"O seu sangue cairá sobre a sua própria cabeça". Quem são os líderes do Hamas que Israel já "eliminou"?

20 jan, 18:00
Patrulha das forças israelitas perto da fronteira da Faixa de Gaza. (Abir Sultan/Lusa)

Serviços secretos israelitas estão a desenvolver todos os esforços para identificar e localizar o paradeiro dos principais líderes políticos e militares do Hamas. "Todos os terroristas do Hamas terão o mesmo destino", avisa Israel

Desde 7 de outubro de 2023, que a lista de comandantes do Hamas mortos pelas forças armadas de Israel não para de crescer. Mortos em combate, em ataques de drone ou em bombardeamentos, o exército israelita continua comprometido em cumprir a promessa feita pelo ministro da Defesa, Yoav Galant, poucos dias depois do massacre.

“Os membros do Hamas têm duas opções: ou morrer nas suas posições ou render-se incondicionalmente. Não existe uma terceira opção. Eliminaremos a organização Hamas e desmantelaremos todas as suas capacidades”, garantiu. Desde então, um trabalho conjunto dos serviços secretos israelitas, que identificam o paradeiro dos comandantes políticos e militares do Hamas, e do exército matou quase duas dezenas de dirigentes da organização palestiniana em ataques cirúrgicos. 

O líder da Mossad, principal agência de serviços secretos israelita, admite que a operação "vai demorar algum tempo", mas, tal como aconteceu com o Massacre de Munique [atentado terrorista nos Jogos Olímpicos de 1972], a agência vai "meter-lhes as mãos em cima onde quer que estejam". "Todas as mães árabes devem saber que se os seus filhos participaram, direta ou indiretamente, no massacre de 7 de outubro, o seu sangue cairá sobre a sua própria cabeça", prometeu David Barnea, chefe da Mossad.

Saleh al-Arouri

A principal baixa do Hamas foi o histórico número dois. Saleh al-Arouri, de 57 anos, era vice-presidente da ala política e foi um dos fundadores do braço armado do Hamas: as Brigadas al-Qassam. No início do ano, foi morto por um bombardeamento de precisão nos arredores de Beirute, no Líbano, num ataque cuja autoria Israel não confirma, mas também não desmente.

Saleh al-Arouri foi libertado em 2007, depois de ter passado 15 anos numa prisão israelita e, desde então, vivia no exílio no Líbano. Em 2011 exercia funções de porta-voz do Hamas, quando o grupo conseguiu negociar a libertação de 1.027 palestinianos por Gilad Shalit, um soldado israelita capturado pelo Hamas.

Desde que foi libertado, em 2015, al-Arouri foi formalmente considerado terrorista, havendo um prémio de cinco milhões de dólares por informações que pudessem levar à sua identificação ou localização.

Azzam al-Aqra

No mesmo ataque que vitimou o número dois morreu Azzam al-Aqra, de 54 anos, o cérebro das Brigadas al-Qassam fora de Gaza. Também conhecido com Abu Abdullah, al-Aqra era responsável por todas as operações militares do Hamas no estrangeiro e contava com uma larga experiência operacional.

Como muitos membros do Hamas, o passado de al-Aqra em Gaza é obscuro. Sabe-se que, quando era jovem, foi detido duas vezes, mas por pouco tempo. Em 1992, quando acabou por ser libertado, foi exilado no Líbano, juntamente com outros prisioneiros do Hamas. Clandestinamente, continuou a preparar operações contra Israel.

Samir Fendi

Juntamente com os outros dois líderes do Hamas, encontrava-se um importante comandante das Brigadas al-Qassam, Samir Fendi. Também conhecido como Abu Amer, Fendi era o principal comandante militar do Hamas no sul do Líbano.

Estava incluído na lista de assassinatos do Shin Bet, agência de espionagem interna israelita, de acordo com a Al-Jazeera. 

Ahmed Siam

Passava pouco mais de um mês do início da guerra quando as Forças de Defesa Israelitas anunciaram a morte de Ahmed Siam. Segundo o jornal The Times of Israel, o Shin Bet identificou a localização do militar do Hamas, que estava escondido na escola de Buraq, no norte da Faixa de Gaza. Era o líder da infame unidade militar do Hamas conhecida como a Companhia Nasser-Rawan.

Israel admitiu a autoria do ataque e sublinha que outros comandantes do Hamas perderam a vida na explosão, segundo o porta-voz das forças armadas israelitas, Daniel Hagari. Os militares israelitas acusavam Ahmed Siam de manter “reféns” aproximadamente mil civis palestinianos no Hospital de Rantisi, ao impedir a evacuação do hospital para o sul da Faixa de Gaza. 

Ayman Nofal

Ayamn Nofal é uma das “figuras mais dominantes” da organização militar do Hamas. Conhecido pelo seu nome de guerra Abu Ahmad, este líder terrorista era membro do conselho geral militar das Brigadas al-Qassam na região central de Gaza. Esta organização foi criada em 1991 e conta com perto de 40 mil homens treinados para fazer guerra assimétrica contra Israel.

Tido como um dos responsáveis pelo planeamento e execução das operações de 7 de outubro que tiraram a vida a mais de 1.400 pessoas em Israel, esta alta figura palestiniana foi morta num ataque cirúrgico ao campo de refugiados de Bureij. De acordo com as forças armadas israelitas, o ataque aconteceu depois de a força aérea ter recebido informações concretas do Shin Bet.

O exército israelita afirma ainda que Nofal foi responsável pela produção de armamento em Gaza e esteve envolvido no rapto do soldado israelita Gilat Shalit em 2006, que esteve preso durante cinco anos e foi libertado em troca de 1.027 prisioneiros palestinianos.

Osama al-Mazini

Na mesma semana, Israel matava mais um alto cargo da organização. Uma bomba israelita atingia o edifício onde se encontrava Osama Mazini, chefe do Conselho da Shura, o mais alto órgão de decisão política do movimento islamita palestiniano. Este líder do Hamas foi o principal responsável pela negociação da libertação dos 1.027 prisioneiros palestinianos em troca do militar israelita, em 2011.

Segundo a Agência de Segurança de Israel, além de ser responsável pelas negociações de troca de prisioneiros, al-Mazini “dirigia atividades terroristas contra Israel”. Num vídeo publicado nas redes sociais, o exército israelita mostrou o prédio onde al-Mazini se encontrava a ser atingido por uma bomba.

Belal Alqadra

Outros dos homens “neutralizados” pelas forças israelitas foi Belal Alqadra, o comandante das forças sul Al-Nukhba, a principal força de elite das Brigadas al-Qassam. Este grupo de terroristas semeou o caos no Kibbutz Nirim, tirando a vida indiscriminadamente a dezenas de civis.

Aviões israelitas atingiram o esconderijo de Alqadra no dia 14 de outubro.

"Isto só serve para exemplificar que temos os serviços de informações necessários para eliminar a liderança do Hamas... até os terroristas que invadiram e massacraram os nossos bebés nos quartos deles. Portanto, a operação está em andamento", disse à CNN o coronel Peter Lerner sobre a morte de Alqadra.

Ali Qadi

As forças Al-Nukhba têm sido um dos principais alvos israelitas desde o início da guerra. Estes soldados lançaram o caos por onde passaram e são responsáveis por algumas das maiores atrocidades cometidas naquele dia. Por isso, as forças armadas israelitas atingiram, no dia 15 de outubro, a localização de Ali Qadi, um líder de uma companhia destas forças especiais.

Tal como outros membros desta lista, Ali Qadi também fez parte do processo de troca de reféns que envolveu o soldado israelita Gilad Shalit. O terrorista palestiniano tinha sido detido em 2005 pelo rapto e assassinato de civis israelitas. Qadi acabou por ser um dos 1.027 prisioneiros palestinianos libertados na troca de prisioneiros.

“Ali Qadi liderou o massacre bárbaro e desumano de civis em Israel a 7 de outubro. Acabámos de eliminá-lo. Todos os terroristas do Hamas terão o mesmo destino”, escreveram as Forças de Defesa de Israel numa publicação no X.

Muetaz Eid

No mesmo dia em que Ali Qadi perdia a vida, Muetaz Eid, comandante do distrito sul do território da Faixa de Gaza foi identificado pelos serviços secretos e morto na sequência de um ataque aéreo a 250 alvos militares. O Hamas manteve-se em silêncio quanto ao anúncio da sua morte, mas não desmentiu a informação. Eid foi um importante estratega do ataque de 7 de outubro.

Merad Abu Merad

A imagem dos parapentes a sobrevoar a fronteira israelita antes de perseguirem e matar civis de forma indiscriminada é algo que Israel dificilmente apagará da sua memória. Esse ataque, meticulosamente preparado e ensaiado saiu da cabeça de Merad Abu Merad, comandante das operações aéreas do Hamas.

Poucos dias depois do sucesso da sua operação, Abu Merad foi fatalmente atingido por um ataque contra o edifício da Força Aérea palestiniana, no dia 13 de outubro. Israel considera-o um dos principais responsáveis pelos crimes cometidos no dia 7 de outubro.

“Durante o ataque, os caças das IDF mataram Merad Abu Merad, que era o chefe do Sistema Aéreo do Hamas na cidade de Gaza e foi o grande responsável por direcionar os terroristas durante o massacre de sábado”, destacaram as forças de defesa.

Rafat Abu Halal

Os ataques israelitas não estão a dar descanso ao Hamas e, no dia 19 de outubro, uma nova vaga de ataques vitimou Rafat Harev Hossein Abu Halal, chefe palestiniano do Comité de Resistência Popular, uma coligação de grupos que se opõem a qualquer atitude conciliatória com o Estado de Israel.

Abu Halal foi morto na cidade de Rafah, num ataque cirúrgico da força aérea israelita, depois de o Shin Bet ter recebido informações de que o líder terrorista estaria no prédio, juntamente com outros nove membros do Hamas.

Jamila al-Shanti

A viúva do “leão da Palestina”, antigo fundador do Hamas morto em 2004, também não escapou à retaliação israelita. Jamila al-Shanti, criadora do braço feminino do Hamas, morreu no dia 19 de outubro num bombardeamento israelita. Era membro do Conselho Legislativo palestino desde 2021 e professora universitária na Universidade Islâmica de Gaza.

“O Conselho Legislativo lamenta a morte da deputada Jamila al-Shanti, morta hoje de madrugada durante os bombardeamentos na Faixa de Gaza”, disse então um comunicado publicado pelo jornal palestiniano “Filastin”, ligado ao grupo armado.

Jehad Mheisen

O chefe das forças de segurança Interna, um grupo paramilitar do Hamas, também perdeu a vida nos constantes bombardeamentos israelitas. De acordo com fontes palestinianas, o major-general Jehad Mheisen foi morto em casa juntamente com vários membros da sua família, em Gaza, no dia 19 de outubro.

Zakaria Abu Muammar

Um dos mais altos cargos do Hamas a ser atingido nesta guerra foi também um dos primeiros. Zachariah Abu Muammar era uma das principais figuras da estrutura política da organização terrorista que governa a Faixa de Gaza. Abu Muammar pertencia ao comité político e era o chefe da administração interna do grupo e responsável por coordenar as ações políticas com os grupos terroristas locais.

Além de estar envolvido no planeamento e nalgumas das mais importantes decisões do grupo, Abu Muammar é um homem da confiança de Yahya Sinwar, um dos principais alvos israelitas nesta campanha.

"Abu Muammar era conhecido como confidente de Yahya Sinwar, e agiu para colocar em perigo os civis israelitas", afirmaram as IDF na rede social X.

Jawad Abu Shamala

No mesmo dia, a força aérea israelita atingia o esconderijo de Jawad Abu Shamala, o ministro da Economia do Hamas, responsável por organizar as finanças do grupo e obter fundos e redirecionar dinheiro e financiamento para as ações militares do grupo na Faixa de Gaza.

“Como parte da sua função, (Jawad Abu Shamala) geriu as finanças da organização e destinou os fundos para financiar e dirigir o terrorismo dentro e fora da Faixa de Gaza”, disse o exército israelita nas redes sociais.

Morte em Khan Yunis

Sem dar o nome ou dar mais informações, Israel anunciou ter matado, no dia 16 de outubro, o chefe dos serviços secretos do Hamas na cidade de Khan Yunis. Numa publicação na rede social X, as IDF publicaram um vídeo de um bombardeamento preciso contra as instalações dos serviços secretos palestinianos.

Recorde-se que o ataque terrorista do dia 7 de outubro está coberto em polémica devido à incapacidade dos serviços secretos israelitas de prever as movimentações inimigas.

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