Comboios parados, pessoas retiradas de casa: incêndio em Ourém é "violento, complexo" e de "dimensão assustadora"

CNN Portugal , MJC - atualizada às 08:00 deste sábado
19 ago 2022, 20:14

Incêndio deflagrou pelas 14:40 de sexta-feira e durante a manhã deste sábado mobilizava mais de 700 operacionais apoiados por mais de 220 veículos

O incêndio que deflagrou esta sexta-feira à tarde em Ourém obrigou ao corte da circulação de comboios na Linha do Norte e atingiu um aviário, disse à Lusa fonte do Comando Distrital de Operações de Socorro (CDOS) de Santarém. "O incêndio está ativo com muita intensidade. A velocidade de propagação é muito elevada, motivada por projeções a longa distância", explicou o CDOS de Santarém.

À noite, o vento continuava a “afetar as ações de combate” ao incêndio que lavrava desde às 14:40. “Ainda temos algum vento no local que está a afetar as ações de combate” às chamas, referiu à Lusa fonte do Comando Distrital de Operações de Socorro (CDOS) de Santarém. De acordo com a mesma fonte, pelas 23:20, o incêndio estava a “arder com intensidade” e a ser feito um reforço de operacionais.

“Encontramo-nos a colocar meios [de combate] de reforço nos locais [do fogo]. Estamos um pouco menos de 600 operacionais – 570 –, mas tendência vai ser para aumentar” durante a noite, anotou. No local estavam mais de 150 viaturas.

Já cerca das 8:00 deste sábado, 729 operacionais com o apoio de 223 viaturas, de acordo com o site da Autoridade Nacional de Emergência e Proteção Civil (ANEPC).

Antes, num ponto da situação pelas 23:30, fonte do Comando Distrital de Operações de Socorro (CDOS) de Santarém previu que não se daria uma "recuperação noturna" devido à escassa humidade no ar.

“Aquilo que prevemos é que haja uma redução da intensidade do vento no período noturno, no entanto, as previsões meteorológicas vão ser desfavoráveis”, disse à Lusa.

Cerca de 50 pessoas foram retiradas de casa

O incêndio lavra desde o início da tarde desta sexta-feira na freguesia de Espite, em Ourém. Pelas 19.00, a frente de fogo teria já mais de cinco quilómetros de extensão e "uma dimensão assustadora", segundo o repórter da CNN Portugal António Crespo, que se encontra na aldeia da Pederneira. Trata-se de "incêndio violento e muito complexo", cujo combate tem sido dificultado pelas elevadas temperaturas, pelo vento intenso e pelo relevo do terreno. Além disso, há outros focos de incêndio nas proximidades.

À tarde, o incêndio não atingiu nenhuma habitação, mas várias estradas foram cortadas e cerca de 50 pessoas foram retiradas das suas casas por precaução e na sua maioria foram transportados para o lar de Espite.

“Estamos a falar de um território muito disperso, com casas muito dispersas no meio da floresta, e por uma questão de precaução entendemos por bem ir evacuando algumas casas, prevendo que o fogo poderia chegar perto dessas casas. Isso efetivamente foi feito, mas povoações inteiras não”, explicou à Lusa o presidente da Câmara de Ourém, Luís Albuquerque.

“Os meios [de combate] estão finalmente a chegar ao teatro de operações e esperamos que, com a chegada desses meios, nós consigamos daqui a algum tempo uma situação bem melhor do que aquela que temos tido durante a tarde”, disse o presidente da câmara ao final da tarde, sublinhando no entanto que as condições atmosféricas ainda “não são favoráveis”, perspetivando “uma noite de muito trabalho”.

“As condições não são favoráveis, mas são mais favoráveis do que eram há uma ou duas horas, com a diminuição da temperatura, com o aumento da percentagem de humidade e também, neste momento, com a acalmia do vento”, indicou. “Será uma noite de muito trabalho, esperando que os meios [de combate] que estão em trânsito (...) possam chegar o mais rápido possível para ver se conseguimos começar a dominar o incêndio”, acrescentou.

A tarde de sexta-feira também ficou marcada por um acidente entre um veículo dos bombeiros, que combatia este incêndio, e um automóvel, tendo provocado três feridos ligeiros, ocupantes da viatura particular, que foram assistidos no Hospital de Leiria.

Passageiros da CP fazem a viagem de autocarro

Foi interrompida, por ordem da Proteção Civil, a circulação de comboios entre as estações de Caxarias e Albergaria dos Doze. Vários comboios estão parados ao longo da Linha do Norte, aguardando o restabelecimento de condições de segurança que permitissem retomar a circulação. De igual forma, algumas partidas de comboios foram retardadas nas estações de origem.

A CP – Comboios de Portugal indicou à Lusa, pelas 21:15, que já havia encontrado “empresas de transporte rodoviário no sentido de providenciar soluções de transbordo”.

"A principal preocupação da CP nesta situação é garantir a segurança dos seus clientes, pelo que se mantém em contacto permanente com as entidades envolvidas no combate ao incêndio para acompanhar o evoluir desta situação, e encontrar as soluções possíveis para a sua resolução", diz o comunicado da CP.

Destruição de aviário na Urqueira provoca prejuízo de 1 milhão de euros

O incêndio destruiu um aviário, provocando um prejuízo de cerca de um milhão de euros, disse à Lusa fonte da empresa situada em Resouro, na freguesia de Urqueira.

“O pavilhão que ardeu era o mais recente e estavam lá dentro 200 mil galinhas poedeiras novas. Cada uma custa cerca de cinco euros, pelo que o prejuízo é enorme”, lamentou a mesma fonte. Segundo explicou, o fogo foi “muito rápido”. “De um momento para o outro já estava tudo a arder e não havia nada a fazer”, resignou-se.

Desde que começaram, as chamas ameaçaram várias habitações, tendo obrigado os populares a munirem-se de mangueiras e baldes para tentarem apagar as projeções que ateavam focos de incêndio. Sem bombeiros por perto, porque as solicitações eram muitas como se percebia através do som do rádio dos operacionais, junto à Igreja de Resouro foram os militares da GNR que ajudaram os habitantes e apagar as chamas que se aproximavam de uma casa.

Ao se aperceberem da dificuldade dos moradores em extinguir o fogo, os militares rapidamente procuraram mangueiras nas imediações e água, porque em algumas habitações a mesma já não corria. Apesar do material rudimentar, os militares conseguiram debelar as chamas e seguiram para outro ponto do concelho de Ourém.

As pessoas reconhecem o trabalho dos operacionais e mesmo sendo obrigadas a proteger as suas casas por falta de bombeiros, afirmavam que “eles não podem estar em todo o lado”.

“Está tudo a arder”, atestavam.

Ao longo de toda a freguesia de Urqueira, as chamas eram visíveis em quase todas as direções. Na estrada, os veículos de bombeiros corriam para todo o lado para tentar acorrer ao maior número de pessoas, ajudando a proteger os seus bens. A população recorda anteriores incêndios que também atacaram a vila, mas confessam que este é maior.

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