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A Mensagem em redor da Operação Pretoriano: o criador não pode ir contra a criatura. E é isso que mais penaliza o FC Porto e o eventual desejo de libertação

14 fev, 18:15

A “Operação Pretoriano” e as conclusões que se podem ler através do despacho judicial que justifica as medidas de coação aplicadas, com prisão preventiva nomeadamente para o líder da claque “Super Dragões” apenas vieram confirmar uma percepção que genericamente todos tinham mas que genericamente quase todos consentiam ou ignoravam.

Entre os quase todos incluo, acima de tudo, quem sempre patrocinou a génese da intervenção da claque - o presidente Pinto da Costa e os titulares dos órgãos sociais que fecharam os olhos aquilo que se passava mesmo à frente do nariz, mas também os sucessivos Governos, a generalidade dos partidos políticos, a FPF, a Liga e franjas significativas da comunicação social.

O despacho do juiz não deixa dúvidas de que a lamentável AG de 13 de Novembro, decisiva no desnudamento de uma realidade que se adensou durante anos a fio, relativamente ao condicionamento das liberdades através de diferentes mecanismos de violência, foi orquestrada entre — e cito passagem do despacho judicial — “elementos associados ao Clube e elementos da claque Super Dragões” (fim de citação)

As medidas de coação decretadas pelo juiz de instrução criminal, três das quais privativas da liberdade, não provocaram até agora nenhum tipo de reação nem oficial nem oficiosa por parte nem do presidente do FC Porto, nem do presidente da AG, Lourenço Pinto  (no mínimo deveria ter-se demitido, como assinalei no momento, ao permitir e consentir, com as os efeitos decorrentes, que uma Assembleia que deveria ser conduzida por ele fosse totalmente condicionada e controlada pela claque), nem de nenhum titular de cargos dos órgãos sociais do clube, o que atesta a extensão do compromisso e da indiferença perante o “escândalo público”.

Pior ainda: no dia da apresentação a sua recandidatura a mais um mandato de 4 anos, o presidente do FC Porto fez questão de enviar um abraço de solidariedade a Fernando Madureira, optando por fazer críticas aos que neste momento se lhe opõem com um projecto alternativo.

É aqui que se intercepta a questão essencial: anunciando um “FC Porto renovado” - e neste passo ninguém interpretou o anúncio num enquadramento de ironia de cartaz -, como é que Pinto da Costa não aproveitou o ensejo para colocar a sua liderança acima de outras lideranças?

A resposta parece fácil: porque não pode.

Porque se deixou tomar pelo poder que os Super Dragões foram construindo e desenvolvendo desde que se constituíram como a “guarda pretoriana” do presidente  — e também em nome de uma ideia de crescimento — desde o Apito Dourado, há 20 anos.

O negócio dos bilhetes parece enquadrar-se numa lógica de compensação de uma espécie de “serviço inestimável” (assim considerado), legitimado visivelmente pelo apoio da claque nos jogos realizados pelo FC Porto, dentro e fora do Dragão — e também no domínio das diversas modalidades.

Estamos, pois, a falar de poder.

De um poder muito forte, que à maior parte condicionou.

De um poder excessivo que se foi construindo, aliás, em diversas dimensões, dentro e na periferia do clube.

Desde logo através das sucessivas reeleições de Pinto da Costa: alguém acredita agora que, no passado, alguma vez estiveram reunidas condições para a realização de eleições livres?

Independentemente dos méritos desportivos que poderiam levar os sócios a querer manter Pinto da Costa na presidência, quem é que poderia aspirar a governar o FC Porto num clima de liberdade e normalidade em democracia?

Alternância democrática? Expliquem-me como… Impossível!

Na verdade, a inação de Pinto da Costa e dos seus mais diretos colaboradores perante a ação ilícita da claque - com fortes danos reputacionais para a imagem do clube - explica-se através da verificação, agora mais fácil de fazer perante a compreensão pública, de que os Super Dragões sempre foram um dos pilares de uma estratégia de permanente confrontação.

Confrontação até interna, repare-se, sempre que os resultados desportivos ficassem aquém dos objectivos.

Estamos a falar, pois, de uma lógica de poderes excessivos, replicado por exemplo no poder excessivo do treinador (que muitas vezes aparentou ser treinador-presidente, treinador-administrador, treinador-líder, tantas vezes crítico da própria SAD, sem qualquer prurido ou contenção).

O clima pré-eleitoral não justifica nem a indiferença nem o silêncio perante os efeitos já conhecidos da Operação Pretoriano.

É isso que custa ver num clube com a importância e representatividade que deve ter o Futebol Clube do Porto.

Minguado pela força de poderes excessivos e ainda por algumas  “elites” (passe a expressão) que continuam a sorrir perante os desmandos da criatura e do seu criador.

O FC Porto-instituição não merece isto.

Libertação: sim ou não?

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