"Ali, lutam todos". Papa Francisco diz que guerra na Ucrânia não é alimentada apenas pelos interesses do "império russo"

10 mar 2023, 10:04
Papa Francisco (Associated Press)

Sumo Pontífice falou à televisão suíça e contou que, logo no segundo dia de guerra, foi à embaixada russa no Vaticano pedir para que Putin o recebesse em Moscovo, tendo recebido resposta da parte de Sergei Lavrov

O Papa Francisco defendeu, em entrevista ao canal de televisão suíço em língua italiana RSI, que a guerra na Ucrânia está a ser alimentada pelos interesses de vários "impérios", e não apenas pelos interesses do império russo. O Sumo Pontífice deixou ainda claro que está pronto para falar com o presidente russo e pedir-lhe paz a qualquer momento e que considera que já começou a "terceira guerra mundial".

A entrevista, da qual se conhecem apenas excertos, será transmitida na íntegra no próximo domingo, ainda que as declarações do Papa tenham tido eco já esta sexta-feira na imprensa internacional.

Francisco defendeu que está em curso uma terceira guerra mundial, dado o envolvimento das grandes potências no conflito em território ucraniano. "O campo de batalha é a Ucrânia. Ali, lutam todos. Isto faz pensar na indústria das armas. Faz-se guerra, vendem-se armas, experimentam-se novas", disse o Papa, declarando-se frontalmente contra "guerras santas" porque "não são o espírito de Deus".

Ainda sobre a guerra na Ucrânia, o Papa respondeu o que diria a Putin se pudesse reunir-se com ele. "Falar-lhe-ia claramente como falo em público. É um homem culto", disse Francisco, lembrando que já teve oportunidade, antes da guerra, de conhecer o presidente russo. 

Nesta entrevista, o Sumo Pontífice conta mesmo ao jornalista da estação suíça que, no segundo dia da invasão russa da Ucrânia, foi à embaixada da Rússia no Vaticano para dizer que estava disposto a ir a Moscovo se Putin lhe deixasse uma aberta para negociar a paz. "Escreveu-me Lavrov [ministro dos Negócios Estrangeiros russo] a agradecer mas dizendo que não era o momento. Putin sabe que estou à disposição. Mas são os interesses imperialistas, não apenas do império russo, mas dos impérios de outras partes. É próprio dos impérios deixarem as nações em segundo lugar", sublinhou. 

Em setembro do ano passado, numa entrevista exclusiva à CNN Portugal, o Papa Francisco admitiu que estava em "diálogo" tanto com Vladimir Putin como com o presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, revelando que os problemas de saúde não lhe tinham permitido, até à data, deslocar-se a Moscovo ou a Kiev.

"Tenho mantido contacto, por telefone… E faço o que posso. E peço a toda a gente que faça o que puder. Entre todos, pode fazer-se alguma coisa. Acompanho com a minha dor e com as minhas orações tudo o que consigo. Mas a situação é deveras trágica", declarou. O Papa referiu ainda, na mesma ocasião, que vários representantes do Vaticano estiveram em Kiev desde o início da guerra e que conseguia manter na Ucrânia uma "presença forte".

O chefe da Igreja Católica tem várias vezes chamado a atenção para o conflito na Ucrânia também durante as audiências na Praça de São Pedro, no Vaticano. Já chegou mesmo a dizer que os ucranianos estão a ser vítimas de "monstruosidades, selvajaria e tortura", sem no entanto referir a responsabilidade russa. Ainda assim, referiu que o sofrimento atual dos ucranianos faz lembrar o “genocídio causado por Estaline”, quando assinalava o 90.º aniversário "do terrível genocídio do Holodomor, o extermínio por fome artificialmente causado por Estaline entre 1932-1933”.

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