O homem chegou à Lua há 53 anos. Aqui ficam 11 factos que provavelmente não sabe sobre a histórica missão Apollo 11

CNN , Ashley Strickland (artigo originalmente publicado em julho de 2019)
20 jul 2022, 08:00

Esta quarta-feira assinala-se o aniversário daquele que muitos consideram ser o maior feito do século XX.

Já se passaram 53 anos desde que o astronauta Neil Armstrong se tornou o primeiro homem a pisar a superfície da Lua. Buzz Aldrin seguiu-lhe os passos para fora do módulo de aterragem Eagle, tendo Michael Collins ficado a orbitar a lua no vaivém espacial Columbia.

Quer tenha acompanhado a aterragem em direto no domingo, 20 de julho de 1969, quer tenha assistido recentemente às gravações raras ou nunca antes vistas no documentário “Apollo 11”, produzido em parceria com a CNN Films, poderão haver algumas coisas de que já não se lembra ou que nunca soube sobre esta missão.

O treino para a Apollo 11 foi caótico e perigoso

Em maio de 1961, o presidente John F. Kennedy definiu um objetivo que muitos duvidavam que fosse possível: ele queria pôr um homem na Lua até ao final da década. Como refere Charles Beames, presidente executivo da York Space Systems, a ida à Lua fazia parte da estratégia de Kennedy no contexto da Guerra Fria. Se fosse bem-sucedido, comprovaria o domínio da América na corrida espacial.

Para consegui-lo, os astronautas da Apollo e as equipas que os apoiaram passaram por extenuantes períodos de treino. Estavam tão ocupados que nem tinham noção do que se ia passando cá fora ao longo da década de 1960, para lá daquilo que estavam a fazer. Só mais tarde é que ficariam a par da Guerra do Vietname e outras manchetes.

Mas o trabalho também era perigoso. Em 6 de maio de 1968, Armstrong realizou o seu 22.º voo no Veículo Lunar de Pesquisa N.º1 na Base Aérea de Ellington, nos arredores de Houston. Cinco minutos depois, perdeu o controlo do veículo devido a uma perda de pressão de hélio e foi ejetado 60 metros acima do solo quando o veículo se despenhou e pegou fogo no impacto.

Mais tarde, viria a dizer que a Eagle, a aeronave que ele e Aldrin pousaram na Lua, era controlada exatamente da mesma forma que o Veículo Lunar de Treino, o qual pilotou mais de 30 vezes antes da Apollo 11.

“Claro que isto me deu uma boa dose de confiança - uma familiaridade confortável”, disse Armstrong na altura. “Era uma máquina teimosa e perigosa, mas muito útil.”

A mulher na sala

Em 16 de julho de 1969, no dia do histórico lançamento da Apollo 11, os painéis de controlo estavam repletos de homens de camisa e gravata no interior do Centro Espacial Kennedy.

Mas havia uma mulher que se destacava - JoAnn Morgan, de 28 anos.

Morgan, que trabalhava como controladora de instrumentação para a missão, foi a única mulher autorizada a estar na sala de lançamento onde os funcionários da NASA ficaram fechados durante a histórica descolagem da Apollo 11.

Morgan precisava de estar na sala para alertar a equipa de testes caso algo corresse mal, mas teve de solicitar uma autorização especial para lá estar. Morgan também teve de suportar chamadas telefónicas obscenas e usar a casa de banho dos homens porque não havia nenhuma para mulheres.

Abriu um novo caminho enquanto uma das primeiras engenheiras da NASA. Depois da Apollo 11, a carreira de Morgan disparou. Entre 1958 e 2003, continuou a quebrar barreiras e tornou-se a primeira executiva sénior do Centro Espacial Kennedy.

E a mulher que ajudou a pousar homens na lua

Margaret Hamilton foi a engenheira de software que desenvolveu os programas de computador a bordo que alimentaram as missões Apollo da NASA, incluindo a aterragem lunar em 1969.

Com efeito, foi Hamilton que inventou o termo “engenheiro de software” com o seu trabalho de desenvolvimento do computador de navegação da Apollo, a tábua de salvação para os astronautas que controlavam a nave espacial. O processador do computador no módulo lunar da Apollo 11 quase entrou em sobrecarga quando a nave se aproximou da Lua, o que poderia ter forçado Armstrong e Aldrin a abortar a missão.

Mas o software limpava todas as tarefas cada vez que se aproximava da sobrecarga, permitindo que os astronautas introduzissem os comandos para a aterragem. Hamilton escreveu que se presume que a preparação para emergências do software ajudou a salvar a missão.

Armstrong era o 'Mr. Cool'

A tripulação da Apollo 11 composta por Armstrong, Aldrin e Collins viajou cerca de 386 000 quilómetros em 76 horas para chegar à Lua. Collins permaneceu na nave espacial Columbia, enquanto Armstrong e Aldrin se dirigiram para a superfície lunar a bordo da Eagle.

À medida que Aldrin e Armstrong se foram aproximando, Armstrong teve de assumir o controlo e navegar para lá do local de aterragem predefinido. A área estava coberta de rochas e, embora estivessem com pouco combustível, Armstrong pilotou o módulo de aterragem como um helicóptero e pousou no local perfeito, tudo isto enquanto os alarmes disparavam alertas. Quando o módulo lunar aterrou na Lua, tinha menos de 40 segundos de combustível.

Anos mais tarde, o líder da equipa de dinâmica de voo da Apollo 11, Jerry Bostick, perguntou a Armstrong o que teria feito se Houston tivesse pedido que abortasse a missão durante a fase de aterragem.

“E ele disse, 'Bem, eu provavelmente teria dito, “Repitam, Houston, não percebi,” e teria ido em frente e feito a aterragem.” E tê-lo-ia feito. E tê-lo-ia conseguido. É este o nível de confiança que eu e as outras pessoas envolvidas tínhamos em Neil Armstrong. Ele podia fazer o impossível”, disse Bostick.

Foi esta dinâmica que rendeu a Armstrong a alcunha de “Mr. Cool”. Algumas pessoas chamavam-lhe “Primeiro Homem”.

Após o voo bem-sucedido da Apollo 11, Collins viu outro lado de Armstrong quando os três astronautas embarcaram numa viagem à volta do mundo para falar sobre as suas experiências. Armstrong era o porta-voz.

“Mas o que as pessoas talvez não saibam sobre o Primeiro Homem é que ele era um maravilhoso defensor das virtudes dos Estados Unidos e espalhava-as por todo o mundo”, disse Collins.

Como foi a aterragem na Lua

O momento histórico de Armstrong a pisar a Lua cerca de seis horas mais tarde foi bastante indistinto, na verdade, como se viu na TV. A filmagem foi feita a partir de uma câmara ligada ao módulo de aterragem.

Mas o que muitos não sabem é que Aldrin também estava a filmar Armstrong; ele captou aqueles passos monumentais de cima, dentro do módulo, a olhar para Armstrong do cimo da escada.

Os fãs e os peritos da Apollo há muito que conhecem este ângulo. Mas o público nunca o tinha visto sem cortes e em alta resolução, uma perspetiva que amplia o nosso conhecimento da missão. Este plano pode ser visto no filme “Apollo 11”.

E depois temos as fotos. Apesar de a superfície lunar parecer bastante exótica de perto, algumas das imagens mais impressionantes foram capturadas quando os astronautas viraram a câmara para verem a Terra a partir do espaço.

“Estranhamente, parece frágil, de certa forma”, disse Collins. “Queremos cuidar dela. Queremos alimentá-la. Queremos ser bons para ela. Toda aquela beleza, ela era maravilhosa, minúscula, é a nossa casa, é tudo o que eu conhecia, mas tão frágil e estranha.”

Collins não era o “homem mais solitário”

Enquanto Aldrin e Armstrong pousaram na Lua, Collins ficou a andar à sua volta. Assim que Armstrong e Aldrin terminassem, encontrar-se-ia com eles e acoplaria a Eagle quando esta deixasse a superfície lunar.

Collins foi muitas vezes chamado “o homem mais solitário” após o seu regresso à Terra, mas ele não se sentia assim - mesmo quando perdeu o contacto com a Sala de Controlo enquanto sobrevoava o outro lado da Lua.

“Era uma casa feliz. Eu gostava da Columbia”, disse. “Fazia-me lembrar, de certa forma, uma igreja ou uma catedral. Tinha a abside, os três divãs, depois descia-se até onde estava o altar. Era o sistema de navegação e orientação. E estava disposto quase como uma catedral. E tinha café quente. Tinha música que podia pôr a tocar se quisesse. Tinha pessoas com quem falar no rádio, às vezes demasiada gente a falar demais no rádio. Por isso, gostei desse interlúdio. Estar sozinho numa máquina no ar num lugar que me era desconhecido, e ver como tudo funcionava bem no interior da Columbia, gostei bastante.”

Uma refeição na Lua

A primeira refeição no espaço foi feita na primavera de 1961 pelo cosmonauta russo Yuri Gagarin. Comeu puré de carne num tubo compressível como o de uma pasta dentífrica, seguido por um tubo de molho de chocolate.

Os astronautas da Apollo 11, por seu lado, tinham mais de 70 itens alimentares à escolha. Entre os alimentos que foram consumidos no módulo lunar na superfície da Lua estavam ensopado de carne, quadrados de bacon, bolo de tâmaras e ponche de uva.

Os astronautas que percorreram a superfície lunar também tinham dispositivos para beber água instalados nos seus fatos espaciais e, se estivessem com fome, poderiam comer a barra de alimentos com alto teor nutricional no seu capacete.

Trabalharam 400.000 pessoas na missão Apollo 11

O triunfo absoluto da Apollo 11 não pertence apenas aos astronautas. Também inclui as 400.000 pessoas que apoiaram a missão em todo o país, principalmente no Centro Espacial Johnson em Houston e no Centro Espacial Kennedy em Cabo Canaveral, na Flórida.

Muitos jovens universitários acorreram à NASA após o discurso de Kennedy em 1961.

Durante a Apollo 11, todos os que poderiam ser necessários ou solicitados durante a missão estavam numa sala em Cabo Canaveral ou Houston. Cada um tinha uma tarefa específica. E todos queriam lá estar. Procuravam um lugar onde ligar os auscultadores e sentavam-se em degraus.

“Existia uma atitude proactiva”, disse Bostick, o líder da equipa de dinâmica de voo. “Éramos muito sóbrios e sérios no que fazíamos. Levávamos as coisas muito a sério. Trabalhávamos muito arduamente. Mas, ao mesmo tempo, era divertido, não pensávamos naquilo como um trabalho, mesmo que estivéssemos a trabalhar 12 horas por dia, pelo menos, seis dias por semana. Não tínhamos noção da magnitude do que estávamos a fazer.”

A Sala de Controlo era mais do que uma sala

A pequena sala retratada nos filmes mostra normalmente os diretores das equipas sentados em frente a painéis de controlo e a olhar para monitores.

Mas para acomodar os milhares de pessoas necessárias, os membros das equipas estavam em várias salas de controlo, salas de apoio aos funcionários, salas de apoio, bastidores, simuladores, complexos de computação e na sala de projeção conhecida como a “batcaverna”.

Ao longo dos anos, a Sala de Controlo da Missão Apollo e as suas salas contíguas foram caindo em desuso. Recentemente, foram restauradas e reabertas. Os controladores de voo da Apollo trabalharam no projeto para garantir que tudo se mantinha autêntico - das carpetes ao papel de parede, incluindo as beatas dos cigarros nos cinzeiros.

A NASA tinha um programa de arte

A arte era uma prioridade para o segundo administrador da NASA, Jim Webb. Ele criou o programa de arte da NASA em 1962 e permitiu a entrada de artistas na agência em 1963. Ele sentiu a necessidade de capturar aquele momento histórico através da arte e apresentá-lo ao povo americano. Os artistas tinham carta-branca.

A famosa pintura de Norman Rockwell dos astronautas Gus Grissom e John Young teve origem durante os primeiros tempos do programa, em 1965. Andy Warhol pintou uma série de serigrafias de Aldrin de pé na Lua ao lado da bandeira americana.

A Apollo 11 abriu a porta para o espaço

“O programa Apollo tornou o espaço acessível para nós”, disse Mason Peck, ex-diretor de tecnologia da NASA e professor de engenharia mecânica e aeroespacial na Universidade de Cornell. “Estas breves visitas à Lua definiram um padrão elevado para a NASA e para toda a exploração espacial desde então.”

Para que a Apollo fosse possível, a NASA teve de desenvolver um sistema complexo. A navegação espacial teve de ser configurada. Embora existissem fundamentos sobre a mecânica do voo nas forças armadas, o espaço era um território novo. Tudo era novo. O programa Apollo ajudou inclusive a desencadear a formação da ciência planetária como uma área autónoma.

“Foi construída uma infraestrutura que não existia”, disse Marshall Smith, diretor de exploração lunar humana da NASA. O programa levou a um impulso de âmbito tecnológico e económico e permitiu o retorno de amostras lunares para a Terra, permitindo uma melhor compreensão da história do nosso sistema solar.”

O programa Apollo, que levou 12 homens a caminharem na superfície da Lua, foi encerrado após o voo final da Apollo 17, em 1972. Mas até 2024, a NASA promete colocar a primeira mulher na Lua com o programa Artemis.

Thom Patterson, Sarah-Grace Mankarious, Natalie Angley, Scottie Andrew e Katherine Dillinger contribuíram para este artigo.

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