Rui Gomes da Silva, o "amigo" de Ventura, "está a fazer um favor" ao Chega para "criar a ideia de divisão no PSD"

19 mar, 19:10
Rui Gomes da Silva e Ventura

Manifesto de sete militantes do PSD é “apenas uma discordância interna sem relevo”, que “dá palco ao Chega” e “está a ser sobrevalorizado”

O manifesto que Rui Gomes da Silva e outros seis sociais-democratas assinaram a apelar a Luís Montenegro que reconsidere o “não é não” ao Chega, permite ao partido de André Ventura “manter o discurso de que há forças do PSD que defendem uma coligação”, considera Raquel Abecasis, comentadora da CNN Portugal. É um documento que “está a ser sobrevalorizado”, concretiza.

E não é a única. Também Rui Calafate, consultor de comunicação, o defende: "Estamos a falar de sete pessoas num partido com dezenas e milhares de militantes". 

A opinião de Raquel Abecasis surge já depois de José Pacheco Pereira, ex-deputado do PSD, ter defendido, no programa O Princípio da Incerteza, que “há muitas pessoas no PSD, algumas em lugares relevantes, que são favoráveis a um entendimento com o Chega”. Em contraste, Helena Matos, também comentadora da CNN Portugal, frisa que os sete sociais-democratas que dão nome ao documento “não são personalidades muito relevantes dentro do PSD”.  

Para além do antigo vice-presidente do PSD, há seis outros subscritores da carta: Miguel Corte-Real, Paulo Ramalheira Teixeira, Manuel Pinto Coelho, João Saracho de Almeida, Susana Faria e Paulo Jorge Teixeira. No entanto, aos olhos de Raquel Abecasis, trata-se de pessoas que “não representam nada no PSD”. A analista política refuta a ideia do Chega de que há deputados eleitos do PSD neste manifesto, até porque nenhum destes nomes fazia parte das listas da Aliança Democrática (AD) às eleições de 10 de março. Neste sentido, tendo em conta que os militantes que dão a cara "não têm nem peso, nem influência", o manifesto serve apenas para “dar palco ao Chega”. 

Esta terça-feira, em declarações à rádio Observador, Rui Gomes da Silva explicou que a estabilidade política depende de um acordo entre PSD e Chega e defendeu que "o pressuposto de desconfiança no Chega é errado". Na ótica de Raquel Abecasis, o antigo vice-presidente do PSD, está “a fazer um favor a André Ventura, de quem é amigo, para criar a ideia de divisão no PSD”. E ainda acrescenta que o Chega “não tem dado mostras de ser um partido em que se possa confiar e que passou a campanha a denegrir o PSD”. 

“Rui Gomes da Silva já falou várias vezes e pensa com a sua própria cabeça”, defende Rui Calafate, negando a hipótese de estes sete militantes estarem a dar a voz a outros membros do partido com mais influência. Helena Matos também nega esta hipótese: “estão a dar a cara por si mesmos”. “Sem desprimor destas pessoas, há diferentes níveis de poder de influência”, afirma a comentadora, explicando que o patamar de Luís Montenegro é diferente daquele em que estão os manifestantes que não têm capacidade de decisão. 

Qual o propósito do manifesto?

“O manifesto serve apenas para causar perturbação”, garante Raquel Abecasis, defendendo que Luís Montenegro “não pode voltar com a palavra atrás”. Aliás, a comentadora faz um paralelo com o que se passa no Partido Socialista: “A verdade é que dentro do PS nem todos estão de acordo com o facto de Pedro Nuno Santos ter fechado as portas a um discurso de entendimentos com a AD num Governo minoritário”. Assim, o manifesto é “apenas uma discordância interna que não tem relevo suficiente para criar sobressalto à direção do PSD”. 

Helena Matos é também da opinião de que o manifesto está a ser sobrevalorizado, e não é porque “não há contactos entre o PSD e o Chega”, até porque defende que “têm de acontecer”, dado que “há todo um conjunto de cargos e escolhas que implicam negociações com o Chega e o PS". Mas sim porque se trata simplesmente de “uma marcação de posição das pessoas que o subscreveram”. 

“O ar do tempo corre a favor de que existam contactos”, defende a comentadora, frisando que os sete subscritores do manifesto marcam a sua posição “na expectativa que aquilo que defendam venha a acontecer por terem competência". “Estão a escrever para a história”, acrescenta. 

Recuar seria "um tiro no pé"

Questionada sobre se o líder da AD voltará atrás com a sua palavra, Helena Matos sublinha que Luís Montenegro “anda há demasiado tempo na política para cometer um erro tão grosseiro”. “Seria um tiro no pé alterar o que quer que seja antes de reunir com Marcelo Rebelo de Sousa, onde espera ser indigitado”, corrobora Rui Calafate, assegurando que não será por este manifesto que Luís Montenegro irá quebrar a promessa que fez aos eleitores. Isto porque, não se juntar a André Ventura foi “uma das bandeiras com que se apresentou ao eleitorado”. 

Caso Luís Montenegro reconsidere o “não é não”, não teria grandes consequências na sua relação com Marcelo Rebelo de Sousa, argumenta Raquel Abecasis. Contudo, o mesmo não se aplica para a sua relação com os eleitores. “Um político que disse com a veemência com que Montenegro disse que o 'não é não' durante a campanha e na noite eleitoral não tem nenhuma margem de recuo”. Aliás, “nem sequer faz parte da sua estratégia”. 

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