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Grupo VITA recebeu 105 queixas de vítimas de abuso na Igreja num ano. 24 casos foram reportados às autoridades

Agência Lusa , DCT
18 jun, 16:13
Igreja, mãos, terço, crucifixo, religião, fé. Foto: AP Photo/Jessie Wardarski

De acordo com o documento divulgado, “das 64 pessoas atendidas, verificou-se que cinco eram pessoas adultas que não preenchiam os critérios de adulto vulnerável à data da ocorrência”.

O Grupo VITA, que acompanha casos de violência sexual na Igreja Católica em Portugal, identificou, no primeiro ano de funcionamento, 105 alegadas vítimas e um leigo que terá cometido crimes sexuais no contexto da Igreja, revelou esta terça-feira aquele órgão.

Criado pela Conferência Episcopal Portuguesa (CEP) e tendo entrado em funcionamento em 22 de maio de 2023, o Grupo VITA recebeu neste primeiro ano 485 chamadas telefónicas, as quais “não correspondem exclusivamente a situações de violência sexual no contexto da Igreja”.

Das que estão dentro do objeto do seu trabalho, e nos contactos recebidos através da linha telefónica e do formulário disponível no seu site ou por ‘email’, foram identificadas 105 vítimas de violência sexual e uma pessoa (leigo) que cometeu crimes sexuais no contexto da Igreja”, situação que tinha já sido sinalizada “às entidades penais e canónicas”.

“Esta pessoa foi encaminhada para apoio psicológico para um profissional da bolsa do Grupo VITA”, refere o relatório hoje apresentado em Fátima.

Quanto aos pedidos de ajuda recebidos, foram realizados 64 atendimentos (presenciais ou online) com vítimas de violência sexual, acrescenta o órgão liderado pela psicóloga Rute Agulhas.

De acordo com o documento esta terça-feira divulgado, “das 64 pessoas atendidas, verificou-se que cinco eram pessoas adultas que não preenchiam os critérios de adulto vulnerável à data da ocorrência”.

No universo das chamadas telefónicas, 28 respeitavam a situações de violência não relacionadas com a missão do Grupo VITA, nomeadamente “abuso sexual intrafamiliar, violência doméstica”, pelo que “foram encaminhadas para outras entidades”, nomeadamente órgãos policiais ou estruturas de atendimento a vítimas de violência doméstica e/ou sexual.

O relatório indica ainda que de “58 atendimentos efetuados” presencialmente ou online, “a maioria das vítimas (72,5%) recorreu ao Grupo VITA para efeitos de apresentação da sua situação” e 27,5% das situações já haviam sido também sinalizadas à Comissão Independente liderada pelo pedopsiquiatra Pedro Strecht, cuja ação antecedeu a criação do Grupo VITA.

Em termos de caracterização sociodemográfica, a maioria destas vítimas é do sexo masculino (60,3%), todas possuem nacionalidade portuguesa e a idade atual varia entre os 19 e os 75 anos, sendo a média de idades de 53,8 anos.

“Cerca de 37,9% das vítimas estão solteiras, 31% encontram-se numa relação (22,4% casadas e 8,6% em união de facto) e um pouco mais de um quarto encontram-se separadas ou divorciadas” e a maioria (63,7%) refere ter filhos.

A idade mais prevalente das vítimas de violência sexual no seio da Igreja Católica em Portugal que apresentaram queixa ao Grupo VITA era de 11 anos à data dos abusos, segundo o relatório deste organismo hoje divulgado.

“Em termos da idade em que ocorreu a primeira situação de violência sexual, esta varia entre os 5 e os 25 anos, sendo a idade mais prevalente a dos 11 anos, seguida dos 7, dos 12 e dos 14 anos. Quando se analisa a idade em que ocorreu a primeira situação de violência sexual em função do sexo das vítimas, verifica-se que existe um número mais elevado de vítimas do sexo masculino na faixa etária dos 11 anos”, refere o segundo relatório de atividade do Grupo VITA.

Quanto à localização geográfica atual, a região Norte é a que registou um maior número de vítimas (20), seguida de Lisboa e Vale do Tejo (17), Centro (15), Madeira (3), Alentejo (2) e Açores (1).

Quanto às habilitações literárias, 39,6% das vítimas atendidas pelo Grupo VITA têm escolaridade até ao 9.º ano, inclusive, 22,4% têm o ensino secundário concluído e 38% frequentaram o ensino superior (licenciatura, mestrado ou doutoramento).

Quanto à situação profissional, cerca de 50% das vítimas trabalham, aproximadamente 21% encontram-se reformadas e três são estudantes. Cerca de 16% encontram-se desempregadas ou sem ocupação.

Já no que concerne à sua ligação com a religião, mais de metade das vítimas (55,2%) consideram-se católicas.

“Em termos de frequência, cerca de 21% referem participar frequentemente em atos religiosos (…) e 19% fazem-no de forma ocasional (…). Um número de vítimas menos expressivo (10,3%) refere nunca participar em atividades religiosas”.

O Grupo VITA surgiu na sequência do trabalho da Comissão Independente para o Estudo dos Abusos Sexuais de Crianças na Igreja Católica, liderada pelo pedopsiquiatra Pedro Strecht, que ao longo de quase um ano validou 512 testemunhos de casos ocorridos entre 1950 e 2022, apontando, por extrapolação, para um número mínimo de 4.815 vítimas.

Grupo VITA informou autoridades judiciais de 24 casos de abuso no seio da Igreja

O Grupo VITA, que acompanha vítimas de violência sexual no contexto da Igreja Católica em Portugal, comunicou no último ano 24 casos às autoridades judiciais, revelou hoje um relatório daquele organismo.

O Grupo VITA “comunica à PGR [Procuradoria-Geral da República] e à PJ [Polícia Judiciária] as denúncias de violência sexual no contexto da Igreja, exceto nas situações em que o denunciado tenha falecido ou quando tenha já decorrido, ou esteja a decorrer, processo judicial de natureza criminal”, indica o documento, adiantando que foram sinalizadas à PGR/PJ 24 situações.

“Paralelamente, comunica às estruturas da Igreja, em função da natureza da situação e da identidade do denunciado”, nomeadamente, às Dioceses, às Comissões Diocesanas, aos Institutos de Vida Consagrada ou à Nunciatura”, tendo sido sinalizadas 66 situações neste âmbito, 43 das quais às Comissões Diocesanas.

Durante os contactos com o Grupo VITA, a necessidade mais frequentemente reportada pelas vítimas é o apoio psicológico, em 67,2% dos casos, tendo 10 vítimas reportado a necessidade de apoio psiquiátrico e seis de apoio social.

As consultas de Psicologia e de Psiquiatria estão a ser asseguradas pela bolsa de profissionais constituída pelo Grupo VITA, que integra 67 psicólogos e cinco psiquiatras, sendo os custos suportados pela Igreja.

Quanto às compensações financeiras, até ao momento foram recebidos 39 pedidos.

A Conferência Episcopal Portuguesa (CEP) aprovou em abril a criação de um fundo, “com contributo solidário de todas as dioceses”, para compensar financeiramente as vítimas de abuso sexual no seio da Igreja Católica em Portugal.

“Para dar seguimento a este processo, a Assembleia definiu que os pedidos de compensação financeira deverão ser apresentados ao Grupo VITA ou às Comissões Diocesanas de Proteção de Menores e Adultos Vulneráveis entre junho e dezembro de 2024”, anunciou a CEP no final da sua Assembleia Plenária realizada em Fátima entre 08 e 11 de abril.

Segundo o episcopado, “posteriormente, uma comissão de avaliação determinará os montantes das compensações a atribuir”.

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