Efeito Pedro Nuno Santos. Vem aí uma “campanha com bastante antagonismo.” Vai aumentar o fosso esquerda-direita

18 dez 2023, 07:00
Pedro Nuno Santos e António Costa (José Sena Goulão/Lusa)

Com um PS mais à esquerda do que é habitual, coloca-se o desafio de como conquistar o eleitorado do centro. E é aí que António Costa pode fazer a diferença na campanha, perante um Pedro Nuno Santos que ainda não conseguiu vincar ideias nem o que fará diferente

Era o candidato a primeiro-ministro que faltava definir. Pedro Nuno Santos, representante de uma ala mais à esquerda do PS, conotado tantas vezes como radical. Com a escolha interna do PS, teremos as eleições com a maior clivagem dos últimos tempos entre esquerda e direita? Os politólogos dividem-se, mas admitem esse cenário.

“As diretas do PS vão trazer uma definição maior. É alguém que se pode assumir de uma forma mais clara à esquerda. Pode haver um aprofundamento maior, talvez com prejuízo maior para o PS, que não conseguirá captar tanto o eleitorado flutuante”, considera a politóloga Paula do Espírito Santo.

“A eleição de Pedro Nuno Santos é clarificadora. Teremos um PS mais à esquerda e um PSD mais à direita. Antecipo uma campanha com bastante antagonismo. O eleitorado do centro vai ter de optar para onde pende”, junta o politólogo Pedro Silveira.

Já o politólogo João Pacheco considera que essa clivagem será mais “uma sensação aparente do que uma realidade efetiva”, porque, apesar de o próprio PS ter contribuído para essa “polarização”, com a candidatura de José Luís Carneiro a associar o próximo secretário-geral a um lado radical, Pedro Nuno Santos deverá “ser alguém que procura o espaço moderado”.

“Não está só interessado em ser secretário-geral do PS, está interessado em ser primeiro-ministro”, justifica, lembrando que “a tendência que apoia José Luís Carneiro continua no PS”.

(Lusa)

Costa, "único recurso" ou sombra?

Para ajudar a conquistar o eleitorado mais moderado ao centro, e para tornar claras algumas ideias que Pedro Nuno Santos ainda não conseguiu definir, os politólogos veem a presença de António Costa na campanha como fundamental.

“Será o grande referencial do equilíbrio e coesão do PS. Para fazer reunir as bases, após as fraturas da campanha. Costa é capaz de curar as feridas. E é, em si próprio, um político que vale mais do que o partido”, resume João Pacheco.

Após o discurso de vitória, Paula do Espírito Santo considera que Pedro Nuno Santos não conseguir aproveitar o momento para tornar claras as ideias que defenderá em campanha. “Pareceu-me pouco preparado, pouco estruturado do ponto de vista programático. E comunica de uma forma muito redonda”, diz. Para a politóloga, António Costa tem aquilo que falta ao sucessor, sobretudo quando mais à direita o Chega e o Iniciativa Liberal acenam com mensagens “claras e sucintas”. “Costa poderá ser o único recurso para segurar o eleitorado”, aponta.

Para Pedro Silveira, se Costa “se libertar do processo [Operação Influencer], será um ativo muito importante na campanha. Porque é um ex-primeiro-ministro muito experiente e porque trará consigo a ideia de que o governo de maioria absoluta ter continuado, que houve uma injustiça”. O próprio Costa, recorda, tem contribuído para essa ideia, quando disse, por exemplo, que hoje teria esperado pela decisão do juiz de instrução para avaliar a demissão, já que as acusações mais gravosas aos envolvidos no caso acabaram por cair.

Mas Costa, avisa Pedro Silveira, poderá funcionar como uma sombra para Pedro Nuno Santos: “Não conseguirá afastar-se de comparações. Vai ter de perceber em que aspetos vai querer diferenciar-se de António Costa”

(Lusa)

Esvaziar PCP e Bloco?

Pedro Nuno Santos não fecha a porta a uma nova geringonça. Na noite de vitória, disse que “foi mesmo estável e funcionou muito bem”. Mas um posicionamento mais à esquerda esvaziaria o Bloco de Esquerda e PCP, com os eleitores a darem um voto útil aos socialistas?

Os analistas, nesta fase, ainda não conseguem antecipar tendências. João Pacheco destaca que os dois partidos têm, eles próprios, uma abordagem diferente a esse cenário. Se o PCP procura fugir porque está “melindrado”, o Bloco não o faz. Porquê? “O Bloco não tem autarquias para perder para o PS”, justifica.

“Não acho que Pedro Nuno Santos tenha um programa de esquerda radical, como o do Bloco, sobrepondo-se”, completa Pedro Silveira.

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