"Procurai e arriscai": Papa Francisco desafia os jovens a ganharem "coragem" para "substituir os medos pelos sonhos"

3 ago 2023, 11:59

Num discurso na Universidade Católica, em Lisboa, Francisco salientou a "tentação" da autopreservação, apelando aos jovens para que não se deixem acomodar neste ciclo e arrisquem perante os desafios que hoje enfrentam

"Tende a coragem de substituir os medos pelos sonhos: não administradores de medos, mas empreendedores de sonhos." Foi este o desafio que o Papa Francisco dirigiu aos jovens no encontro desta manhã com os estudantes da Universidade Católica, no âmbito da Jornada Mundial da Juventude (JMJ).

Reconhecendo que o mundo vive hoje um "momento histórico", enfrentando "desafios enormes e gemidos dolorosos", Francisco apelou aos jovens para que não se deixem acomodar pela "agonia". Pelo contrário: "abracemos o risco de pensar que não estamos numa agonia, mas num parto; não no fim, mas no início de um grande espetáculo."

"A autopreservação é uma tentação, um reflexo condicionado pelo medo, que nos faz olhar para a existência de forma distorcida. Se as sementes se preservassem a si mesmas, desperdiçariam completamente a sua força geradora e condenar-nos-iam à fome; se os invernos se preservassem a si mesmos, não existiria a maravilha da primavera", comparou.

O Papa dirigiu ainda uma palavra às universidades, argumentando que "seria um desperdício" formar as novas gerações apenas com o intuito de "perpetuar o atual sistema elitista e desigual do mundo com o ensino superior, que continua a ser um privilégio de poucos".

"O título de estudo não deve ser visto apenas como uma licença para construir o bem-estar pessoal, mas como um mandato para se dedicar a uma sociedade mais justa e inclusiva, ou seja, mais avançada", defendeu.

Para o Papa Francisco, são os jovens quem tem o poder - e também a responsabilidade - de "redefinir o progresso e a evolução". "É que, em nome do progresso, já abriu caminho muito retrocesso. Vós sois a geração que pode vencer este desafio: tendes instrumentos científicos e tecnológicos mais avançados. Mas, por favor, não vos deixeis cair na cilada de visões parciais".

"Não esqueçais que temos necessidade duma ecologia integral, de escutar o sofrimento do planeta juntamente com o dos pobres; necessidade de colocar o drama da desertificação em paralelo com o dos refugiados; o tema das migrações juntamente com o da queda da natalidade; necessidade de nos ocuparmos da dimensão material da vida no âmbito duma dimensão espiritual. Não queremos polarizações, mas visões de conjunto", reforçou o Papa.

Francisco não esqueceu o "contributo feminino" para a "economia familiar", salientando que esta "está em grande parte na mão da mulher". "É ela a verdadeira 'governante' da casa, com uma sabedoria que não visa exclusivamente o lucro, mas o cuidado, a convivência, o bem-estar físico e espiritual de todos, bem como a partilha com os pobres e os estrangeiros", salientou.

Ora, essa sabedoria feminina deve ser integrada nos "estudos económicos", defendeu Francisco, descrevendo-a mesmo como uma perspetiva "entusiasmante" para o almejado progresso e ambição. Esta abordagem permitirá, segundo o Papa, "devolver à economia a dignidade que lhe compete, para que não caia como presa do mercado selvagem e da especulação".

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