Perda de gelo marinho sem precedentes mata cerca de 10 mil pinguins-imperadores na Antártida

CNN Portugal , ARC
25 ago 2023, 20:02
Pinguim-imperador (foto: Wolfgang Kaehler/LightRocket v/ Getty Images)

Espécie corre risco de extinção

2022 foi um “fracasso catastrófico da reprodução” para os pinguins na Península da Antártida. Nenhuma cria de quatro colónias de pinguins-imperadores do mar de Bellingshausen sobreviveu na primavera do ano passado devido a perdas sem precedentes de gelo marinho. Eram cerca de 10 mil crias.

É a conclusão de um estudo publicado na revista Nature Communications Earth & Environment na quinta-feira, que analisou cinco colónias desta espécie nesse mar. As crias, que ainda não tinham penas impermeáveis e que por isso não eram também independentes, podem ter caído à água com a quebra do gelo ou podem “andar à deriva nos blocos e os adultos perdem-nos e morrem à fome”, explica à CNN Internacional o coautor do estudo Norman Ratcliffe.

Esta “perda maciça”, como lhe chama o biólogo de aves marinhas do British Antartic Survey, é o primeiro incidente do género. Em causa está o desaparecimento do gelo marinho provocado pelas alterações climáticas e, em especial, pela subida das temperaturas globais.

O gelo marinho, que é essencial para a reprodução e crescimento das crias, quebrou-se mais cedo do que o habitual em 2022, dizem os investigadores. Através de imagens de satélite, os especialistas registaram uma perda total do gelo em novembro. Essas mesmas imagens mostram normalmente manchas pretas que representam os pinguins, mas no ano passado a realidade foi outra: não existiam manchas pretas, o que significa que os animais não sobreviveram.

Este incidente é também, de acordo com Norman Ratcliffe, “um sinal de alarme precoce” para a extinção da espécie. “Há cada vez mais provas de que os pinguins-imperadores podem mesmo extinguir-se diretamente devido à perda de gelo marinho resultante do aquecimento do nosso planeta”, garante ainda Cassandra Brooks, professora assistente da Universidade do Colorado, que tem feito investigações sobre a espécie e que garante que a “janela da sobrevivência” está “a estreitar-se”.

Os alarmes têm-se intensificado nos últimos anos, já que os animais não têm outro sítio para onde ir - e até ao final do século espera-se uma  redução de 99% na população total de pinguins-imperadores. Entre 2018 e 2022, 30% das 62 colónias de pinguins-imperadores na região foram afetadas pela perda parcial ou total de gelo marinho, aponta ainda o relatório.

"O resultado final é que isto é bastante preocupante, tanto para a oceanografia física como para a biologia da Antártida e para os ecossistemas que deles dependem", conclui Norman Ratcliffe, referindo-se também a outras espécies afetadas pela perda do gelo marinho, como as focas.

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