Mais de metade da população em Gaza passa fome

CNN Portugal , MJC
9 dez 2023, 18:46
Refugiados na Faixa de Gaza (AP)

Segundo o Programa Alimentar Mundial da ONU, nove em cada dez pessoas na Faixa de Gaza não conseguem comer todos os dias: "A situação humanitária é catastrófica"

Um alto funcionário humanitário da ONU alertou que metade da população de Gaza está a morrer de fome, à medida que os combates continuam. Carl Skau, vice-diretor do Programa Alimentar Mundial (PAM) da ONU, disse que apenas uma fração dos alimentos necessários conseguiu entrar na Faixa – e nove em cada 10 pessoas não conseguem comer todos os dias.

De acordo com o responsável do Programa Alimentar Mundial da ONU, 52% da população da Faixa de Gaza enfrenta fome moderada e 36% vive mesmo com fome severa. Em 91% dos agregados familiares, os inquiridos relataram ir para a cama com fome e 63% disseram passar dias inteiros sem comer.

A situação é significativamente pior no norte, disse a agência. No entano, as pessoas em Khan Younis, no sul de Gaza, uma cidade agora cercada em duas frentes por tanques israelenses, dizem que a situação ali é terrível.

As condições em Gaza tornaram as entregas “quase impossíveis”, disse Skau. Apenas a passagem de Rafah, na fronteira com o Egito, está aberta, permitindo que quantidades limitadas de ajuda cheguem a Gaza. A pressão internacional e um cessar-fogo temporário de sete dias no mês passado permitiram que alguma ajuda extremamente necessária entrasse na Faixa de Gaza, mas o PAM insiste que agora é necessária uma segunda passagem de fronteira para satisfazer a procura.

Skau disse que nada o preparou para o “medo, o caos e o desespero” que ele e a sua equipa do PAM encontraram durante a sua viagem a Gaza esta semana. VIram “confusão em armazéns, pontos de distribuição com milhares de pessoas desesperadas e famintas, supermercados com prateleiras vazias e abrigos superlotados”, disse.

Em declarações à BBC, a porta-voz da UNRWA, Tamara Alrifai, disse que a agência da ONU para os refugiados palestinianos só conseguiu distribuir ajuda numa parte muito pequena do sul de Gaza. “A situação humanitária é catastrófica em Gaza. Nos últimos dias, assistimos a uma grande redução no número de camiões que chegam e no número de litros de combustível que entram, necessários para os camiões e para as centrais de dessalinização de água e também para os geradores de eletricidade", explicou. "Devido à intensidade dos combates e dos bombardeamentos desde que a pausa humanitária terminou, só conseguimos distribuir alimentos numa parte muito pequena do sul de Gaza, em Rafah. Há muitas pessoas que não estão em Rafah e às quais não conseguimos ter acesso nos últimos dias, por isso ficaram sem nada.”

ONG Save the Children acusa Israel de usar a fome como arma de guerra em Gaza

Também este sábado, a Organização Não-Governamental (ONG) Save the Children acusou Israel de estar a usar a fome como uma arma de guerra contra a população civil de Gaza, apelando a um "cessar-fogo imediato e definitivo".

"Afastar deliberadamente a população civil de comida, água e combustível e impedir propositadamente os mantimentos de chegarem às populações é usar a fome como arma de guerra, o que inevitavelmente tem um impacto mortal nas crianças", alertou esta ONG, citando vários casos de crianças e famílias que não têm acesso a água, abrigo e comida durante vários dias seguidos.

Esta ONG está a "apelar à comunidade internacional para garantir um cessar-fogo imediato e definitivo e ao Governo de Israel para reverter as condições que tornaram a resposta humanitária praticamente impossível, incluindo o acesso direto a toda a região de Gaza, e o regresso da entrada do comércio em Gaza", lê-se num comunicado colocado no site desta organização.

"A fome nunca deve ser usada como um método de guerra", disse ainda a Save the Children, que dá conta de "vários relatos de colaboradores que falam de famílias que estão vários dias sem comida, abrigo, água ou acesso a cuidados de saúde, incluindo na chamada 'zona segura' de Al-Mawasi".

No comunicado, aponta-se ainda que as mudanças consecutivas a que os habitantes de Gaza são sujeitos por ordem dos militares israelitas "estão a empurrar os civis para 'zonas seguras' mortais, que só colocam os civis ainda mais em perigo, porque são empurrados para zonas que não os conseguem acomodar ou garantir os serviços básicos necessários, e nas quais continuam a ser atacados".

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