"Senti-me o ser humano mais solitário do planeta". James Cameron, realizador do Titanic, mergulhou 33 vezes até aos destroços do navio

CNN Portugal , BCE
22 jun 2023, 10:24
James Cameron (AP Photo/Joel Ryan)

Realizador descreveu a experiência em várias entrevistas que fez ao longo dos anos. Para James Cameron, explorar as profundezas dos oceanos é "o testemunhar de um milagre" e não uma experiência para aumentar "o ego de um homem rico"

James Cameron, um dos realizadores mais bem sucedidos de Hollywood, é considerado um dos mergulhadores e exploradores dos oceanos mais experientes do mundo, não fosse ele o realizador do filme Titanic, lançado em 1997. Na verdade, James Cameron só quis fazer o filme para ter a oportunidade de observar de perto os destroços do navio que naufragou em 1912, qual "Monte Evereste dos navios naufragados", como o descreveu.

"Eu fiz o Titanic porque queria mergulhar até aos destroços do navio, não porque queria particularmente fazer o filme. O Titanic era o Monte Evereste dos navios naufragados e, como mergulhador, eu queria fazê-lo bem", revelou em entrevista, em 2009.

Desde então, o realizador, de 68 anos, já fez 33 mergulhos aos destroços do Titanic, numa experiência semelhante à dos cinco tripulantes que seguiam a bordo do submersível Titan, que desapareceu no domingo, no Atlântico. Apesar da insistência da CNN Internacional, James Cameron ainda não se pronunciou sobre o desaparecimento deste submersível, mas já descreveu por várias como é explorar as águas mais profundas do mar - ou, como descreveu algumas vezes, como é "testemunhar um milagre".

A paixão pelas profundezas do mar começou na infância, como contou à National Geographic. Apesar de ter crescido em Ontário, no Canadá, a vários quilómetros do mar, o pequeno James Cameron já acompanhava "com espanto" os documentários do explorador marítimo Jacques Cousteau.

Quando tinha 14 anos, visitou o Museu Royal Ontario, em Toronto, onde se cruzou com uma exibição de um habitat subaquático projetado por Joe MacInnis, mergulhador canadiano que participou na primeira expedição para localizar os destroços do Titanic, em 1985. James Cameron ficou de tal forma fascinado com a exposição que não resistiu a escrever uma carta a Joe MacInnis. E não quis acreditar quando recebeu uma resposta.

"Ele enviou-me mesmo o contacto dele no fabricante do acrílico Plexigas. Eu contactei-os e eles enviaram-me uma amostra do acrílico. A partir daí, eu tinha a janela [para o habitat subaquático]. Só tinha de construir o resto. Isso foi importante. Criou uma sensação de que seria possível", recordou.

O mergulho mais profundo num submersível de sete metros

Mais tarde, já em 2012, o realizador mergulhou até à fossa das Marianas, considerada um dos pontos mais profundos dos oceanos, situada a mais de 11 quilómetros abaixo da superfície do mar. E fê-lo num submersível com cerca de de sete metros de comprimento que o próprio ajudou a projetar e designou por Deepsea Challenger (Desafiador do Mar Profundo, em tradução livre).

James Cameron levou câmaras para documentar toda a viagem no Pacífico e contou a experiência num documentário da National Geographic: "Eu parti como uma bala, nunca vi nada tão rápido. A superfície [do mar] apenas ficou para trás. O submersível corria como um morcego para fora do inferno."

E rapidamente ultrapassou a profundidade do Titanic, disse. Atingiu os 8.229 quilómetros abaixo da superfície, a distância mais profunda que alguma vez mergulhou. E ainda faltavam mais de 2 quilómetros para chegar ao fundo do mar.

À medida que foi descendo, contou, foi-se sentido cada vez mais solitário e diminuído do resto do mundo. Até que ouviu a voz da sua mulher, Suzy Amis Cameron, que interpretou o papel de Lizzy Calvert no filme Titanic, através do sistema de comunicações que ligava o submersível à superfície.

"Estou aqui, no sítio mais remoto do planeta Terra, (...) e sinto-me o ser humano mais solitário do planeta, completamente fora da realidade, sem qualquer possibilidade de resgate neste local que o olho humano nunca viu. E a minha mulher contacta-me. É claro que foi muito querido", recordou.

O realizador descreveu toda a experiência de explorar as profundezas do mar como "o testemunhar de um milagre". "Isto não se trata do ego de um homem rico. Isto é sobre o facto de teres tanto tempo neste planeta, tanta vida. Tens de fazer alguma coisa. Se alguém tem a sorte de ter algum dinheiro, porque não gastá-lo num sonho?", questionou, no programa 60 Minutos da Austrália.

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