MNE polaco revela que há "soldados de países da NATO que já estão na Ucrânia". "Se a discussão já está neste nível, é porque haverá muitas carências do lado ucraniano"

11 mar, 15:06
MNE polaco, Radoslaw Sikorski (AP)

O Kremlin já reagiu, afirmando que os serviços secretos da Rússia “há muito que têm informações” da presença no território ucraniano de conselheiros “diretamente relacionados com a NATO”. Nada disto é "novidade", dizem os especialistas - ainda que possa ser um alerta para as "carências do lado ucraniano"

O ministro polaco dos Negócios Estrangeiros, Radoslaw Sikorski, afirmou este domingo que há “soldados de países da NATO que já estão presentes na Ucrânia”, sem revelar, contudo, a que países se referia. Uma declaração que, não sendo "novidade", como explicam os especialistas à CNN Portugal, foi descrita pela imprensa internacional - nomeadamente pela Nexta, um meio de comunicação da Bielorrússia - como "inesperada". 

“Eles sabem quem são, mas não posso divulgá-los”, disse Radoslaw Sikorski, citado pela imprensa internacional, numa conferência que assinalou, domingo, o 25.º aniversário da adesão da Polónia à NATO. O ministro dirigiu ainda um agradecimento a estes países que estão “a correr esse risco”.

O Kremlin já reagiu às declarações do ministro polaco, afirmando que os serviços secretos da Rússia “há muito que têm informações” da presença no território ucraniano de conselheiros “diretamente relacionados com a NATO”.

Os especialistas ouvidos pela CNN Portugal confirmam que as declarações de Sikorski “não são novidade”, uma vez que há “soldados a soldo” de países estrangeiros na Ucrânia pelo menos desde 2014 - “quer da Polónia, quer da Alemanha, da Lituânia, da Estónia e até de Portugal”, enumera Tiago André Lopes, professor de Relações Internacionais, lembrando uma reportagem da CNN Portugal que conta a história de um voluntário português que luta pelo lado da Ucrânia desde o início do conflito.

“Não estão é sob a bandeira do país, mas sim como contractors - isto é, militares que estão lá vestidos à civil e que cumprem funções de assessoria -, bem como agentes dos serviços de informações ocidentais - aliás, sabemos pelo New York Times que há bases militares montadas pela CIA ao longo da fronteira da Rússia e da Ucrânia e que estão lá desde 2014; são forças especiais que atuam como forças para apoio ao treino de militares ucranianos - e assessores técnicos, que estão lá tanto para a operação de equipamentos, como para o aconselhamento e planeamento”, explica o major-general Agostinho Costa.

Portanto, “o que Sikorski veio dizer foi confirmar aquilo que já todos sabemos”, sublinha o major-general.

Se não é novidade, porquê anunciá-lo como algo que é aparentemente confidencial, ao ponto de não nomear os países de onde os soldados são provenientes? Sobre esta questão, o major-general Agostinho Costa e o professor Tiago André Lopes têm pontos de vista diferentes. Se para Agostinho Costa estas declarações têm como intenção “procurar desmistificar a questão” em torno do envio de tropas da Aliança Atlântica para a Ucrânia, para Tiago André Lopes, as declarações de Sikorski podem ser entendidas como um alerta para eventuais “carências de militares” da Ucrânia. “

“O objetivo [de Sikorski] seria pressionar os governos da NATO a acelerarem um plano conjunto de envio de tropas. Se a discussão já está neste nível, é porque haverá muitas carências do lado ucraniano. As últimas duas vezes que houve tentativa de fazer o recenseamento militar, os números de soldados que o exército tem pedido não têm sido cumpridos, têm sido por defeito e não por excesso”, assinala o especialista em Relações Internacionais e Diplomacia. 

Tiago André Lopes lembra que os governos de países da NATO “têm sempre de anunciar às suas populações que vão passar a enviar batalhões para um território como a Ucrânia”. Portanto, “se de facto a NATO estivesse a enviar forças para um país que não é aliado da NATO, em bom rigor quem estaria a violar algumas regras do direito internacional seria a própria NATO, porque não estaria a abrir o jogo do ponto de vista diplomático”, acrescenta.

Mas esse é um cenário que parece pouco provável - pelo menos, para já, antecipa Tiago André Lopes. “Ao nível da NATO não há, neste momento, consenso para o envio de forças no âmbito de uma missão da NATO. Há forças individuais dos Estados, há vários soldados a título individual a combater, mas não há neste momento uma missão conjunta da NATO.”

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