Uma nova ofensiva

16 dez 2022, 09:53

Os avisos da Ucrânia sobre a grande operação da Rússia no início do ano

O ruído da guerra de informação que corre paralela ao conflito, ecoa um padrão constante, que se repete e repete na linha de tempo destes nove meses volvidos. Aqui chegados, sempre que as dinâmicas do terreno de batalha estão por mudar e acontecer, os sussurros dessas grandes viragens são alimentados pelos avisos que se vão multiplicando, dias fora, semanas adentro, até consumarem a realidade. Tem sido assim desde que a invasão começou e com o final do ano perto, a terra treme na antecipação de outro marcador na cronologia da guerra. 

Como um terramoto que sentimos chegar, é também isso que sentimos agora com os ecos de uma nova, grande ofensiva russa. Quem avisa são os próprios ucranianos, numa operação de comunicação repetitiva, concertada, entre os palcos diplomáticos e as publicações de referência. Ministros, conselheiros presidenciais, chefias militares, vieram a público esta semana, intencionalmente, alertar para a contagem decrescente de um enorme assalto. Acreditam que está para as primeiras horas do novo ano, algures nos primeiros meses de 2023, o mais tardar em Março. E acreditam que possa incluir até uma tentativa de tomar a capital, outra vez.

Do outro lado da trincheira, do lado russo, há 150 mil soldados em formação que deverão ser mobilizados. O congelamento do conflito, tantas vezes repetido, como um eco do futuro, toma agora maior clareza: serve para lançar uma nova ofensiva. A estratégia pública da Ucrânia em denunciar os planos de Moscovo permite assim situar o próximo capítulo do conflito e manter a pressão sobre o apoio do Ocidente. Os relatos do iminente fornecimento dos sofisticados e muito procurados sistemas “Patriot” dos Estados Unidos é igualmente uma demonstração de como a lista de armas dos ucranianos pode agora entrar num outro patamar perante o novo assalto russo.

É desta forma que interpretamos o sentido de todos os estes sinais. Porque na guerra da informação que corre paralela ao conflito, o significado final das coisas demora o seu tempo a juntar todas as peças que vão surgindo como episódios soltos na linha de tempo, aparentemente sem interligações, dos corredores do Pentágono aos corredores do Kremlin, até formarem uma narrativa que acaba por confirmar a realidade.

E em todos estes ecos, a expectativa cresce. Depois de cancelar a conferência de imprensa anual com jornalistas (o que não acontecia há mais de uma década), Vladimir Putin também adiou o seu importante discurso anual à Assembleia russa para o próximo ano. Para lá do que é interpretado como a perda de controlo da narrativa, haverá aqui, por outro lado, uma outra explicação? Servirá esse discurso para anunciar então uma nova ofensiva?

Nove meses volvidos, os sinais vão-se multiplicar nas próximas semanas. Prestemos atenção. 

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