Investigação CNN: a Rússia tem andado a roubar ouro do Sudão para suportar o esforço da guerra na Ucrânia

30 jul 2022, 08:30

Pelo menos 16 voos terão feito a ligação entre os dois países. As autoridades acabaram por descobrir o caso num carregamento que devia levar para a Rússia "bolachas"

O ouro é uma das maiores fontes de riqueza da Rússia, que tem naquele material a segunda maior fatia das exportações, logo a seguir aos combustíveis fósseis. Por isso mesmo, a União Europeia decidiu aplicar sanções à importação deste bem, que até aqui foi obtido, em parte, de forma ilegal.

É isso que conta uma investigação da CNN, que fala num caso em que as autoridades do Sudão encontraram ouro a bordo de um avião cuja carga oficial eram bolachas. Era apenas mais uma viagem que ia partir de Khartoum rumo à Rússia, mas a desconfiança das autoridades acabou por levar à entrada na aeronave.

Ao todo, e segundo as contagens reveladas à CNN, pelo menos 16 voos terão feito a ligação entre o Sudão e a Rússia para o transporte de ouro obtido de forma ilegal. O incidente relatado ocorreu em fevereiro, dias após o início da guerra na Ucrânia.

Em causa estava um esquema elaborado pelos russos para conseguirem levar ouro do Sudão, o terceiro maior produtor daquele metal em África. A movimentação premeditada da Rússia também mostra que Moscovo esperava ser alvo de sanções por parte do Ocidente, precavendo-se assim com um aumento das reservas de ouro ao país. Foi isso mesmo que confirmaram responsáveis sudaneses e norte-americanos, bem como vários documentos analisados pela CNN.

O esquema envolveria rebeldes do Sudão, que assim permitiram à Rússia obter milhares de milhões de euros em ouro que não passava pelo Estado sudanês.

Em troca, Moscovo deu conselhos militares e políticos aos rebeldes, que continuam a tentar derrubar o governo no poder. Um cenário que é confirmado por um responsável norte-americano, que à CNN admitiu que há muito que se sabe que “a Rússia está a explorar os recursos naturais do Sudão”, o que motivou Moscovo a, em 2021, apoiar o golpe militar ocorrido no país.

“Com o resto do mundo fechado, [a Rússia] tem muito a ganhar com esta relação com o Sudão e com generais”, acrescentou a mesma fonte.

A CNN revela ainda que como figura central do esquema está o oligarca russo Yevgeny Prigozhin, um poderoso aliado de Vladimir Putin que tem influência em grupos como o Wagner, um grupo paramilitar que ajuda a Rússia nas suas investidas, como já aconteceu na Ucrânia.

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