Jovens: “Não somos vistos como um bloco atrativo e por isso não estamos na agenda política”

28 nov 2021, 18:03
Debate no Novos Encontros Juventude. Fotografia de Pedro Pina

Prever como será o futuro dos jovens é olhar para as dificuldades de hoje, muitas delas presentes há décadas. No segundo dia do Novos Encontros Juventude, que decorreu este fim de semana em Lisboa, os jovens falaram do que pode ser feito no futuro

'Jovens: que futuro?' A questão deu mote ao debate entre jovens e foi lançada um pouco antes por Howard Williamson, professor de Política Europeia da Juventude na Universidade de South Wales, que marcou presença no segundo e último dia da conferência Novos Encontros Juventude, organizada pela Fundação Francisco Manuel dos Santos e que decorreu durante o fim de semana em Lisboa.

As dificuldades económicas e de acesso à habitação - espelhadas no retrato Os Jovens de Portugal, hoje - são vistas como a base para a incapacidade de emancipação da juventude de hoje. Mas a falta de representatividade é também um entrave e aos mais variados níveis.

Adriana Cardoso, licenciada em Ciências Farmacêuticas, defendeu o poder que os jovens têm no futuro, mas lamentou o facto de esse mesmo poder e os próprios jovens nem sempre serem tidos em conta. “Uma geração como a minha, que vive com salários baixíssimos, com problemas de acesso à habitação" é ainda alvo de "falta de representatividade política” e por isso, disse, não tem a atenção devida. “A minha geração não aparece como não lhes é permitido aparecer. (...) Não somos vistos como um bloco estável, como um bloco atrativo, e por isso não estamos na agenda política”, frisou.

Numa visão mais otimista, Afonso Eça, professor convidado na Nova SBE, defendeu que “a nossa geração tem um desafio muito semelhante das anteriores, que é deixar o caminho aberto para as futuras”, mas acredita que Portugal tem “a geração mais informada de sempre e tem de ser capaz de resolver os problemas”, como do clima. Porém, reforçou a importância de “dar oportunidade” aos mais jovens, não só de se fazerem ouvir, mas também de agir.

Na primeira intervenção do dia, ainda antes do debate que colocou os jovens a falarem da sua geração, Howard Williamson reconheceu que a sua geração "foi otimista, mas temos agora uma geração não tão otimista”, o que, disse, é percetível, visto que “temos de colocar responsabilidade na minha geração” por ter comprometido a juventude de agora. Para o professor e investigador britânico, importa agir o quanto antes e espera que o próximo ano, que será o Ano Europeu da Juventude, traga mudanças. “Temos aqui a oportunidade”, assegurou.

Emancipação adiada

Sair de casa dos pais quando se quer, ter um emprego estável e ser financeiramente independente são cenários distantes para os jovens portugueses, tal como mostrou o retrato apresentado ontem. “Falta de conforto para arriscar”, disse Afonso Eça, também co-fundador da start-up Raize, apontando para a “falta de alternativa” é, muitas vezes, o maior obstáculo dos jovens adultos serem mais proativos.

João Pedro Vieira, presidente da direção do Conselho Nacional de Juventude, disse que “é preciso ter um rendimento para [um jovem] se emancipar e continuar emancipado”, mais um dos atuais entraves dos jovens portugueses, que “têm uma ânsia cada vez maior em sair de casa dos pais. Muitos veem-se obrigados a lá ficar porque não têm como subsistir, muitos recebem menos de 950€ por mês, como mostra o estudo”, que revela ainda que 43% dos jovens com idades entre os 15 e os 34 anos ainda vivem em casa dos pais.

“Há muita cultura do medo, da tomada do risco do investimento, porque não há uma segurança, não há uma rede que ampare”, lamentou João Pedro Vieira, reforçando que “é preciso, em termos políticos, podemos transformar isto, não só com o PRR [Plano de Recuperação e Resiliência]”, concluiu João Pedro Vieira.

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