Morte de ministro russo em avião é o último incidente inexplicável a envolver elites de Moscovo - 13 mortos num ano

CNN , Ivana Kottasová, Josh Pennington e Anna Chernova
23 mai 2023, 17:37
Moscovo (EPA)

Um político russo morreu de causas ainda desconhecidas depois de ter adoecido num avião no sábado, a última de uma série de mortes misteriosas entre as elites russas.

O vice-ministro da Ciência e do Ensino Superior da Rússia, Pyotr Kucherenko, 46 anos, morreu quando regressava de uma viagem a Cuba, segundo o seu ministério.

"Kucherenko sentiu-se mal quando se encontrava num avião com uma delegação russa que regressava de uma viagem de negócios a Cuba. O avião aterrou na cidade de Mineralnye Vody, onde os médicos tentaram prestar assistência", indicou ainda ministério num comunicado publicado no seu site, acrescentando que não foi possível salvar o governante.

A família de Kucherenko disse que a sua morte pode ter sido causada por um problema cardíaco, mas uma autópsia será realizada esta quarta-feira, de acordo com a emissora estatal Zvezda.

Em declarações aos jornalistas na terça-feira, o porta-voz do Kremlin, Dmitry Peskov, disse não ter conhecimento da causa de morte de Kucherenko.

O jornalista Roman Super, que fugiu da Rússia logo após a invasão da Ucrânia em fevereiro passado, disse no seu canal de Telegram que tinha falado com Kucherenko "poucos dias" antes de fugir. Disse que Kucherenko temia pela sua segurança e encorajou-o a deixar a Rússia.

"Salva-te a ti e à tua família. Sai o mais depressa possível. Não consegues imaginar o grau de brutalização do nosso Estado. Dentro de um ano, não reconhecerás a Rússia. Estás a fazer a coisa certa", avisou Kucherenko, segundo Super.

O vice-ministro russo da Ciência e do Ensino Superior, Pyotr Kucherenko, morreu quando regressava de Cuba. Ministério da Ciência e do Ensino Superior da Rússia

Super disse que perguntou a Kucherenko se ele também queria deixar a Rússia, ao que o ministro respondeu: "Já não é possível. Eles tiraram-nos os passaportes. E não existe um mundo em que eles possam estar satisfeitos com o vice-ministro russo depois desta invasão fascista."

O jornalista acrescentou que Kucherenko lhe contou que estava a tomar antidepressivos e tranquilizantes, citando-o como tendo dito: "Bebo-os às mãos cheias. E não ajuda muito. Quase não durmo. Sinto-me péssimo. Somos todos reféns. Ninguém pode dizer nada. Caso contrário, somos imediatamente esmagados como insetos."

Foi noticiado que altos funcionários russos no Kremlin e nas regiões foram proibidos de abandonar os seus postos. A IStories, uma agência noticiosa online de investigação sediada fora da Rússia e dirigida pelo conhecido jornalista Roman Anin, informou na semana passada que vários governadores, funcionários das forças de segurança e pessoas da administração presidencial tinham tentado demitir-se mas não tinham sido autorizados. Peskov rejeitou a notícia, considerando-a falsa.

Mortes misteriosas acumulam-se

A morte de Kucherenko não é a primeira morte russa inexplicável a suscitar interesse.

No último ano, pelo menos 13 empresários russos de renome morreram por suicídio ou em acidentes inexplicáveis, seis dos quais ligados às duas maiores empresas de energia da Rússia.

Pavel Antov, magnata russo das salsichas que se tornou advogado, morreu na Índia em dezembro, depois de ter caído do terceiro andar do seu hotel, segundo a polícia indiana.

A morte de Antov ocorreu depois de o seu amigo e companheiro de viagem Vladimir Budanov ter morrido de ataque cardíaco no dia do 65.º aniversário de Antov, dois dias antes, de acordo ainda com a polícia. Budanov tinha 61 anos e sofria de um problema cardíaco preexistente, disseram as autoridades, acrescentando que acreditavam que a morte de Antov tinha sido um suicídio.

Alexander Buzakov, chefe de um grande estaleiro russo especializado na construção de submarinos não nucleares, morreu repentinamente em dezembro, sem que as autoridades tenham indicado a causa da morte, informou a agência noticiosa Reuters.

Anatoly Gerashchenko, antigo reitor do Instituto de Aviação de Moscovo, morreu num acidente não especificado em setembro, de acordo com um comunicado do instituto.

O presidente da Lukoil, Ravil Maganov, morreu no início de setembro após cair da janela de um hospital em Moscovo, segundo a TASS.

Em meados de setembro, o empresário russo Ivan Pechorin, que era o principal gestor da Far East and Arctic Development Corporation, foi encontrado morto em Vladivostok, segundo a imprensa estatal russa. Pechorin afogou-se a 10 de setembro perto do Cabo Ignatyev, em Vladivostok, informaram os meios de comunicação regionais.

Outro gestor de topo da Lukoil, Alexander Subbotin, foi encontrado morto perto de Moscovo em maio, depois de ter visitado um xamã, informou a TASS.

*Tim Lister, Jennifer Hause e Swati Gupta contribuíram para este artigo

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