Rafa e outros: quanto vale a surpresa de Portugal?

20 mai 2014, 10:45

Jovem foi a grande novidade de Paulo Bento, mas chega com mais minutos na seleção do que Custódio em 2012, por exemplo

Há de tudo, para responder à questão do título. Nestes jogadores que foram chamados quando ninguém ou poucos esperavam, há quem tenha chegado à melhor equipa do torneio. Outros houve que deixaram adeptos contentes com a justiça da chamada, mas que nem sequer se sentaram no banco. Rafa já não é um nome estranho na Seleção Nacional, mas não deixa de ser a grande surpresa nos 23 eleitos para o Campeonato do Mundo de 2014, anunciados nesta segunda-feira por Paulo Bento.

Rafa tem um jogo pela Seleção: mas há quem tenha estado num Europeu e num Mundial com menos



A
MF Total recuou no tempo e fez a pesquisa de 2000 até agora. Desde o Europeu da Bélgica/Holanda para cá, Portugal tem estado nas grandes competições internacionais de forma ininterrupta. Todos os selecionadores, de Humberto Coelho a Paulo Bento optaram por, nas listas finais, atirar nomes que pouca gente esperava. 

O PERFIL DE RAFA SILVA

Costinha, por exemplo. Saiu como um futebolista conceituadíssimo quando se retirou dos relvados como jogador. Mas nem sempre foi assim.

O médio do Mónaco tinha poucas internacionalizações quando entrou na chamada final de Humberto Coelho para o Euro 2000. Na seleção, tinha uma partida: em 1998. Ainda assim, o selecionador apostou nele no início do ano civil. Quando surgiu nos eleitos, Costinha já tinha duas internacionalizações, num processo um pouco idêntico ao de Rafa, neste aspeto. Após aquela internacionalização em 1998, jogou 15 minutos em março de 2000, frente à Dinamarca. E 32 contra o País de Gales, quando a lista era já conhecida.

Assim, quando entrou em campo frente à Roménia, em pleno Euro 2000, Costinha tinha apenas 70 minutos na seleção. Nesse jogo, porém, estreou-se a marcar: um golo nos descontos frente aos romenos valeu a passagem de Portugal aos quartos de final. Só por isso, Humberto Coelho ganhou a aposta.

A história de Kenedy é bem mais curta. Jogador do Marítimo em 2002, o extremo tinha passado no Benfica, no FC Porto e no PSG. Uma época em grande nos madeirenses fez António Oliveira convocá-lo para o Mundial 2002. O público em geral concordou. Mas Daniel Kenedy nem um minuto fez, por causa de um controlo antidoping positivo. A surpresa de Oliveira foi um pouco como a esperança portuguesa nesse Campeonato do Mundo: acabou cedo.

Hoje, chamar-lhe-iam de louco. Provavelmente, na altura também. Mas até um treinador reconhecidamente teimoso como Scolari deu o braço a torcer. E a maior surpresa até foi essa. Ainda assim, quando o brasileiro anunciou o nome de Maniche para o Euro 2004, o país ficou espantado. Aliás, não foi só o país, o benfiquista Miguel também ficou, mesmo com as explicações de Scolari.

O médio do FC Porto tinha sido um dos que foram afastados após o 3-0 sofrido perante a Espanha, em Guimarães, a 6 de setembro de 2003. Maniche só voltou a jogar pela seleção já na preparação para o Euro 2004.

No Campeonato da Europa, foi uma das estrelas do torneio. Foi sempre titular e só não jogou três minutos da prova: saiu aos 87 frente à Holanda, já depois de ter apontado um golo nessas meias-finais. Tinha feito outro à Rússia. No final, era impossível não ser escolhido para a equipa-tipo do Campeonato da Europa realizado em Portugal. Numa comparação com agora, as diferenças para Rafa são quase todas. Maniche era um jogador conceituado, campeão europeu pelo FC Porto de Mourinho.

No Mundial 2006, três jogadores foram noticiados como as «principais surpresas» de Scolari: Bruno Vale acabou trocado por Paulo Santos, Ricardo Costa fez um único jogo, mas Hugo Viana, longe de ser um desconhecido, foi opção a ter em conta no Campeonato do Mundo da Alemanha. Ou seja, duas das três grandes novidades redundaram, no relvado, em quase zero, com Costa a ser utilizado apenas no jogo de atribuição do terceiro lugar. 

Lembra-se onde foi a estreia de Ruben Amorim?

 

Quanto a Viana: tinha sido o chamado em 2002, quando Kenedy partiu da seleção. Foi convocado depois de ter sido campeão pelo Sporting, mas em 2006 estava no Valência. Curiosamente, fez mais jogos na seleção antes de ser surpresa em 2006 do que depois. Mas nesse Mundial, Scolari utilizou-o sete minutos frente a Angola e colocou-o em campo aos 74 com a Inglaterra. Na decisão por penáltis, atirou ao poste. Viana nunca seria um titular naquela seleção, mas os poucos minutos que esteve em campo frente a Angola e os vários frente a Inglaterra deram contribuição para dois resultados históricos de Portugal, que chegou ao quarto lugar nesse Mundial.

Jorge Ribeiro. Se não se lembra, o lateral-esquerdo do Boavista tinha feito uma época fantástica pelos do Bessa. Tanto assim foi que, ligado ao Benfica, o clube da Luz o resgatou para a temporada seguinte.

O irmão de Maniche tinha aparições esporádicas na Seleção Nacional: uma em 2002, duas em 2004, outras tantas em 2005. Em outubro de 2007, Scolari deu-lhe oportunidade frente ao Azerbaijão, numa partida de apuramento. Jorge Ribeiro voltaria a jogar já na preparação para o Euro 2008, nos particulares com Itália e Grécia. Entre Baku e esse jogo com os helénicos somou 51 minutos. Mais dois do que aqueles que jogou no Campeonato da Europa na Áustria/Suíça. Frente a esta seleção, entrou para o lugar de Paulo Ferreira. E aí acabou a aventura de Jorge Ribeiro na seleção. Pelo menos até hoje.

A grande surpresa para o Mundial 2010 foi a ausência de João Moutinho. E nem mesmo quando Nani se lesionou e teve de ser substituído o médio foi chamado por Carlos Queiroz. Com alguma surpresa, a escolha recaiu em Ruben Amorim. 

Costinha foi uma aposta ganha: no Euro 2000 e daí em diante

  

No início, Queiroz chamara 24 jogadores. Zé Castro ficaria de fora de um Mundial onde também surgiu Daniel Fernandes. Guarda-redes do campeão nacional, Quim ficou de fora e o guardião do Iraklis foi na vez do benfiquista. Ainda assim, o clube da Luz teve outro campeão na África do Sul.

Amorim tinha jogado quer a médio, quer a lateral-direito e foi convocado com a equipa já em África. Como correu? Ruben Amorim entrou a cinco minutos do fim do jogo com a Costa do Marfim. Foi a estreia absoluta do médio do Benfica na seleção portuguesa! Amorim lesionou-se depois e não jogou o resto do Campeonato do Mundo 2010. Terá valido a aposta de Queiroz naquela altura?

Entremos então na era Paulo Bento. O selecionador no ativo já tomou decisões bem mais surpreendentes do que a chamada de Rafa Silva. Há dois anos, Miguel Lopes e Custódio nunca tinham sido chamados pelo treinador. Mas entraram na lista final para o Euro 2012.

O lateral do Lyon, na altura no Sp. Braga, não jogou qualquer minuto na Polónia/Ucrânia. Outro arsenalista, Custódio teve minutos no Campeonato da Europa. Apesar de uma derrota amarga contra a Turquia, na Luz, Paulo Bento gostou do comportamento do médio do Sp. Braga nesse dia. 

Jorge Ribeiro ainda chegou a jogar no Euro 2008      



Quando Raul Meireles esgotou-se frente à Holanda, no jogo que decidiu a passagem aos quartos de final, Paulo Bento lançou Custódio. Voltou a fazê-lo frente à Rep. Checa e nas meias-finais com a Espanha. Num grupo de 23, em que é difícil ter minutos, Custódio foi várias vezes opção. Certamente, por aquilo que Paulo Bento gostou de ver na preparação para o Europeu, frente à Turquia e que continuou a ver já no Euro.

Portanto, chegamos a Rafa. Tem uma internacionalização no currículo. É quase tanto como Costinha em 2000 e mais do que Custódio e Miguel Lopes em 2012. É bem menos do que Maniche em 2004.

Na temporada, Rafa Silva fez 33 jogos pelo Sp. Braga, entre Liga, Taça da Liga, Taça de Portugal e II Liga. Tem 2006 minutos no clube e três golos. Lesionou-se logo a seguir a representar a Seleção Nacional e esteve mais de um mês sem jogar. Realizou 439 minutos nos seis jogos após lesão.

Aliás, a escassez de minutos nas unidades ofensivas é uma evidência. Apenas Hugo Almeida (2486 minutos), Varela (3079) e Cristiano Ronaldo (3413) atuaram ao longo de toda a temporada. Éder (921), Vieirinha (796), Postiga (1262) e Nani (740) estão no campo oposto. Rafa é o quarto com mais tempo de jogo. Mas também é verdade que pode jogar no meio-campo. Paulo Bento usou esse argumento na justificação.

Para acabar, Rafa Silva é um dos sete futebolistas que entram em relação aos convocados para o Euro 2012. Rolando e Miguel Lopes saíram na defesa para dar lugar a Neto e André Almeida; Hugo Viana, Custódio e Rúben Micael estiveram no Campeonato da Europa, agora cedem posto a Ruben Amorim, William Carvalho e a Rafa.

Na frente, entra Éder por Nélson Oliveira e Vieirinha por Ricardo Quaresma, uma troca que gera outra discussão,

Seleção

Mais Seleção

Patrocinados