"A Ucrânia passou uma linha vermelha" e as "surpresas" não vão ficar por aqui. Mas "convém" não ignorar Putin

13 mar, 22:08

Forças ucranianas terão lançado um drone na direção da central nuclear de Rostov, na Rússia

Até domingo - último dia das eleições russas -, a Ucrânia não vai parar de atacar alvos em território russo, tem a certeza o major-general Agostinho Costa, especialista em assuntos militares para quem até já "houve um ataque que é preocupante". "Hoje, a Ucrânia passou uma linha vermelha", avisou. "O ataque feito na zona de Rostov foi o primeiro desta natureza, um ataque a uma central nuclear."

O comentador da CNN Portugal explica que para além do ataque que deixou a refinaria Novoshakhtinsk, na região russa de Rostov, inoperacional, as tropas de Kiev lançaram ainda um drone na direção da central nuclear de Rostov, em Volgodonsk. "O drone foi abatido", realça Agostinho Costa, mas, para o major-general, aos olhos do direito internacional “isto é uma linha vermelha”.

O especialista militar recorda as palavras da subsecretária de Estado dos EUA Victoria Nuland, que durante a visita a Kiev no início de fevereiro, antecipou "surpresas agradáveis para o sr. Putin". Ou seja, "tudo indica que nos próximos dias a Ucrânia vai atacar alvos que são sensíveis”, no entendimento do major-general.

O drone lançado contra a central de Rostov foi apenas um dos 58 lançados desde segunda-feira naquele que "talvez tenha sido o maior ataque que a Ucrânia fez em termos operacionais no território da Rússia".

Em Energodar, também se registou um ataque nos arredores da central nuclear de Zaporizhzhia, mas que teve como alvo equipamentos de vigilância, o que, para o major-general, "perspetiva novos ataques nos próximos dias".

"O principal objetivo é Moscovo", diz o major-general, explicando que todos estes incidentes estão altamente relacionados com as eleições russas que decorrem no domingo. “O alvo dos ataques ucranianos não é militar ou político, mas sim a população russa. Que efeitos têm tido? Criam uma pressão psicológica e são fundamentalmente mediáticos, metem-nos a falar da Ucrânia", explica.

A doutrina nuclear russa

A Rússia acabou por responder aos ataques com uma nova ameaça nuclear. Putin reiterou a doutrina nuclear russa, aponta o major-general, lembrando que só Moscovo e Washington têm uma capacidade nuclear por ar, terra e mar, a "tríade nuclear".

“Putin disse que a tríade russa está mais avançada e isso é verdade”, considera Agostinho Costa, mas o major-general relembra que a experiência acumulada de anteriores conflitos colocam a Rússia como a potência mais preparada em ataques terrestres e os Estados Unidos têm o domínio no ar e no mar, deixando “a Rússia a viver com o fantasma de que o primeiro ataque do Ocidente seja aéreo”.

O comentador explica que o presidente russo aparenta "alguma descontração" perante os resultados que tem tido ao nível operacional e, por isso, "faz alertas e ameaças para o Ocidente”, mas que os próximos dias vão ser de ataques mútuos entre Moscovo e Kiev: "Vamos ver se durante a noite os bombardeiros russos não descolam para atacar a zona de Odessa."

Para além de tudo isto, o especialista militar alerta que "há uma preocupação" à margem do conflito e que pode inflamar os ânimos nos próximos dias: "Macron vai falar à população francesa na quinta-feira".

Retrocedendo alguns meses na fita cronológica da guerra na Ucrânia, Agostinho Costa relembra o que sucedeu com a adesão finlandesa à NATO: "Putin falou da Finlândia e posicionou na zona de São Petersburgo [perto da fronteira entre os dois países] mísseis nucleares estratégicos.”

"Convém ouvir-se o sr. Putin porque são alertas" e ter em conta que, perante os estados atuais dos arsenais militares ocidentais, que este é "o momento menos indicado para [o Ocidente] entrar em conflito com a Rússia", argumenta Agostinho Costa.

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