"A Ucrânia está a ser dizimada perante os olhos do mundo", lamenta Guterres

CNN Portugal , com Lusa
14 mar 2022, 21:52
António Guterres (LUSA)

Secretário-geral das Nações Unidas diz ainda que a ameaça nuclear russa "é um desenvolvimento de arrepiar os ossos"

António Guterres voltou a apelar à paz na Ucrânia, um país que "está a ser dizimado" à vista de todos, com mortes de "civis inocentes" a cada dia que passa de uma guerra que não terá, defendeu ainda o secretário-geral das Nações Unidas, qualquer vencedor, nem mesmo a Rússia.

"A Ucrânia está debaixo de fogo. O país está a ser dizimado perante os olhos do mundo. O impacto sobre civis está a atingir proporções terríveis. Inúmeras pessoas inocentes - incluindo mulheres e crianças - foram mortas. Depois de serem atingidos pelas forças russas, estradas, aeroportos e escolas estão em ruínas. De acordo com a Organização Mundial da Saúde, pelo menos 24 unidades de saúde sofreram ataques. Centenas de milhares de pessoas estão sem água ou eletricidade. A cada hora que passa duas coisas estão cada vez mais claras: primeiro, continua a piorar; segundo, qualquer que seja o resultado, esta guerra não terá vencedores, apenas derrotados", disse Guterres aos jornalistas, após a reunião do Conselho de Segurança.

O secretário-geral da ONU ainda não falou com Vladimir Putin desde o início da invasão, mas lembrou que vários líderes mundiais o têm feito, num esforço de mediação que não chegou a bom porto até ao momento.

Questionado sobre o pedido da Ucrânia para o encerramento do seu espaço aéreo, de modo a travar os bombardeamentos russos, Guterres foi mais cauteloso, considerando que esta possibilidade representa um "risco de escalada que pode causar um conflito global". "Temos de ser prudentes, mesmo que eu compreenda o dramático apelo do governo ucraniano", admitiu.

Guterres considerou ainda "um desenvolvimento de arrepiar os ossos" a ameaça nuclear russa, nomeadamente o facto de em perspetiva estar um "conflito nuclear, antes impensável". "Agora está de volta ao reino das possibilidades", lamentou.

"É hora de parar o horror desencadeado sobre o povo da Ucrânia e seguir o caminho da diplomacia e paz", pediu ainda.

A Guerra na Ucrânia AO MINUTO em CNN Portugal

ONU anuncia mais 36,4 ME para "assistência vital" aos mais vulneráveis

As Nações Unidas anunciaram hoje a alocação de mais 40 milhões de dólares (36,4 milhões de euros) para a assistência vital aos "mais vulneráveis" e afetados pela guerra na Ucrânia.

"Enquanto milhões de pessoas na Ucrânia enfrentam fome e escassez de suprimentos de água e remédios, anuncio hoje que as Nações Unidas alocarão mais 40 milhões de dólares do Fundo Central de Resposta de Emergência para aumentar a assistência vital para alcançar os mais vulneráveis", informou Guterres num comunicado lido à imprensa na sede da ONU, em Nova Iorque.

Este financiamento, segundo o secretário-geral, ajudará a obter suprimentos essenciais como "alimentos, água, medicamentos e outras ajudas vitais para o país, bem como fornecer assistência em dinheiro”, acrescentou, ressaltando a “importância crucial de respeitar o Direito Internacional Humanitário".

"Pelo menos 1,9 milhões de pessoas estão deslocadas dentro do país, e um número crescente está a escapar além das fronteiras. Estou profundamente grato pela solidariedade dos vizinhos da Ucrânia e de outros países anfitriões, que acolheram mais de 2,8 milhões de refugiados nas últimas duas semanas", disse, reforçando que a "maioria dos que fazem a jornada traiçoeira são mulheres e crianças".

Nesse sentido, Guterres alertou para um outro problema que tem surgido com a fuga destes ucranianos vulneráveis: "predadores e traficantes de seres humanos" que veem nesta guerra uma oportunidade para desenvolver os seus crimes.

Outra das dimensões abordadas por Guterres neste pronunciamento foram as consequências económicas da guerra em países em desenvolvimento, que, além de terem sido fustigados pela pandemia de covid-19, veem agora o seu "cesto de pão" a ser bombardeado.

"A Rússia e a Ucrânia representam mais da metade da oferta mundial de óleo de girassol e cerca de 30% do trigo do mundo. A Ucrânia sozinha fornece mais da metade do suprimento de trigo do Programa Mundial de Alimentos", afirmou.

"Os preços dos alimentos, combustíveis e fertilizantes estão a subir rapidamente. As cadeias de fornecimento estão a ser interrompidas. E os custos e atrasos no transporte de mercadorias importadas – quando disponíveis – estão em níveis recordes", lamentou, frisando que os mais pobres são os mais afetados por estes fatores.

António Guterres renovou assim o seu apelo para que os países "encontrem maneiras criativas de financiar" as crises humanitárias em todo o mundo, e cedam "imediatamente" fundos para esse fim.

"O meu apelo aos líderes é para que resistam à tentação de aumentar os orçamentos militares", defendeu.

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