Leite em pó e farinha: porque são tão importantes no encontro entre Putin e Kim Jong-un

12 set 2023, 14:43
Kim Jong-un e Vladimir Putin

Por entre toda a "paranoia securitária", há uma parte "muito difícil" do acordo que vai ser firmado entre ambos mas também uma parte mais "prosaica"

O líder norte-coreano, Kim Jong-Un, chegou esta terça-feira a Vladivostok, na Rússia, onde se deve reunir com o presidente russo, Vladimir Putin, para discutir um possível acordo de fornecimento de armamento da Coreia do Norte. Espera-se que o encontro aconteça ainda esta terça-feira, à margem do Fórum Económico de Leste, mas não há certezas ainda acerca do dia, do horário ou sequer da localização.

Tiago André Lopes, especialista em política internacional e comentador da CNN Portugal, encara estas incertezas como a possibilidade de “os pormenores do acordo ainda estarem a ser ultimados” e Putin e Jong-un reunirem-se apenas para firmar o documento.

“Não interessará à Rússia ter uma folga de equipamento para um curto prazo, para dois ou três meses. Não interessa um acordo de curta duração, mas antes um acordo de fornecimento a um ano ou dois. A parte mais difícil do acordo é que a Coreia do Norte quer que a Rússia deixe de ser uma força que apoia as sanções a Pyongyang. E a diplomacia russa não deixa claro que Putin esteja disposto a ceder nesse aspeto”, considera Tiago André Lopes.

Já Helena Ferro Gouveia olha para estas incertezas acerca da data, hora e local do encontro como um reflexo das “paranoias securitárias” de que padecem Kim Jong-un e Vladimir Putin. “Acredito que o acordo já esteja finalizado. Quando dois líderes mundiais desta envergadura se encontram, há um trabalho prévio da diplomacia”, justifica.

O acordo que pode sair do encontro entre os líderes russo e norte-coreano pode ter implicações no decurso da guerra, já que permitirá à Rússia abastecer os paióis. “Para a Rússia, pode ter um efeito facilitador e aumentar a pressão militar sobre a Ucrânia”, resume Tiago André Lopes.

Sónia Sénica, também comentadora da CNN Portugal, concorda que um acordo entre Coreia do Norte e Rússia vai permitir a Moscovo “reforçar o esforço de guerra na Ucrânia” e reflete o lado imprevisível do líder russo. “A imprevisibilidade de Putin vai ao ponto de utilizar todos os meios disponíveis, todos os atores internacionais que possam configurar uma espécie de aliança”, analisa, acrescentando que “Putin precisa do seu homólogo norte-coreano”.

Mas a visita de Kim Jong-un à Rússia interessa também a Pyongyang, como lembra Helena Ferro de Gouveia: “Um dos objetivos de Putin é conseguir armamento e munições de artilharia da Coreia do Norte. Do lado da Coreia do Norte, a questão é muito pragmática e prosaica – a obtenção de leite em pó e farinha. Há uma dependência muito grande alimentar por parte da Coreia do Norte em relação à Rússia. Além disso, há interesses em comum. A Coreia do Norte tenta fazer com que trabalhadores norte-coreanos consigam trabalhar na Rússia, o que corresponde a uma necessidade russa. A economia de guerra faz com que a Rússia tenha uma grande necessidade de trabalhadores”, acrescenta a comentadora da CNN Portugal.

Para Helena Ferro de Gouveia, o Ocidente deve estar atento a estas movimentações diplomáticas, já que há um receio de que a Rússia possa fornecer tecnologia e conhecimento que permita à Coreia do Norte “desenvolver a indústria do armamento nuclear”. Ainda assim, a comentadora identifica um pormenor que pode descansar os aliados da Ucrânia: “À Rússia não interessa ter na Coreia do Norte uma potência nuclear”.

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