“Uma praga que envergonha a Igreja”: para José Ornelas, qualquer caso de abuso sexual é "uma derrota" e "é elevado" (uma resposta indireta a Marcelo)

12 out 2022, 17:18
José Ornelas (Lusa/António Cotrim)

Marcelo Rebelo de Sousa veio dizer que os 424 casos identificados não é um “número particularmente alto”. José Ornelas não responde diretamente às declarações do Presidente da República mas reconhece que é “elevado”

O presidente da Conferência Episcopal Portuguesa, José Ornelas, defendeu que a Igreja está mais interessada em conhecer a realidade que escondem os números dos abusos sexuais no seio da instituição.

“Não fazemos uma questão de números, o que queremos é saber a realidade que existe”, afirmou em Fátima, na véspera da grande peregrinação anual do 13 de outubro. E acrescentou: “qualquer número é sempre demasiado e a gente trabalha para acabar com ele”.

Para José Ornelas, “cada caso [de abusos de menores na Igreja] que acontece é uma derrota, antes de mais porque alguém sofre e foi espezinhado nos seus direitos fundamentais”. Esta realidade “contradiz tudo aquilo que somos e queremos ser como Igreja”.

O “caminho a trilhar”, garantiu, é o de “chegar à verdade das coisas” para, “o mais possível, nos vermos livres desta praga que a todos nos envergonha”.

Sobre um segundo caso de alegado encobrimento de abusos sexuais da sua parte, José Ornelas explicou que nunca ouviu “nenhuma declaração da eventual vítima, que sempre se declarou não vítima”. “Eu nunca ouvi diretamente dele. Este é o momento em que a Justiça deve investigar”, completou.

O responsável não descartou que o seu nome possa vir a ser envolvido em novos casos de alegado encobrimento de abusos. Mas, “se houver alguma coisa, vou responder”, garantiu.

José Ornelas reforçou que não foi notificado pelo Ministério da República quanto à queixa reencaminhada pela Presidência da República. “Esta é a hora da justiça. Não quero fazer demasiados comentários sobre isso”, afirmou.

Marcelo Rebelo de Sousa veio dizer esta terça-feira que os 424 casos de abusos sexuais identificados pela comissão da Igreja dedicada a esta matéria não é um número “particularmente elevado”. José Ornelas recusou comentar as declarações do Presidente da República mas, durante a conferência, reconheceu que o número é “elevado”.

José Ornelas terá encoberto denúncias relativas a abusos sexuais cometidos num orfanato em Moçambique, em 2011. Liderava então a Congregação dos Sacerdotes do Sagrado Coração de Jesus, que tutelava a instituição. Em ambas as situações tem insistido que não houve qualquer encobrimento, tendo lidado com as situações de que teve conhecimento.

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