O mundo sabe que o Sporting é campeão

Talvez nem o sportinguista mais otimista pensaria acabar o Dia da Mãe a celebrar o título de campeão nacional. O trabalho dos leões estava feito, tinham vencido o Portimonense no dia anterior, mas era preciso o Benfica escorregar em Famalicão.

Os adeptos ouvidos durante o dia mostraram-se tímidos quanto a essa possibilidade, talvez afastando expectativas de que os festejos pudessem ser já este domingo. Via-se nos discursos e via-se nos ecrãs: até ao minuto 70 do jogo em Famalicão o Marquês de Pombal era um deserto, pouco mais do que a rotunda que diariamente serve Lisboa.

Ao segundo golo percebeu-se. Foi como um interruptor que acendeu Portugal a verde e branco, coroando o 20.º título dos leões, o segundo com Ruben Amorim ao comando. Ele que deixou no ar, como nunca até aqui (?) a possibilidade da continuidade, lançando um “vamos ver” a um repto de um bicampeonato. Isto perante um pedido do capitão, Sebastián Coates, que se estendeu à plateia. “Fica Amorim”, pediram.

O mundo sabia que sim. Sabia que era a noite do Sporting, e foi esse o momento da noite. Quase sem auxílio da música, dezenas e dezenas de milhares de pessoas juntaram-se para, em uníssono com a equipa, cantarem “O Mundo Sabe Que”, cerca de um minuto e trinta segundos da música que abre os jogos em Alvalade, e que desta vez abriu a festa. Absolutamente arrepiante. Não acredita? Então veja.

Mais ou menos tímidos, percebeu-se que alguns jogadores iam preparados para a noite. Foram chegando de carro discretamente ao Estádio de Alvalade, onde toda a equipa acompanhou o Famalicão - Benfica.

Fim do jogo, banho de multidão imediata e uma euforia incontida. Incontida desta vez - da outra foi a meio gás por causa da pandemia de covid-19.

A viatura com os jogadores, equipa técnica e staff dos leões, que celebram o 20.º título do seu historial, iniciou o percurso rumo ao Marquês de Pombal, perante milhares em êxtase que aguardavam pelos novos campeões nacionais.

A festa leonina iniciou-se quando ainda decorria o jogo entre Famalicão e Benfica, vencido pelo emblema minhoto (2-0) e que confirmou o título nacional para o emblema de Alvalade: a imprensa aguardava no exterior do estádio quando a celebração da comitiva dos ‘leões’ ao primeiro golo foi bem audível.

A estrutura profissional leonina assistiu à partida no restaurante localizado no interior do recinto antes de descer ao hall VIP do Estádio José Alvalade em saudável convívio: as brincadeiras entre jogadores foram uma constante e envolveram cânticos ao capitão de equipa Sebastián Coates, quando este falava à comunicação social, ou partidas entre atletas.

Os jogadores Nuno Santos, Morten Hjulmand e Marcus Edwards personificaram a alegria e entusiasmo do conjunto verde e branco tendo, entre outros momentos de boa disposição, entornado água sobre o companheiro Viktor Gyökeres quando este era entrevistado.

"É uma sensação espetacular. Vamos ver o que se passa daqui para frente. Sim, é o meu primeiro título numa primeira liga. Gostaria de continuar na próxima temporada. Vamos ver o que acontece. Gostaria de continuar a trabalhar com Rúben Amorim. Gosto muito dele. Ajudou-me muito. Obrigado Sportinguistas. Até já", disse o goleador sueco.

O plantel seguiu, posteriormente, para a viatura na qual faz a viagem rumo ao Marquês de Pombal, com cânticos e dança à mistura.

Os atletas subiram à viatura a conta-gotas e aguardou-se pela partida da viatura por mais de 40 minutos com uma plausível justificação: faltava o guarda-redes Franco Israel, que por força de ter sido sujeito a uma intervenção cirúrgica este domingo chegou até junto dos seus companheiros através de uma viatura particular, apoiado por canadianas e com a perna direita protegida. Algo que não o inibiu de juntar-se aos seus companheiros, que entoavam bem alto o seu nome.

A viatura que transportou o plantel do Sporting arrancou desde o Estádio José Alvalade pelas 00:10, deparando-se com uma multidão nas proximidades do recinto, num ambiente de festa que se prolonga pelo trajeto até à histórica rotunda da capital lisboeta, na qual tradicionalmente decorrem as celebrações de títulos nacionais de futebol e onde se encontram milhares de adeptos sportinguistas.

O autocarro deixou o Estádio de Alvalade quase uma hora depois do previsto. A festa esperava-os no Marquês de Pombal, onde já tinham passado artistas como Plutónio, além de outras atrações devidamente preparadas.

Um percurso de muitos poucos metros chegou para perceber a dimensão. Se Gyökeres ou Hjulmand, figuras maiores da temporada, não sabiam o que tinham conquistado, devem ter ficado com uma ideia.

A Segunda Circular tinha carros em andamento, mas só se viam fumos verdes e pessoas por todo o lado. Um autêntico mar de verde que se estendeu por todo o jardim do Campo Grande, para lá da Avenida da República e, continuando, até ao Marquês de Pombal, já com os metros finais da Fontes Pereira de Melo.

Desde a saída de Alvalade, o autocarro foi sempre acompanhado por centenas de adeptos que iam cumprimentando os novos campeões nacionais, entoando cânticos e festejando o 20.º título dos ‘leões’, com muito fogo de artifício a pintar a noite.

Na transmissão da Sporting TV, todos os jogadores iam dizendo que era “incrível” a receção que estavam a ter ao longo do percurso e que nunca tinham vivido “nada como isto”.

Depois de Coates ter dito aos adeptos presentes no Marquês para pedirem a continuidade de Amorim, o técnico assumiu o microfone em palco e começou por fazer uma piada.

"Malta, vamos despachar isto que tenho um avião para apanhar amanhã bem cedo. É muito cedo para esta piada, vou guardar para mais tarde"», referiu, entre risos, em alusão à viagem a Londres para negociar com outro clube. O próprio ter-se-à arrependido instantaneamente, uma vez que disse ser demasiado cedo.
 

Logo de seguida, Amorim apontou ao bicampeonato e deixou no ar a ideia de ficar em Alvalade na próxima época, talvez pela primeira vez, pelo menos de forma tão veemente.

"Disseram que só ganharíamos campeonatos de 18 em 18 anos. Disseram que só ganhámos porque não havia público. E dizem que jamais seremos bicampeões outra vez... vamos ver", desafiou.

Já depois das palavras em palco, Amorim falou vários minutos depois à reportagem da SportTV sobre o que quis dizer com as palavras que proferiu. "Depois falaremos sobre isso", começou por dizer.

"O Sporting tem condições para ser bicampeão", prosseguiu. Questionado sobre se consigo ao leme, Amorim disse: "Sim, claro".