Neve subaquática revela novas pistas sobre "Europa", a lua gelada de Júpiter

CNN , Ashley Strickland
22 ago 2022, 10:00
Esta ilustração mostra uma visão simulada da superfície gelada da lua de Júpiter, Europa, com o planeta gigante por trás dela

Europa, a lua gelada de Júpiter, é um mundo oceânico envolto sob uma espessa crosta de gelo. Um local onde a neve flutua em sentido ascendente.

A neve subaquática forma-se no oceano global e sobe através da água, para se ligar a ravinas submersas e picos de gelo invertidos, de acordo com novas pesquisas. Este mesmo fenómeno ocorre por baixo das plataformas de gelo da Terra, e talvez seja assim que a lua Europa cria a sua camada de gelo.

A descoberta, publicada na segunda-feira na revista Astrobiology, sugeria que a camada de gelo da lua Europa poderia não ser tão salina como os cientistas pensavam inicialmente. É crucial compreender qual é o teor de sal da crosta de gelo, pois os engenheiros já se encontram a trabalhar na montagem da sonda Europa Clipper da NASA, que deverá ser lançada para a lua Europa em outubro de 2024.

Esta ilustração mostra a Europa Clipper a sobrevoar a lua gelada, com Júpiter como fundo

A Europa Clipper usará um radar de penetração de gelo para ver por baixo da camada e determinar se o oceano da lua é potencialmente habitável. A presença de sal dentro da camada de gelo poderia impedir o radar de alcançar uma maior profundidade, por isso, as previsões sobre a composição da camada de gelo são fundamentais.

As pistas sobre a camada de gelo também podem ajudar os cientistas a descobrir mais sobre o oceano da lua Europa, sobre a sua salinidade e o seu potencial de habitabilidade.

A camada de gelo da lua Europa tem entre 15 e 25 quilómetros de espessura e pensa-se que fica no cimo de um mar com cerca de 60 a 150 km de profundidade.

"Ao explorarmos a lua Europa, estamos interessados na salinidade e composição do oceano, pois esse é um dos aspetos que determinará a sua potencial habitabilidade ou mesmo o tipo de vida que poderia vir a ter", disse em comunicado a autora principal do estudo, Natalie Wolfenbarger, aluna de doutoramento e investigadora no Instituto de Geofísica da Universidade do Texas, no Departamento de Geociências.

Natalie Wolfenbarger também faz parte da equipa científica da sonda Europa Clipper. Em Austin, investigadores da Universidade do Texas estão a desenvolver o radar de penetração de gelo da sonda.

Estudos anteriores sugeriram que o oceano da lua Europa mais próximo da sua camada de gelo tem uma temperatura, pressão e salinidade semelhantes à água que existe debaixo das plataformas de gelo na Antártida.

Os investigadores estudaram os dois métodos de congelamento da água debaixo das plataformas de gelo na Terra: gelo de congelação e gelo frazil.

Qual é a diferença? O gelo de congelação cresce por baixo da plataforma de gelo, enquanto o gelo frazil sobe em flocos através da água gelada do mar, antes de se fixar sob a plataforma de gelo.

Ambos resultam num gelo com menos salinidade do que a água do mar - e de acordo com as projeções dos investigadores, a água do mar era ainda menos salgada quando aplicaram estes dados à idade e escala da camada de gelo da lua Europa.

Pensa-se que o gelo frazil seja o tipo mais comum na lua Europa, o que tornaria a camada de gelo muito mais pura do que se acreditava anteriormente. O gelo frazil só preserva uma pequena fração do sal existente na água do mar. A pureza da camada de gelo pode ter influência na sua força, na tectónica do gelo e na forma como o calor flui através da camada de gelo.

"Podemos usar a Terra para avaliar a habitabilidade da lua Europa, analisar a troca de impurezas entre o gelo e o mar, e descobrir onde está a água no gelo", disse em comunicado o coautor do estudo, Donald Blankenship, um cientista sénior do Instituto de Geofísica da Universidade do Texas. É o investigador principal do radar de penetração de gelo da Europa Clipper.

A descoberta pode sugerir que a Terra poderia ser usada como modelo para entendermos melhor a habitabilidade da lua Europa.

Missões anteriores observaram colunas de vapor de água em erupção através da camada de gelo, tal como retratado nesta ilustração

"Este trabalho está a abrir um novo leque de possibilidades para pensarmos sobre os mundos oceânicos e como eles funcionam", disse em comunicado Steve Vance, investigador no Laboratório de Propulsão a Jato da NASA em Pasadena, na Califórnia. "Isto definirá a forma como iremos preparar-nos para a análise do gelo por parte da Europa Clipper." Vance não esteve envolvido no estudo.

Entretanto, estão a decorrer trabalhos no núcleo da sonda Europa Clipper, na unidade de montagem do Laboratório de Propulsão a Jato da NASA.

O núcleo, que tem 3 metros de altura e 1,5 metros de largura, assumiu um papel central na sala estéril, onde as equipas da NASA montaram sondas espaciais como a Galileo ou a Cassini e os rovers de Marte.

A equipa da missão está neste momento a montar a Europa Clipper em High Bay 1, uma sala estéril no Laboratório de Propulsão a Jato da NASA, onde outras missões históricas foram preparadas antes do lançamento

O equipamento e instrumentos científicos de voo serão instalados na sonda até ao final do ano. Depois, os engenheiros levarão a cabo uma série de testes durante o período de preparação para o lançamento.

A Europa Clipper chegará à lua joviana em abril de 2030. Após cerca de 50 voos planeados sobre a lua Europa, a sonda passará de uma altitude de 2735 quilómetros para apenas 25 quilómetros acima da superfície da Lua.

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