Uma central nuclear em chamas, o apelo dramático da Ucrânia e as reações a Ocidente: a noite em que o mundo temeu uma catástrofe

4 mar 2022, 06:14

Chamas a pouca distância dos reatores, bombeiros sob tiroteio, um susto enorme: a madrugada desta sexta-feira ficou marcada por um incêndio na maior central nuclear da Europa, após ataque das forças russas. Joe Biden e Boris Johnson falaram com o presidente Zelensky - que acusa a Rússia de "terrorismo nuclear". O Reino Unido quer uma reunião de emergência do Conselho de Segurança das Nações Unidas para analisar o perigo nuclear deste conflito

A central nuclear de Zaporizhzhia esteve em chamas durante quatro horas após ataque das forças russas. O receio de um acidente catastrófico levou as autoridades ucranianas a fazer um dramático apelo de cessar-fogo.

“Pedimos aos americanos que fechem o espaço aéreo da Ucrânia. Por favor ajudem-nos!” - o apelo foi feito pelo porta-voz da central nuclear, entrevistado em direto pelo jornalista Anderson Cooper, da CNN.

O alerta internacional para o ataque surgiu por volta da meia noite, hora de Lisboa, mas esta investida russa era expectável: a Agência Internacional de Energia Atómica já tinha alertado para o perigo real de um ataque e a Ucrânia chegou a pedir ajuda imediata para evitar um desastre nuclear. A central nuclear de Zaporizhzhia, na cidade de Enerhodar, é responsável pela produção de um quarto da energia da Ucrânia. A dado momento do ataque, Dmytro Kuleba, ministro dos Negócios Estrangeiros e da Transição Energética ucraniano, fez um apelo dramático à Rússia para "parar imediatamente" os confrontos. "Se explodir, será dez vezes pior que Chernobyl".

O incêndio, que não passou de um enorme susto, deflagrou num edifício a cerca de 150 metros de um dos seis reatores da central nuclear. Estiveram envolvidos cerca de 40 operacionais dos serviços de emergência ucranianos e dez unidades de apoio técnicas. Contudo, os bombeiros enfrentaram dificuldades para combater as chamas, uma vez que chegaram a ser atingidos a tiro por tropas russas. A Agência Internacional de Energia Atómica garante que o incêndio não danificou equipamento essencial e que a central não sofreu qualquer dano "crítico". Os níveis de radiação permaneceram inalterados.

Incêndio na Central de Zaporizhzhia, em Enerhodar

A Casa Branca acompanhou de perto a evolução do incidente e os Estados Unidos chegaram mesmo a ativar a equipa de resposta a incidente nuclear. A secretária norte-americana para a energia garantiu, entretanto, que todos os reatores nucleares estariam a ser desligados em segurança. Joe Biden falou com o homólogo ucraniano e também Boris Johnson contactou o presidente Zelensky.

Zelensky acusa a Rússia de "terrorismo nuclear"

“Nunca qualquer nação bombardeou centrais nucleares. Pela primeira vez na história da humanidade, o Estado terrorista comete terrorismo nuclear”, acusou esta madrugada o presidente ucraniano, que deixou um apelo aos europeus: “Só uma ação imediata da Europa pode deter as tropas russas e impedir a morte da Europa do desastre numa central nuclear".

“Europeus, por favor, acordem. Digam aos vossos políticos que as tropas russas estão a bombardear a central nuclear de Zaporizhzhia, na cidade de Enerhodar. Há seis unidades de energia [na central nuclear]. Seis. Uma unidade explodiu em Chernobyl. Avisamos todos que nunca qualquer nação bombardeou centrais nucleares". Na mesma mensagem, em vídeo, Zelensky descarta a possibilidade de o ataque a Zaporizhzhia não ter sido intencional. “A Europa tem de acordar agora. A maior central nuclear da Europa está a arder. Neste momento, os tanques russos estão a bombardear unidades nucleares. Estes são os tanques que têm visão térmica, pelo que sabem onde estão a bombardear. Eles prepararam-se para isso.”

Reino Unido quer reunião de emergência do Conselho de Segurança da ONU

Após falar com o presidente ucraniano, esta madrugada, o primeiro-ministro britânico acusou o presidente russo de "ameaçar diretamente a segurança de toda a Europa", na sequência do bombardeamento de uma central nuclear pelas forças russas na Ucrânia. Boris Johnson disse que as ações de Vladimir Putin eram irresponsáveis, de acordo com um comunicado divulgado depois de uma conversa telefónica com o presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelensky.

O primeiro-ministro do Reino Unido prometeu convocar uma reunião de emergência do Conselho de Segurança da ONU “nas próximas horas” para analisar o perigo nuclear.

Também o primeiro-ministro do Canadá, Justin Trudeau, disse ter falado com Zelensky, na sequência dos ataques russos que causaram um incêndio nas instalações da maior central nuclear da Europa, em Zaporizhzhia, no centro da Ucrânia. "Estes inaceitáveis ataques por parte da Rússia devem cessar de imediato", escreveu Trudeau na rede social Twitter.

 

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