Jogos Olímpicos: a sombra que paira sobre Atenas

9 jun 2003, 23:03

Recuperação dos treinos e apoio médico são difíceis Os atletas queixam-se da falta de apoio médico e da impossibilidade de recuperar dos treinos. O Comité Olímpico confirma.

Falta pouco mais de um ano para os Jogos Olímpicos de 2004, em Atenas, e os atletas portugueses continuam sem ter condições para preparar seriamente a campanha portuguesa. Numa altura de crise, as questões financeiras assumem-se como uma questão importante, mas, mais do que isso, é o apoio médico dado aos atletas e o trabalho ao nível da recuperação das cargas de treino que se assume como o ponto mais crítico.

Para os atletas lesionados, a situação é um autêntico pesadelo. Para os outros, que realizam treinos diariamente, a recuperação, nomeadamente através de massagens, é um «luxo» difícil de garantir, mesmo sendo considerada um procedimento importante para prevenir eventuais lesões.

Mário Aníbal, atleta do decatlo, que ficou classificado no 12º lugar em Sydney, foi operado ao fémur e é um dos atletas que tem lidado com a falta de apoio médico. Esteve na Madeira, às contas da federação de atletismo, também ela a viver uma crise financeira, porque no continente não há simplesmente condições para fazer uma recuperação séria, segundo denuncia. «Foi agora aberto um centro médico no CAR (Centro de Alto Rendimento) para recuperação, mas não funciona. Meteram um fisioterapeuta que veio ninguém sabe de onde e sem experiência nenhuma. Isto no futebol é impensável. Só nós, que somos os pobrezinhos, é que temos de levar com situações destas», diz.

Face a estas dificuldades, Mário Aníbal assume que não é possível fazer muito em Atenas. «Para o ano há Jogos Olímpicos e as coisas vão falhar. Como os atletas de alta competição são tratados é uma questão que passa ao lado de toda a gente. Depois, só se lembram de nós para nos cascar, passo a expressão, quando os resultados não aparecem», refere.

Comissão da Atletas propõe solução

Pela parte da Comissão de Atletas Olímpicos, Susana Feitor confirma os problemas. «Tenho colegas meus da vela, da natação e outros que têm dificuldades para ter uma massagem, que é o básico para se recuperar do treino. Isto é uma coisa impensável», diz. E propõe «a criação de um grupo que pudesse dar respostas no terreno», uma equipa vocacionada para este tipo de situações, que tarda em chegar.

Vicente Moura assume problemas

As dificuldades são também reconhecidas pelo presidente do Comité Olímpico de Portugal, Vicente Moura. Mas o problema parece nem sequer estar primordialmente no dinheiro. «Os atletas têm razão porque infelizmente, quando há dinheiro, o mais fácil é passar o cheque. Dá-se o dinheiro e está resolvido. Agora, condições específicas para o treino, nunca existiram e isso limita obviamente bastante a preparação para os Jogos Olímpicos», afirma.

Vicente Moura fala, aliás, de algumas situações caricatas em Lisboa, onde o Centro de Medicina Desportiva também não funciona como deve, especialmente para atletas que têm de treinar depois do trabalho ou dos estudos. «Aqui em Lisboa existe o Centro de Medicina Desportiva, no Estádio Universitário, e fecha às 5 horas. Eu já reclamei, eu já escrevi, já pedi ao IND para que alargassem os horários, mas nunca foi possível. Se um obeservador estiver no Estádio Universitário às 6 ou 7 horas, é relativamente fácil ver um atleta a coxear e a atravessar a estrada para se dirigir ao Hospital de Santa Maria. É uma coisa incrível», conta.

A situação merece críticas por parte dos atletas e dos responsáveis. E Vicente Moura reconhece que, lá por fora, as coisas deixaram há muito de ser assim. «É uma questão que está resolvida praticamente em todos os países. Por exemplo, em Espanha, há 26 Centros de Alto Rendimento. Aqui em Portugal há um e muito longe de ter as valências necessárias», frisa.

Oiça as declarações na Maisfutebol Rádio

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