Sofia Oliveira escreve: notas sobre o Sporting-Genk

21 jul 2023, 15:37
Sporting-Genk (RICARDO NASCIMENTO/LUSA)

«Quem é que defende?», o espaço de opinião de Sofia Oliveira no Maisfutebol

No primeiro ensaio aos olhos da crítica, Rúben Amorim não escondeu o esboço da revolução que lhe vai na cabeça. Fiel ao seu sistema táctico desde os tempos do Casa Pia, Amorim foi admitindo nuances, como a utilizada na Madeira, contra o Marítimo, na época de 2021/22 - montou um meio-campo a três com Ugarte, Matheus Nunes e Daniel Bragança e lançou Paulinho e Islam Slimani na frente -, mas nunca um sistema alternativo que propusesse à equipa uma diferente abordagem aos espaços, tanto a atacar, como a defender, e que exigisse às individualidades outras funções.

Vale a pena sublinhar que, nas temporadas anteriores, Rúben Amorim preparou, a espaços, algumas das dinâmicas que fixa agora neste sistema alternativo, como a linha defensiva composta por quatro elementos. Se, ao início, Nuno Santos se mantinha na linha de cinco em organização defensiva, ainda que passar de Matheus Reis para Nuno Santos já havia significado uma mudança das características individuais na ala esquerda, o tempo levou Nuno Santos a subir metros no terreno dentro do mesmo momento de jogo.

Por aqui, percebia-se que Amorim projectava a hipótese de desfazer a linha de cinco, libertando um defesa na pressão. Acontece que o técnico do Sporting, neste sistema alternativo, desfez a linha de cinco e ofereceu os corredores laterais a dois extremos. Inovador? Não, mas surpreendente vindo de um técnico que se mostrou exímio a trabalhar o acerto da linha defensiva de cinco, levando-me a achar que não abdicaria dessa tranquilidade colectiva.

Outra das novidades deste sistema é o novo papel de Gonçalo Inácio. Tal como a última imagem mostra, o defesa-central ocupa a sua posição na linha de quatro (da esquerda para a direita: Matheus Reis, Eduardo Quaresma, ocasionalmente ao lado de Gonçalo Inácio, Gonçalo Inácio e Coates, ocasionalmente na posição que foi ocupada por Eduardo Quaresma), contudo, em posse, Inácio assumiu o meio-campo do Sporting. Frente ao Genk, fez dupla com Morita, na primeira-parte, e com Daniel Bragança, na segunda. Apesar de ter acertado alguns passes, principalmente quando conseguia estar de frente para o jogo, não esteve especialmente feliz nesse capítulo, sobretudo quando andou a receber de costas - além de o Genk ser uma equipa sagaz na pressão, jogar naquela zona exige outras preocupações no que diz respeito à recepção e ao tempo de execução, por exemplo. De um modo geral, Inácio provou ainda estar longe de se sentir confortável, até porque não é nada ténue a linha que separa um central de qualidade com bola de um médio de qualidade.

No que a este 3x4x3 diz respeito, nota para as permutas entre Afonso Moreira e Pedro Gonçalves, à esquerda, e Marcus Edwards e Francisco Trincão, à direita. Nos corredores laterais, Rúben Amorim optou por lançar jogadores de pé trocado, privilegiando movimentos de fora para dentro. Afonso Moreira destacou-se pelo bom controlo de bola em condução acelerada, sem nunca ter tido medo de partir para cima dos adversários, mesmo depois de algumas más decisões. Sinal positivo para a exibição do jovem de 18 anos da formação do Sporting, que está à procura de ganhar entrosamento com Pedro Gonçalves. Do outro lado, só apareceu Francisco Trincão, uma vez que Marcus Edwards passou completamente à margem da partida. Houve períodos do jogo que fizeram lembrar a época passada, ora pela falta de harmonia entre os jogadores da frente, muito individualistas na tentativa de encontrar soluções, ora pela incapacidade de definir potenciais lances de perigo. A juntar à assistência para Francisco Trincão, antecedida de uma boa ruptura sobre a linha defensiva do Genk, Chermiti esforçou-se a jogar de costas para a baliza, mas fica sempre a sensação de que é maior o esforço do que o talento.

Quem pode ganhar uma nova vida dentro deste sistema é Eduardo Quaresma, o melhor dos quatro defesas em campo. Tendo a liberdade de um central-lateral, e se se mantiver sóbrio na leitura dos timings em que deve apoiar o ataque, as suas características saem potenciadas. À esquerda, Matheus Reis somou erros, sendo que o mais infantil de todos originou o golo do Genk, após um passe sem qualquer precisão para Franco Israel no limite da pequena-área.

Quem é que não tinha saudades do pé esquerdo de Daniel Bragança?

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