Os olhos revelam a nossa idade biológica real, demonstra estudo

CNN , Sandee LaMotte
30 jan 2022, 13:00
Olho.

Os olhos podem ser uma “janela para a alma”, como dizem os poetas, mas também podem dizer muito sobre a nossa saúde.

Ter os olhos secos pode ser um sintoma de artrite reumatoide. Altos níveis de colesterol podem provocar a formação de um anel branco, cinzento ou azul à volta da parte colorida do nosso olho, a chamada íris. Um anel dourado-acobreado a circundar a íris é o sintoma principal da doença de Wilson, uma condição genética rara que provoca a acumulação de cobre no cérebro, no fígado e em outros órgãos, envenenando lentamente o corpo.

Mas isto não é tudo: danos nos vasos sanguíneos na parte de trás do nosso olho, que se chama retina, podem ser um sintoma precoce de danos nos nervos devido à diabetes, tensão alta, doença arterial coronária, cancro, glaucoma e degeneração macular relacionada com o envelhecimento.

O motivo principal pelo qual os médicos dilatam os nossos olhos, enquanto olham fixamente para eles nas consultas anuais, é para verificar a existência de sintomas de doenças.

Em breve, poderá haver um outro bom motivo para sofrermos de visão desfocada durante algumas horas. Um novo estudo, que os investigadores afirmam ser inovador, demonstra que a retina também nos poderá ajudar a determinar, facilmente e de forma não invasiva, a nossa idade biológica real, que pode ou não refletir a nossa idade cronológica.

“A retina dá-nos uma ‘janela’ única e acessível para avaliar processos patológicos subjacentes a doenças sistémicas vasculares e neurológicas, associadas a elevados riscos de mortalidade”, escreveu o autor do estudo, Mingguang He, professor de epidemiologia oftalmológica na Universidade de Melbourne e no Centro de Investigação Oftalmológica (CERA), na Austrália. O estudo foi publicado no “British Journal of Ophthalmology”.

Um estudo de modelagem

O estudo analisou mais de 130 mil imagens de retinas, de amostras facultadas por participantes do UK BioBank, um estudo governamental de longo prazo com mais de 500 mil participantes do Reino Unido, com idades entre os 40 e 69 anos. Utilizando um modelo de aprendizagem profundo, uma forma de aprendizagem automática, os investigadores estimaram um “intervalo de idade retinal”, entre a saúde biológica e real do olho e a idade do indivíduo a partir do nascimento.

O estudo demonstrou que houve um aumento de 2% no risco de morte devido a uma causa qualquer, por cada ano de diferença entre a idade real do indivíduo e a idade biológica mais avançada identificada no olho.

Diferenças maiores de três, cinco e dez anos, entre a idade real e a idade biológica identificada na retina foram significativamente associadas a um risco de morte 67% mais elevado, devido a doenças específicas, mesmo tendo em conta outros fatores como hipertensão, peso e diferenças no estilo de vida, como o tabagismo.

“Com um algoritmo de aprendizagem mais profundo, o computador conseguiu determinar a idade do paciente a partir de uma fotografia colorida da retina, com muito precisão. Estes níveis de alterações não são questões que nós, como profissionais, conseguiremos saber. Conseguimos perceber se o indivíduo é uma criança ou um adulto, mas não sabemos a diferença entre alguém com 70 anos e alguém com 80", disse Sunir Garg, o porta-voz clínico da Academia Americana Oftalmológica e professor de oftalmologia no Wills Eye Hospital, em Filadélfia, que não esteve envolvido no estudo em causa.

“A questão verdadeiramente única deste artigo científico é que utiliza a diferença da idade real do paciente comparada com a idade que o computador atribuiu ao mesmo, para determinar a mortalidade. Não pensámos que algo assim fosse possível”, disse Garg, através de um “e-mail”.

O modelo falhou redondamente ao prever um maior risco de morte em dois grupos de doenças: doenças cardiovasculares e cancro. Os investigadores disseram que este facto pode dever-se a uma população limitada de tais casos no universo de casos estudados ou à melhoria dos tratamentos em casos de cancro e de doenças cardíacas.

“As nossas descobertas inovadoras determinaram que o intervalo da idade retinal é um indicador independente de um maior risco de mortalidade, especialmente de doenças não cardiovasculares e de mortalidade não cancerígena”, afirmou He e a sua equipa. “Estas descobertas demonstram que a idade retinal pode ser um biomarcador clinicamente relevante do envelhecimento.”

Neste momento, pôr esta teoria em prática é um mero vislumbre aos olhos dos investigadores. Ainda assim, o estudo demonstra mais um benefício de permitirmos que outra pessoa nos olhe diretamente nos olhos, mesmo que seja apenas o nosso oftalmologista.

“É necessário obter conjuntos de dados mais abrangentes em populações mais diversificadas, mas este estudo destaca que exames simples e não invasivos aos olhos podem ajudar-nos a educar os pacientes relativamente à sua saúde, no geral. Espera-se que isto seja útil para ajudar os pacientes a compreender alterações que podem fazer, para melhorar não só a saúde ocular, mas a saúde, no geral,” afirma Garg.

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