morreu durante o voo.
"Aquele senhor estava sentado mesmo atrás de mim. Muitas pessoas precisavam de ajuda, mas nós tratámos deste senhor, e eu ajudei a carregá-lo, a tirá-lo do assento e deitámo-lo no chão para que alguns profissionais de saúde pudessem fazer reanimação", explica.
Kitchen foi submetido a massagem cardíaca durante cerca de 20 minutos. No entanto, recorda, "havia muitos gritos" e os ferimentos das pessoas eram evidentes; quando se virou, viu uma passageira com "um grande corte na cabeça e sangue a escorrer-lhe pela cara" e outro passageiro idoso em "grande choque".
Outro passageiro, o estudante Dzafran Azmir, de 28 anos, disse à Reuters que o avião começou a "inclinar-se" e a abanar.
"De repente, houve uma queda muito drástica e todos os que estavam sentados e não usavam cinto de segurança foram lançados imediatamente para o tecto. Algumas pessoas bateram com a cabeça no tecto das cabines de bagagem e amolgaram-no, bateram nos locais onde se encontram as luzes e as máscaras e atravessaram-no".
Azmir acrescentou que tudo foi "muito, muito rápido - e é por isso que acho que ninguém conseguiu reagir". As pessoas não tiveram tempo para reagir, recorda - havia passageiros nas casas de banho do avião e a tripulação ainda estava de pé quando a turbulência começou.
Forte turbulência atinge voo de Londres para Singapura
O voo SQ321 da Singapore Airlines partiu de Londres na segunda-feira às 22h38, hora local, e deparou-se com fortes turbulências durante o trajeto, informou a Singapore Airlines. Pelo menos uma pessoa morreu e várias outras ficaram feridas. O Boeing 777-300ER - com um total de 211 passageiros e 18 tripulantes a bordo - foi desviado para Banguecoque e aterrou às 15h45, hora local.
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O avião foi desviado para Banguecoque após o incidente, que feriu 104 dos passageiros, de acordo com uma atualização à hora de almoço de quarta-feira do Hospital Samitivej Srinakarin, que tratou muitos dos passageiros.
Entre os feridos do voo encontravam-se cidadãos da Austrália, Malásia, Reino Unido, Nova Zelândia, Espanha, Estados Unidos e Irlanda, informou o hospital.
As pessoas que necessitaram de assistência médica foram enviadas para vários hospitais da capital tailandesa, enquanto outras foram atendidas numa clínica no aeroporto. O hospital Samitivej Srinakarin informou que 20 passageiros permaneciam em unidades de terapia intensiva na quarta-feira.
Josh Silverstone, um dos passageiros do voo da Singapore Airlines, disse sentir-se "feliz por estar vivo" quando saía do hospital Samitivej Srinakarin na quarta-feira à noite.
Falando com os jornalistas à saída do avião, o cidadão britânico de 24 anos diz que tinha sofrido um corte no olho e lascado um dente durante a turbulência. Depois do incidente, disse à mãe que estava bem e que, pela primeira vez na vida, comprou um pacote de Wi-Fi a bordo.
Silverstone descreve o rescaldo da aterragem de emergência em Banguecoque, dizendo que começou a vomitar, o que o levou a procurar cuidados médicos.
De acordo com Silverstone, ainda há vários passageiros a serem tratados no hospital, muitos aparentemente com lesões na coluna e em muito pior estado físico do que ele.
Silverstone disse aos jornalistas que estava "a ir para Bali para ver os filhos" quando o horror no SQ321 aconteceu, mas ainda espera chegar lá.
Dos 211 passageiros e 18 membros da tripulação a bordo do voo original, 143 foram transportados num voo de substituição para Singapura, onde aterraram na manhã de quarta-feira, de acordo com o CEO da Singapore Airlines, Goh Choon Phong, numa mensagem de vídeo divulgada no Facebook.
Os restantes 79 passageiros e 6 membros da tripulação ainda se encontram em Banguecoque, incluindo os que estão a receber cuidados médicos e os seus familiares.
Kittipong Kittikachorn, diretor-geral do aeroporto de Banguecoque, informou que as investigações preliminares sugerem que Kitchen sofria de um problema cardíaco e que o processo de autópsia está em curso.
Vários passageiros tinham os braços partidos, mas a maioria dos ferimentos eram cortes e contusões.
Goh, o diretor executivo, apresentou as suas condolências à família e aos entes queridos de Kitchen, afirmando que a companhia aérea estava "profundamente triste com este incidente" e que "lamentava muito a experiência traumática" que os passageiros sofreram.
A companhia aérea está a cooperar com as autoridades na investigação.
O Ministério dos Transportes de Singapura está a investigar o incidente, tendo afirmado na terça-feira que estava em contacto com os seus homólogos tailandeses e que iria enviar investigadores para Banguecoque. O Conselho Nacional de Segurança dos Transportes dos EUA também está a enviar pessoal para Singapura para ajudar na investigação, incluindo um representante do conselho e quatro consultores técnicos.
Angie Puranasamriddhi, Ivan Watson e Duarte Mendonca contribuíram para esta reportagem.