As duas formas mais eficazes de proteger os mais novos das infeções respiratórias

5 nov 2023, 22:00
Criança doente (Freepik)

Sim, é possível proteger os mais novos das infeções respiratórias, seja do contágio do vírus ou do impacto do mesmo no organismo. O pediatra Manuel Ferreira de Magalhães explica como (e deixa ainda alguns conselhos para as escolas)

O cenário repete-se todos os anos assim que o frio começa a apertar: uns espirros aqui, uns picos de febre ali, apatia, tosse e um diagnóstico. A ‘época’ das infeções respiratórias está aí, mas há boas notícias. É possível proteger os mais novos e tudo começa com uma dupla proteção: a interna e a externa.

Segundo Manuel Ferreira de Magalhães, pediatra da Unidade de Pneumologia Pediátrica do Centro Materno Infantil do Norte e no Hospital Lusíadas, a proteção externa - aquela que depende da ação de todos - continua a ser o melhor escudo-protetor, seja de crianças ou adultos. E é simples colocá-la em prática: para o especialista, os simples hábitos como lavar as mãos, tapar a boca ao espirrar, ficar em casa quando há febre e sintomas respiratórios e usar máscara quando se tem de sair, são fundamentais para bloquear a ação dos vírus respiratórios.

As únicas medidas que protegem verdadeiramente as crianças das infeções [respiratórias] são as medidas de higiene respiratória que ficaram conhecidas durante a pandemia covid-19”, explica o médico.

Quanto à proteção interna, Manuel Ferreira de Magalhães refere que há “medidas que melhoram a resposta do organismo, ajudando a combater melhor as infeções”, que é como quem diz, ajudam a que a doença causada pelo vírus seja mais ténue. E aqui há muitos fatores em jogo: alimentação, sono e descanso, atividade física e calma. E a vacinação, claro, aquele fator que o especialista diz mesmo que é “a segunda medida de saúde pública que mais salva vidas em todo o mundo”.

“Uma alimentação correta, variada e equilibrada tem efeitos positivos no funcionamento do sistema imune”, começa por explicar o pediatra, adiantando-se a assegurar que “não são necessários suplementos alimentares”. “Os estudos científicos falham mesmo em provar algum benefício deste tipo de suplementos. O que é importante é manter uma alimentação diversificada, variada e com alimentos da natureza e não os alimentos processados”, esclarece.

Outros aspetos que devem fazer parte dos hábitos de proteção é ter “um sono tranquilo e rotinas de descanso saudáveis”, pois “ajudam a reduzir biomarcadores de stress e melhoram a resposta imune”. Também a atividade física, diz-nos, pode fazer a diferença: “há estudos que indicam que atividade física diária melhora a performance do sistema imune, especialmente dos glóbulos brancos”. E no meio do caos que o outono e o inverno podem ser para muitos pais com filhos constantemente doentes, há que manter a “calma e tranquilidade”. “Uma vida com rotinas estabelecidas e tranquilidade parece favorecer a resposta imune”, adianta. 

Há crianças mais suscetíveis aos vírus respiratórios? 

Sim. “As crianças que têm patologia respiratória são mais suscetíveis”, incluindo-se aqui as que têm, por exemplo, asma ou rinite. 

“Para reduzirem o dano destas infeções, estas crianças devem ter a sua doença de base controlada com a medicação adequada. De igual forma, crianças com antecedentes de outras doenças crónicas ou que nasceram prematuros são mais suscetíveis”, esclarece o pediatra.

No entanto, de um modo geral, as crianças acabam por ser mais suscetíveis aos vírus respiratórios e o mais recente estudo do Instituto Nacional de Saúde Dr. Ricardo Jorge, Programa Nacional de Vigilância da Gripe: relatório da época 2022/2023, mostra isso mesmo: a atividade gripal neste período “foi de baixa intensidade, tendo sido verificada a epidemia de gripe mais precoce ocorrida nas últimas épocas”, no entanto, foi “nas crianças entre os cinco e os 14 anos que se detetou a maior percentagem de casos de gripe (33%)”. Também o vírus sincicial respiratório ‘atacou’ com mais força no passado inverno, tendo um estudo revelado que este vírus é responsável por 6,7% das hospitalizações de crianças até aos cinco anos.

Para contrariar estes cenários, o pediatra Manuel Ferreira de Magalhães aconselha ainda alguns cuidados dentro de casa, como “retirar sapatos, limpar o nariz se estiver visivelmente obstruído e lavar as mãos”, sendo que, destaca o especialista, manter a casa arejada é também um fator determinante. “A casa deve estar bem arejada de forma a poder renovar o ar e limitar a permanência de vírus respiratórios nos espaços fechados”, vinca.

É preciso ter um cuidado especial com os bebés?

“Sim, os bebés pequenos correm o risco de ter maior atingimento pulmonar com ocorrência de bronquiolites que levam a múltiplos internamentos e diminuição da qualidade de vida de todas as famílias”, afirma Manuel Ferreira de Magalhães. 

Uma vez que as bronquiolites podem ser prevenidas - como já explicamos aqui -, “neste sentido, quem tem bebés deverá redobrar os cuidados”, adverte o médico, que deixa aos pais e cuidadores “uma das mensagens chave: quem tem bebés pequenos não os leve a passear para espaços públicos fechados” nesta altura do ano, em que a circulação, sobretudo, o vírus sincicial respiratório é maior. 

“Os vírus estão em circulação e uma constipação numa criança mais velha ou adulto pode significar uma bronquiolite greve num bebé pequeno”, frisa. 

E qual o papel das escolas?

Uma vez que é em ambiente escolar que as crianças passam grande parte do seu tempo diário, o médico destaca que é também preciso adotar medidas nestes espaços, sendo que aquelas que se aplicam dentro de casa devem ser igualmente as primeiras a ser tomadas.

Uma coisa essencial em termos de saúde pública será capacitar as escolas para proporcionarem aos seus alunos salas de aula mais arejadas, assim como, mais tempo de exterior, ao ar livre”, afirma Manuel Ferreira de Magalhães, defendendo que “independentemente da temperatura ambiente é urgente que esta mensagem passe”. 

“Ter as salas de aulas bem arejadas e tempo de brincadeira e lazer ao ar livre durante o ano inteiro e, principalmente durante o inverno, são duas medidas que vão melhorar a saúde respiratória das crianças, com o potencial de reduzir infeções respiratórias”, assegura. 

Além disso, o médico diz que cabe também aos pais zelar pela capacidade de proteção e prevenção das escolas e tudo começa com o simples facto de não deixar a criança ir às aulas se estiver febril. “Uma criança com febre não deverá ir à escola em nenhuma circunstância. Em relação aos outros tipos de sintoma, será muito variável, depende da idade, do tipo de sintomas e da sua intensidade”, conclui.

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