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Vamos lá falar claro, Pepe: Respeito? Mas quem é que tem o comportamento típico de pressionar os árbitros, ontem, hoje e…sempre?

6 fev, 08:37

Rui Santos escreve sobre a reação do “capitão” do FC Porto, Pepe, após o empate frente ao Rio Ave. E diz que isso faz parte de uma estratégia de confronto para gerar vitimização

Toda a razão, Pepe: a marca FC Porto precisa de ser mais bem tratada.

O ponto é mesmo esse: é preciso mais RESPEITO por aquilo que o FC Porto significa para o País e por aquilo que o FC Porto, através do futebol, dá ao País.

Esse RESPEITO, no entanto, não se decreta; conquista-se.

O elogio é devido, mas a crítica à Crítica até é legítima se percebermos que ela é acompanhada de algum laivo, mesmo que pequeno, de autocrítica.

O RESPEITO conquista-se através das vitórias, na Europa e no território nacional, mas conquista-se também através dos valores e da imagem que se projecta a partir de dentro.

Quando se tem tudo para a afirmação do exemplo e, ao invés, se faz o aproveitamento da marca para gerar conflito, divisões e, com elas, criar supremacias, sobretudo quando é factual que esse aproveitamento é feito através da estratégia de confrontação para gerar vitimização, ficamos com a sensação de que esse pedido de respeito inclui a mensagem segundo a qual o acto de atirar a pedra está amplamente justificado.

Não está.

Pepe,

Sim, o FC Porto merece RESPEITO — e isso não tem discussão —, mas, até prova em contrário, fazemos todos parte do mesmo planeta. Isto está tudo errado: foram tantos anos de banalização do impedimento das liberdades das pessoas que tudo parece normal e uma cabala.

Não, Pepe.

Essa é a discussão que importa ter: deixar a marca FC Porto nas mãos de quem defende a teoria do isolamento, da não inclusão e da perseguição do centralismo ou perceber o potencial de crescimento da  marca FC Porto e dar-lhe asas no sentido de uma maior abertura ao Mundo e ao País, numa perspectiva inclusiva, de exemplo social, sobretudo para a juventude, não discutindo obviamente o direito de se afirmar num plano de igualdade com todos os outros competidores?

RESPEITO?

Pepe, vamos lá a ver se nos entendemos naquilo que pode e deve ser a importância de um “capitão” de equipa: quem é que vai para cima dos árbitros, quem é que os tenta condicionar, dentro e fora do campo, numa prática que não é de hoje nem de ontem, é de sempre?

Quem é que não enaltece os feitos do FC Porto? Quem é que não enaltece por exemplo a importância do “capitão” na óptica das lideranças do FC Porto? Quem é que mal trata a parte da comunicação social que não se deixa capturar?

O problema não é esse. O problema é de quem se aproveita negativamente da pujança e da respeitabilidade do emblema para impor À FORÇA a forma de rasgar o caminho até à vitória.

Esse pedido de validação da marcha das botas cardadas, da difusão do medo e da ameaça, através das claques ou de uma comunicação que isola, mente e expõe as pessoas a manifestações de violência, não é, em si mesmo, um abuso e uma falta de respeito?

Sei, Pepe, que a equipa tentou chegar à vitória no jogo com o Rio Ave. Mas sei, também, sabemos todos, que, ao não se conseguir o objectivo, lá vieram as queixas do costume: o árbitro que não concedeu mais 1 minuto de compensação em cima do tempo extra de 7 minutos que foi cumprido pela equipa de arbitragem; e a asserção do costume segundo a qual o FC Porto não é respeitado.

Quer dizer: a pressão do costume acompanhada da vitimização do costume.

A equipa não tem nenhuma responsabilidade pela perda, esta época, de 7 pontos no Dragão, frente a equipas com menos recursos como são o Arouca, Estoril e Rio Ave, marcando nesses 3 jogos apenas 1 golo?

Pepe, vamos ser claros:

Quando a equipa de futebol, no final dos jogos, presta vassalagem e não se importa de ser vexada pela claque dominante, onde fica o RESPEITO e o amor-próprio que tanto se reclama?

Quando o Pepe vê elementos da claque dominante envolvidos no mínimo em suspeitas de crimes graves isso, para si, não tem nenhum significado? E para si colegas de profissão que já deram muito ao FC Porto, como o FC Porto também muito lhes deu - cito, por exemplo,  Jorge Costa, Maniche e Nuno Valente, para além do ex-treinador André Villas-Boas, não merecem RESPEITO? Porquê? Por pensarem de maneira diferente? Há portistas de primeira e portistas de segunda?

Reparámos, todos, Pepe, que após o empate com o Rio Ave foi você, como “capitão”, embrulhado numa bandeira, digamos assim, a falar DO futebol e não DE futebol. A passar a tal mensagem política do costume.

Não utilize a marca FC Porto para defender o unanimismo e a narrativa oficial.

Acredite que viver em efectiva democracia é muito melhor. Se existir RESPEITO.

RESPEITO é mesmo a palavra de ordem!

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