Amigos, mas não aliados. O que a Ucrânia queria não é o que a NATO ofereceu na cimeira de Vilnius

12 jul 2023, 12:27

Jens Stoltenberg reuniu-se com Volodymyr Zelensky mas não lhe endereçou um convite formal, com prazo estabelecido, para a Ucrânia aderir à NATO. Apesar de lamentar a falta de convite, o presidente da Ucrânia admitiu que não seria possível para o seu país entrar na Aliança Atlântica com uma guerra a decorrer

Volodymyr Zelensky chegou a Vilnius ao início da tarde de segunda-feira, para se encontrar com os líderes da NATO, mas antes já tinha feito uma declaração de interesses. Além do trabalho diplomático de pressão feito nos bastidores, para conseguir suprir as necessidades de Kiev junto dos parceiros do ocidente, o próprio presidente ucraniano já tinha manifestado publicamente o seu desagrado com o que transpirava da cimeira da Aliança Atlântica: nas redes sociais, lamentou o "vocabulário" que estava a ser discutido sem ele sobre as condições em que a Ucrânia poderia aderir à NATO e defendeu mesmo que seria "absurdo" sair da Lituânia sem um convite formal para se juntar aos aliados. 

Apesar das declarações contundentes, Zelensky saiu da reunião com o secretário-geral da NATO, na manhã desta terça-feira, mais perto da Aliança Atlântica, é certo, mas sem o convite que queria. 

Jens Stoltenberg anunciou um pacote de ajuda "em três partes" para a Ucrânia, garantindo que os aliados estão com Kiev durante o tempo que for necessário, e declarou que acordou com o presidente ucraniano este pacote tripartido, "aproximando a Ucrânia da NATO", nomeadamente com um programa de assistência prática, estabelecendo um novo conselho NATO-Ucrânia e reafirmando que a Ucrânia se tornará membro da NATO com a retirada dos requisitos do Plano de Ação para a Adesão - o que tornará a entrada da Ucrânia mais célere na Aliança Atlântica.

Falando especificamente sobre a adesão da Ucrânia à NATO, Stoltenberg garantiu que o convite será endereçado a Kiev "quando os aliados concordarem que as condições estão cumpridas", acrescentando que, quando a guerra terminar, a NATO terá de assegurar que estão cumpridos os requisitos de segurança da Ucrânia, "para que a história não se repita".

Falando diretamente para o presidente da Ucrânia, Stoltenberg disse-lhe: "Hoje, encontramo-nos como iguais. Anseio o dia em que nos encontraremos como aliados".

 

Depois de Stoltenberg, foi a vez de o presidente da Ucrânia se pronunciar, na conferência de imprensa conjunta. E Zelensky começou por dizer que "falta segurança na Ucrânia agora", agradecendo o pacote de ajuda em três partes anunciado pelo secretário-geral da NATO.

"Temos notícias positivas no novo pacote de apoio à defesa dos nossos parceiros", admitiu Zelensky, estendendo pessoalmente o agradecimento ao secretário-geral da NATO. Ainda assim, não deixou de assinalar que, mesmo  que os resultados da cimeira sejam positivos, o resultado ótimo teria sido o convite direto e formal para adesão à NATO, que não aconteceu.

"Ainda não estamos na NATO. Mas este é um grande apoio vindo das sociedades de todo o mundo", admitiu, mais conciliador do que no dia anterior, em que escrevera nas redes sociais que seria "absurdo" sair da cimeira de Vilnius sem um prazo para a Ucrânia aderir à NATO.

Zelensky acrescentou ainda que "é compreensível" que a Ucrânia não possa tornar-se membro da Aliança Atlântica durante a guerra, um "momento de sobrevivência" para o país, até porque "ninguém quer ter uma guerra mundial, o que é lógico", assinalou.

Respondendo às perguntas dos jornalistas, o presidente da Ucrânia congratulou-se também com a possibilidade de os países do G7 anunciarem ainda esta terça-feira um quadro de garantias de segurança a longo prazo para Kiev, considerando-o um "poderoso sinal para a Rússia" de que a Ucrânia será um estado independente. 

Sobre as armas fornecidas à Ucrânia, o chefe de Estado admitiu que são necessárias mais armas de longo alcance para lutar contra os russos, admitindo que iria abordar o tema durante a reunião com Joe Biden. E congratulou-se com a decisão do presidente norte-americano, muito contestada até por países ocidentais, de fornecer bombas de fragmentação a Kiev, garantindo que serão necessárias para a defesa dos militares ucranianos e para recuperar o território ocupado pelas forças de Moscovo.

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