Aviões, mais armas e talvez fé. O que Zelensky foi buscar e o que conseguiu de Londres, Paris, Berlim e Roma

15 mai 2023, 18:00
Volodymyr Zelensky (Federico Gambarini/AP)

Em apenas dois dias, o presidente ucraniano percorreu algumas das principais capitais do continente europeu, onde voltou a pedir apoio reforçado, e de onde retirou promessas importantes

Ainda não são os aviões que o presidente da Ucrânia pede há meses, mas é um passo mais próximo disso. Volodymyr Zelensky discutiu com o primeiro-ministro do Reino Unido a possibilidade de vir a receber caças do Ocidente, ouvindo de Rishi Sunak uma resposta que é um passo em frente rumo a esse desejo: as forças britânicas vão treinar os pilotos ucranianos num futuro “relativamente próximo”.

O objetivo da Ucrânia, e que Zelensky levou até à casa de campo de Chequers, é formar uma “coligação de jatos”, um passo que espera que leve ao comprometimento dos países da NATO, que continuam relutantes em avançar com grandes decisões de forma bilateral.

Apesar da possibilidade, Downing Street já veio esclarecer que, a acontecer, o fornecimento de caças não vai chegar de Londres. “Os ucranianos tomaram a decisão de treinar os pilotos em F-16, e vocês sabem que a Força Aérea Real não os usa”, disse o porta-voz do primeiro-ministro, dizendo acreditar que esse tipo de negociações pode estar a ocorrer com outros países que utilizam este tipo de aeronaves. Recorde-se que Portugal é um dos países da NATO que tem F-16 na sua frota.

“Este verão, vamos começar a fase elementar de voo para os pilotos ucranianos aprenderem as bases. Vai ser uma adaptação do programa usado pelos pilotos britânicos para dar aos ucranianos as capacidades de voo que podem aplicar aos aviões. Este treino surge após esforços do Reino Unido com outros países para fornecer caças F-16, os caças escolhidos pela Ucrânia”, pode ler-se no comunicado de Downing Street, que também prometeu outros apoios, “desde tanques a treino, de munições a carros de combate”.

Do lado de Kiev, segundo o presidente, esperam-se “decisões importantes em breve”.

A ajuda alemã

Mais concreto foi o anúncio da Alemanha, que prometeu cerca de 2,7 mil milhões de euros de ajuda a Kiev. Ainda Zelensky estava a partir para Berlim e já o ministério alemão da Defesa anunciava o reforço da ajuda, naquele que é o maior pacote enviado pelo governo germânico desde o início da guerra.

Além de tecnologia militar, o novo pacote vai ter mais 30 carros de combate Leopard, bem como drones de reconhecimento e munições.

“Com esta valiosa contribuição de material militar urgentemente necessário, estamos novamente a mostrar que a Alemanha está a falar a sério sobre o seu apoio”, afirmou o ministro da Defesa, Boris Pistorius, que voltou a reiterar que Berlim vai dar toda a ajuda necessária e enquanto isso for necessário.

Uma ajuda que se segue à que tem sido fornecida por Berlim, e que continua em solo alemão. De resto, Zelensky viu, in loco, o treino de militares ucranianos na cidade alemã de Aachen, onde o presidente ucraniano recebeu o prémio Carlos Magno.

"A sua visita a Berlim envia uma mensagem forte. A agressão brutal da Rússia contra o seu país acontece há 444 dias. Vamos dar-vos todo o apoio humanitário, político e financeiro, bem como armas, enquanto for necessário", escreveu Olaf Scholz, depois de se encontrar com o presidente ucraniano.

A vez de Macron

Da Alemanha, Zelensky seguiu para França, que anunciou o envio de dezenas de veículos militares para a Ucrânia, num comunicado assinado em conjunto pelos dois presidentes.

Um anúncio que inclui carros de combate AMX-10RC, e que surgiu depois de um jantar entre os dois líderes, que estiveram mais de três horas no Eliseu.

This evening, with President Zelensky, we took stock of Ukraine's operational needs to face Russia's aggression.
 

France will continue to provide political, financial, humanitarian and military support to the Ukrainians as long as it takes.…

 

— Emmanuel Macron (@EmmanuelMacron) May 14, 2023

Paris também deverá fortalecer as capacidades de defesa aérea de Kiev, garantindo, assim, o seu "compromisso com a independência, soberania e integridade territorial da Ucrânia".

"[França] vai continuar a dar apoio político, financeiro, humanitário e militar à Ucrânia enquanto for preciso", pode ler-se na declaração, que coloca a necessidade de uma cooperação da União Europeia, mas também da NATO.

Ir a Roma e ver o Papa

A viagem pela principal capital europeia começou em Itália, depois de ter sido anunciada uma visita-surpresa a Roma, mas também ao Vaticano, onde Zelensky pediu ao Papa que condenasse os crimes russos na Ucrânia, "porque não pode haver igualdade entre vítima e agressor".

"Estou grato pela atenção pessoal dada à tragédia de milhões de ucranianos", reiterou, já depois de ter estado com o presidente e a primeira-ministra de Itália. Ainda que menos concreta que Paris, Londres ou Berlim, Roma também garantiu que vai continuar a apoiar a Ucrânia na luta contra a Rússia.

Um périplo que, segundo o próprio Zelensky, terá terminado como pretendido: “A prioridade eram as ações da contraofensiva, estou muito agradado pelos feitos e acordos que conseguimos”, disse, citado pela agência Reuters, à saída do Reino Unido.

Sempre de olho na NATO

É um desejo antigo, mas que tem sido reforçado com a agressão russa. A Ucrânia quer mesmo aderir à NATO, e a Aliança Atlântica parece pronta para a receber. Só que há uma questão de timing a separar as duas partes.

O presidente ucraniano pediu, em declarações emitidas esta segunda-feira na Cimeira da Democracia de Copenhaga, que essa adesão comece a ser já discutida em julho, quando o bloco se juntar em Vilnius, Lituânia, para a sua reunião anual.

Só que o secretário-geral da NATO parece intransigente no ponto principal: discutir a presença da Ucrânia na aliança sim, mas só quando terminar a guerra. É que, como avisa Jens Stoltenberg, enquanto o conflito com a Rússia durar, os ucranianos não podem aderir, uma vez que isso vai contra os estatutos da organização.

"A Ucrânia tem direito a escolher o seu próprio caminho. Não é Moscovo que decide o que a Ucrânia pode fazer, é a Ucrânia", reiterou, referindo que o principal objetivo é garantir que o "presidente Putin não ganha esta guerra".

"Porque só quando a Ucrânia prevalecer como uma nação independente e soberana na Europa é que faz sentido discutir quando e como pode tornar-se um membro", acrescentou.

Até lá, avisou Jens Stoltenberg, todos os membros da NATO devem ter cuidado na forma como lidam com os apoios que dão, não devendo entrar em relações bilaterais que excedam aquilo que tem sido o apoio prestado pela Aliança Atlântica, uma vez que isso colocaria em perigo o Artigo 5, o tal que obriga os países a defenderem um aliado em caso de ataque.

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