Primeiro Passos e depois a tinta verde. Anda tudo a "reboque" de Montenegro (e nem o aborto ou o terreno hostil o fazem cair)

28 fev, 22:00
AD - Dia 4 de campanha

Presidente do PSD está há 48 horas no olho do furacão e, seja por Passos, seja por ter sido alvo de um ataque reivindicado por ativistas climáticos, ou pelas declarações de Paulo Núncio que criaram vergonha aos sociais-democratas, o que se diz e se faz à volta de Montenegro tem marcado o ritmo das outras campanhas que estão a percorrer o país. “Isto mostra que Pedro Nuno Santos e o Partido Socialista está por e simplesmente desaparecido”, afirma Paulo Rangel

Montenegro precisava de uma demonstração de força depois do dia caótico que teve - primeiro com um candidato seu a pedir um referendo ao aborto e horas depois com um balde de tinta atirado à sua cabeça. Acabou por tê-la em Évora, de todos os sítios. No distrito que desde 1995 é pintado com a rosa do PS, Carlos Moedas apareceu de surpresa a dar ainda mais ânimo a uma arruada de noite que teve a maior mobilização até agora. “Não consegui ir a Beja, vim a Évora”, disse o autarca natural do alentejo, envolvendo nos braços o candidato e acompanhando-o até um comício no centro histórico da cidade. 

Comício esse que se ia enchendo de curiosos à medida que Montenegro subia o tom de voz contra o PS, sem nunca tocar nos imprevistos que assolaram o quarto dia de campanha e que terminaram com a formalização de uma queixa-crime contra o ativista que lhe atirou com tinta verde. “Não percamos muito tempo a apontar as falhas daqueles que concorrem nas eleições contra nós, porque elas são tão grosseiras que todos os portugueses dão por elas”.

Foi o ponto final que o líder social-democrata deu aos dois dias seguidos em que tem estado no olho do furacão, obrigado a uma postura de reação em contrarrelógio que passa ao lado do pacto que assumiu no início da campanha eleitoral de que não iria dedicar tempo a comentar “bocas de políticos” e se focaria apenas nos “problemas do País e nos assuntos que realmente importam aos portugueses”. 

Mas esta realidade tem também um outro lado: há 48 horas que o compasso de todas as outras campanhas tem estado a ser definido por aquilo que acontece ao redor de Luís Montenegro. E essa onda, consideram sociais-democratas ouvidos pela CNN Portugal, tem favorecido a imagem do líder do PSD. “Se olharmos para os outros, ainda anda tudo a reboque do discurso de Passos Coelho e da posição individual de Paulo Núncio, isto mostra que Pedro Nuno Santos e o Partido Socialista está por e simplesmente desaparecido”, afirma Paulo Rangel.

 

A chegada de Carlos Moedas à arruada de Évora/ LUSA

“Sinceramente, esta campanha é a referência”, continua, sublinhando que as atitudes que Montenegro tomou face às críticas do discurso de Passos Coelho, à intervenção de Paulo Núncio durante a manhã e perante o ataque a que foi alvo mostra “como o líder é capaz de tornar imprevistos num efeito muito favorável à campanha”. “Revelou que perante os obstáculos, não tem uma reação desastrada”. 

Mal subiu ao palco durante a noite, Moedas enfrentou logo o elefante na sala. “O ataque a Luís Montenegro foi um ataque grave à democracia, e quem o fez, fez por razões cobardes e políticas”. Foi uma declaração semelhante àquela que Nuno Melo, visivelmente irritado durante a manhã, já tinha feito sobre o arremesso de tinta: “uma idiotice e uma imposição com agenda política, não estou a insinuar, estou a afirmar”. E que mereceu um raspanete de Montenegro, ainda com tinta na cara. “Eu não quero que o debate político ande sempre à volta de pequenos casos e de pequenas teorias da conspiração”

O ataque a que Montenegro foi alvo durante a visita à BTL, em Lisboa, acabou por levar ao cancelamento de outras duas iniciativas - uma arruada em Almada e uma visita à Santa Casa de Évora. E foi notório que, na primeira oportunidade que teve junto aos jornalistas novamente, já em Évora antes do discurso da noite, fez questão de dizer tintim por tintim o que achava das declarações de Paulo Núncio sobre o aborto. “Não vamos mexer na lei do aborto, é assunto arrumado", disse, assumindo que a posição do vice-presidente do CDS-PP e candidato a deputado criou “ruído” e foi um “pequeno momento de polémica”.

Um "pequeno momento de polémica" que causou "vergonha" dentro do PSD

Assunto fechado, mas que criou incómodo a várias pessoas dentro do partido. Um deputado do PSD, que falou com a CNN Portugal sob condição de anonimato, disse sentir-se “envorgonhado” com as declarações de Núncio. “Vir alguém de uma candidatura do centro democrático elogiar a circunstância de se ter lutado por impedir as condições de realização da interrupção voluntária da gravidez é uma coisa na qual eu não me revejo nem 1%”.

Paulo Núncio, durante um debate promovido pela Federação Portuguesa pela Vida, disse esta quarta-feira ser favorável a  iniciativas “no sentido de limitar o acesso ao aborto” e deu como exemplo as taxas moderadoras, introduzidas pelo governo de Passos Coelho, em 2015, e depois revogadas pela maioria parlamentar de esquerda. "Devemos ter a capacidade de tomar iniciativas no sentido de limitar o acesso ao aborto e logo que seja possível procurar convocar um novo referendo no sentido de inverter esta lei que é uma lei profundamente iníqua", afirmou ainda o candidato pelo círculo eleitoral de Lisboa nas listas da AD.

 

Luís Montenegro no final do discurso no comício ao ar livre em Évora/ LUSA

“O Paulo Núncio tem direito a ter uma opinião completamente diferente da minha, aquilo que me incomoda é ele vangloriar-se que em 2015 o PSD fez tudo para impedir as condições da IVG”, diz o mesmo deputado, sublinhando que “quem recorre ao aborto o faz num ato limite”, portanto “vangloriar-se por isso é uma coisa na qual não me revejo minimamente”.

Certo é que quando essa medida foi introduzida, Luís Montenegro era presidente do Grupo Parlamentar do PSD e à esquerda fez-se questão de cavar este passado. "Luís Montenegro esteve contra o direito ao aborto sempre que pôde no parlamento", disse Joana Mortágua em Almada, por onde o líder do PSD era suposto ter passado mais tempo. 

Também Pedro Nuno Santos saltou para o ataque: "Aquilo que nós vemos é uma AD a querer voltar para trás. Voltar para trás para onde? Ao tempo da prisão, da criminalização e do risco de vida para a mulher? Porque esse tempo nós já o ultrapassámos. Nós queremos apontar para o futuro, não é apontar para o passado", afirmou.

Para Paulo Rangel, estes ataques da esquerda, principalmente do PS, “mostram como foram totalmente ultrapassados”. “Qualquer coisa que aconteça nesta campanha é logo para eles um cavalo de bandeira”. “A posição da AD foi sempre de não mexer nesta questão. Agora, sabemos que nestas matérias existe liberdade de consciência. Os deputados pensam o que quiserem”, acrescenta.

É AD, não é ADN, lembra Montenegro (não vá o eleitor enganar-se)

Em dia de outra sondagem positiva, que dá a AD com 33% - mais seis pontos que o PS, Luís Montenegro caminhou pelas ruas de Évora com um sorriso no rosto, parando a cada momento para cumprimentar pessoas ou entrar em lojas que, dada a enchente, acabaram por assustar duas clientes que estavam encostadas a uma agência de viagens. Fugiram para dentro do estabelecimento e, segundos depois, entrou Montenegro e Melo. Quando os dois voltaram, avançaram para a multidão erguendo com os dedos um vê de vitória.

Antes de discursar Carlos Moedas, Nuno Melo, olhou para a quantidade de pessoas que o ouviam e disse que “com esta força, não podemos perder as eleições” e desvalorizou as sondagens: “não acreditem, não se animem em demasia”, pediu lembrando aquela que dava a derrota de Moedas em Lisboa.

Já Montenegro insistiu no ataque ao “estado social socialista”, insistindo na ideia que o PS “quer mais Estado, quer utilizar o Estado para si próprio”. “É mesmo caso para dizer que quando o PS vai para o Governo deixa o Estado todo partido e deixa também partido todo no Estado. Nós nem queremos o Estado partido, nem queremos o partido no Estado, que existe para servir”. 

Antes de abandonar mais um dia de campanha, Montenegro fez ainda um aviso, dada a semelhança nos boletins de voto entre o nome ALIANÇA DEMOCRÁTICA e ALTERNATIVA DEMOCRÁTICA NACIONAL. “Esta candidatura tem uma sigla AD, com os três símbolos. Há uma outra candidatura que é o ADN que não tem nada a ver connosco, o voto da esperança e da energia positiva é o da Aliança Democrática”.

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