Responsáveis da Mota-Engil e do grupo Barraqueiro doaram 200 mil euros ao PS. A maioria em 2021 e 2022

1 mar, 22:39

A classe empresarial surge no topo dos maiores financiadores privados dos principais partidos. Contas anuais do PS revelam apelidos que se repetem com frequência, sobretudo em anos mais recentes

O Partido Socialista recebeu cerca de 200 mil euros de donativos entre 2016 e 2022 de nomes de responsáveis da construtora civil Mota-Engil e do grupo Barraqueiro.

Uma investigação do Exclusivo da TVI, do mesmo grupo da CNN Portugal, às contas de vários partidos, entregues na Entidade das Contas e Financiamentos Políticos (ECFP) e no Tribunal Constitucional, revela que os apelidos "Mota" e "Pedrosa" surgem com frequência entre os maiores financiadores privados dos socialistas, sempre com apoios de 10 mil euros (um pouco abaixo do máximo permitido por lei), com especial intensidade nos últimos anos analisados - 2021 e 2022.

Sete donativos de 10.000 euros em 2022 

Em 2022, os sete donativos mais elevados recebidos pelo PS foram de 10 mil euros cada: quatro tiveram origem em administradores e acionistas da Mota-Engil e três no dono da Barraqueiro e respetivos filhos. 

Praticamente todos esses apoios financeiros aconteceram perto das eleições legislativas de 30 de janeiro desse ano.

Em 2021, ano de autárquicas, o PS recebeu mais donativos de 10 mil euros (19) que em 2022 (7) e mais uma vez surgem os mesmos quatro nomes da Mota-Engil e três nomes da Barraqueiro.

Recuando a contas anuais anteriores, a TVI concluiu que esses mesmos nomes ligados à Mota-Engil doaram 130 mil euros ao PS (13 donativos de 10 mil euros) entre 2016 e 2022, enquanto os três membros da família Pedrosa doaram 90 mil euros (9 donativos de 10 mil euros).

Nas contas anuais do PSD os donativos máximos, também de 10 mil euros, são um pouco menos comuns (10 em 2021 e 4 em 2022, por exemplo), e também surgem associados, por norma, a nomes de empresários, mas o leque de doadores é mais diversificado.

"Desde que se mantenham dentro dos limites legais"

Luís de Sousa, investigador do Instituto de Ciências Sociais da Universidade de Lisboa (ICS-UL) e especialista em financiamentos políticos, recorda que os financiamentos das empresas à atividade política são proibidos, considerados mesmo crime, nada impedindo os contributos de qualquer cidadão individualmente, dentro dos limites máximos previstos na lei, como é o caso de todos os donativos consultados nas contas do PS e PSD.

As doações recorrentes de vários responsáveis de uma mesma empresa, refere o perito, pode ser uma forma de contornar a proibição das empresas financiarem os partidos: "Desde que se mantenham dentro dos limites legais não há uma violação da lei", até porque, "seguramente", estes donativos "nunca ficam escritos em atas" das empresas.

Humberto Pedrosa queria apoiar "estabilidade"

A TVI contactou a Mota-Engil, mas não recebeu qualquer comentário dos responsáveis deste grupo empresarial aos donativos que fizeram ao PS.

Do lado da Barraqueiro, o dono do grupo, Humberto Pedrosa, diz ao Exclusivo que já apoiou outros partidos, apesar do mais comum ser o PS, acrescentando que "não foi a primeira vez" que apoiou o PS. "Quando me pedem, tenho ajudado alguns partidos. Nessa altura [2021 e 2022], foram doações pela democracia e pela estabilidade."  

Sobre os 10 mil euros doados pelos filhos aos socialistas, num ano no mesmo dia do pai, o empresário refere que "sabia das doações dos filhos, mas não foram combinadas", sublinhando que "nunca" teve "qualquer favorecimento nem do PS, nem do PSD".

Humberto Pedrosa também surge na lista de doadores do Chega no ano 2000, com 5 mil euros, mas o próprio garante que nunca gostou de partidos de extremos. O seu nome, segundo explica, surge na lista do partido de André Ventura, mas o dinheiro veio de uma conta conjunta com o filho. A doação terá sido, afinal, desse filho que no ano seguinte doou 10 mil euros ao PS.
 

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