Vítor Bruno, ser «pai em part time» e o «choque» do primeiro ano fora

23 mai 2016, 20:00
Vítor Bruno

Deixou Portugal quando a filha tinha acabado de nascer e viveu uma época emotiva, que culmina com a conquista da taça da Roménia

Aos 25 anos e acabado de ser pai pela primeira vez, Vítor Bruno viu-se a braços com uma decisão difícil: ficar em Portugal ou aceitar a proposta do Cluj e rumar à Roménia. Decidiu sair. Encontrou um clube numa crise complicada, a enfrentar problemas judiciais que levaram a perda de pontos. Agora, um ano depois, e no rescaldo da vitória da Taça da Roménia, o jogador faz ao Maisfutebol o balanço de uma época emotiva.

«O balanço é positivo. Nós vimos sempre à procura disto, destas alegrias que nos valorizam em termos de carreira, nos dão outra projeção», mas reconhece que «foi muito complicado, muito difícil».

«Foi um ano de adaptação total. Eu nunca tinha estado fora do país. Ter a minha filha recém-nascida ainda foi mais um problema… não estar com ela. O facto de ser um pai a part time, que só podia exercer essa função em alguns momentos... Para mim, foi um ano extremamente duro e algumas fases em que estive menos bem também se deveram a esse contexto», recordou.

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Vítor Bruno, natural de Vila do Conde, cumpriu as últimas quatro temporadas em Portugal no Penafiel, e jogou sempre num raio de 60 quilómetros de casa, por isso a distância acabou por, a determinado momento, o fazer querer desistir e voltar. «Sempre tive a família, o aconchego familiar. Sempre joguei perto de casa. Se queria estar com alguém, estava. Se queria sentir o abraço dos meus pais, tinha... Foi um choque muito grande. Mais ainda por a Carolina ter nascido e de eu não poder acompanhar este processo».

Mas frisa, «Tudo isto é uma aprendizagem e levo daqui coisas muito positivas que certamente me vão ajudar a nível de carreira. Isto ajuda-nos por mais que nos tire. E isto tirou-me muita coisa».

Em ação no Cluj

A resposta tarda quando a questão se torna mais direta: Valeu a pena? «É uma pergunta complicada... Eu decidi assim... pronto... Se fosse hoje, não sei se voltava a decidir assim. Tinha uma ou outra proposta da I Liga e podia ter ficado em Portugal. Por uma razão ou por outra houve também essa decisão das pessoas que estavam ao meu lado e também fui um pouco enganado porque houve situações que não correram da melhor forma e tudo isso me faz pensar que não terá sido a melhor decisão do mundo», afirmou, sem querer concretizar o que correu mal. «Mas viver este momento também não me faz olhar para trás», frisa.

Numa equipa com sete jogadores lusos, e com treinador português durante metade da época, a adaptação foi mais fácil. «Isso ajudou, e fiz amigos para a vida. Foi importante vir com o Dani [Coelho], que já o conhecia há algum tempo, e estar com outros portugueses».

Portugueses na final da Taça

«O feedback na cidade é muito positivo porque antes de nós já estiveram aqui jogadores portugueses que deixaram marca. Falo do Beto, do Tony, do André Leão, que foi campeão, do Filipe Teixeira e do Geraldo, que têm feito carreira, agora no Astra Giurgiu, que têm uma dimensão muito forte em termos nacionais. São jogadores muito respeitados. Tudo isso ajuda a que os novos jogadores sejam respeitados à partida. O jogador português tem marca de qualidade, seja na Roménia ou noutro lado qualquer».

Questionado sobre se jogar na Roménia pode ter-lhe retirado visibilidade, Vítor Bruno não encara o tema de forma simplista. «Se me pode ter retirado de uma forma, também me deu de outra, porque ganhámos uma taça e isso é sempre importante no currículo de qualquer jogador. E em Portugal é muito difícil conquistá-la».

«É verdade que Portugal tem mais visibilidade do que a Roménia, mas lutar por outros objetivos noutro país, que tem a sua projeção, porque saem daqui jogadores para outros campeonatos, e bons, também é importante», frisou. «E acredito que no próximo ano o Cluj vai voltar ao patamar que nos habituou anteriormente. E isso dá a tal projeção».

Com mais dois anos de contrato pela frente, não é certo que o futuro do jogador passe pelo Cluj. «Eu adoro Portugal, adoro o meu país e depende sempre das oportunidades que possam ou não aparecer. Eu e as pessoas que estão a trabalhar nesse assunto, estamos a ver algumas possibilidades, não só em Portugal, mas também para fora, para outro lugar. Depende muito do projeto. Gostaria que fosse um projeto ambicioso, com alguma estabilidade. Sinto uma vontade imensa de estar em Portugal, voltar a ver os meus colegas, os meus amigos, a minha família. Sinto falta disso».

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