Paços de Ferreira-Sporting, 0-0 (crónica)

18 dez 2000, 00:08

Requinte a mais para um leão sem chama O Paços esteve mais perto da vitória, mas faltou-lhe a veia concretizadora revelada noutras ocasiões. Mesmo assim, mostrou melhor futebol e foi sempre superior a um leão sem chama e sem ideias. O empate é lisonjeiro para o campeão, mas premeia o pragmatismo de Fernando Mendes

O Sporting pode dar-se por muito satisfeito por ter saído de Paços de Ferreira com um empate. No duelo entre os dois campeões da época passada ¿ o da II e o da I Liga ¿ o vencedor do segundo escalão na temporada transacta mostrou, esta noite, muito melhor futebol que o seu opositor, teoricamente mais forte. O Paços esteve mais perto de vencer o jogo, mas faltou-lhe um instinto concretizador que materializasse a clara superioridade que revelou no jogo jogado. 

O jogo foi interessante e só faltaram mesmo os golos para que o quadro fosse pintado com todas as cores dignas de um grande espectáculo. Entre os vários motivos de interesse que a partida prometia, ainda antes de começar, um deles tinha a ver com o facto de o Sporting poder, neste jogo, encurtar de forma considerável a desvantagem que tem em relação ao F.C. Porto. Depois da derrota de ontem dos azuis e brancos, em Leiria, os leões poderiam ter diminuído para apenas dois pontos o atraso para o líder. Mas a verdade é que, no segundo jogo da era pós-Inácio, o Sporting mostrou-se pouco eficaz e acusou muitas dificuldades para contrariar o carrossel pacense. 

De facto, a equipa de José Mota voltou a dar uma lição de bem jogar. A exemplo de outras exibições de excelente nível que rubricou neste campeonato, o Paços fez um jogo baseado num misto de suor e técnica, de vontade e talento. Mais uma vez, os pacenses apresentaram uma consistência bastante razoável para uma equipa que subiu esta temporada à I Liga: defesa muito sólida, com os dois centrais em grande plano e um meio-campo super-batalhador, com uma uma grande desenvoltura de processos. Faltou, desta vez, a veia concretizadora, bem à vista noutras ocasiões. Paulo Vida esteve um pouco abaixo do que vale e isso acabou por ser fatal para os pacenses. Em compensação, Glauber e Rafael foram imperiais. O primeiro cortou tudo o que havia para cortar e fez passes magistrais; o segundo correu quilómetros e pôs a defesa sportinguista em alerta permanente. 

Sporting sem chama 

Fernando Mendes voltou a apostar em Mpenza, mas desta vez o belga não foi um trunfo válido. Quase não se viu e foi uma unidade a menos na estratégia leonina. Com um meio-campo bem guardado por dois trincos que se completam (Paulo Bento e Delfim), o Sporting confiou em três unidades ofensivas (Pedro Barbosa, João Pinto e Mpenza) para assegurar a produção necessária para o ponta-de-lança, Acosta. Só que, rapidamente, se pôde constatar que esse esquema não resultaria, porque o meio-campo do Paços, com muito mais músculo e velocidade, estava, claramente, a ganhar a batalha. O andamento era marcado pela equipa da casa, que mandava no jogo e criava mais perigo. 

A primeira parte correu dentro desta linha: Paços mais ofensivo, com pedras nucleares em constante acção, e Sporting a tentar minimizar prejuízos, confiando na arte dois seus dois jokers (Pedro Barbosa e João Pinto) para, num golpe de mágica, fazer a diferença. Como essa diferença nunca mais aparecia, Fernando Mendes decidiu arriscar, no final da primeira parte, sacrificando o trinco menos influente (Delfim) e lançando em campo mais uma unidade criativa: Edmilson. 

Só que o primeiro quarto de hora da segunda parte pouco ou nada mostrou de melhor para o Sporting. O Paços mantinha o seu ascendente e ameaçava marcar a qualquer momento. O técnico leonino percebeu que era ambição a mais jogar para ganhar e voltou à estratégia inicial, colocando Horvath, mais um médio com funções defensivas, em detrimento de João Pinto. O número 25 do Sporting quase nunca conseguiu explorar o seu talento, muito por culpa da hiper-eficácia de Glauber. 

Mais coerente no seu jogo, o Paços foi mantendo uma tendência ofensiva que, a todo o momento, poderia ter tido como consequência natural a obtenção de um golo. Convém dizer, em abono da verdade, que a intensidade do jogo pacense decaiu um pouco na metade complementar. As jogadas não saíam tão fluidas, as tabelas já não eram tão rápidas. Mas a equipa da casa foi sempre aquela que melhor soube abordar este desafio. 

Se o andamento foi mais lento, a quantidade de oportunidades, essa, manteve-se a um nível bem aceitável. Marco Paulo, em remates de longe, Rafael, em jogadas individuais, Paulo Vida, em cabecementos respondendo a iniciativas vindas dos flancos, mantinham a chama viva no sector ofensivo pacense.  

Com o passar do tempo, o Sporting foi-se conformando com o empate e tratou de reforçar as suas missões mais recuadas. Paulo Bento foi, nesse aspecto, essencial, na tarefa de segurar as pontas e tranquilizar as tropas. Outra pedra fundamental foi Nélson. O guarda-redes leonino voltou a fazer uma exibição muito segura e contribuiu para que a sua equipa não regressasse a Lisboa com uma derrota.

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