Conheça Hélder Esteves, o mais azarado dos jogadores portugueses

30 ago 2002, 19:24

Português do Auxerre em grande entrevista ao Maisfutebol Jogador do Auxerre tem uma estranha carreira, marcada por um azar insólito. Maisfutebol esteve naquela cidade francesa e conversou com um futebolista que é desconhecido para a maioria. Conheça a história de alguém que teve de optar entre um dedo e uma carreira de alto nível como futebolista. Entrevista de Filipe Caetano, enviado-especial.

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Portugal não cessa de produzir talentos, mesmo que estes despontem para o futebol bem longe da pátria que os viu nascer. Este fenómeno estará relacionado, principalmente, com uma certa aptidão específica para a modalidade, que permite a certos portugueses desenvolver características que outros nunca conseguirão sustentar.

Na história do futebol há imensos exemplos que atestam a qualidade do atleta nacional, mas ser português no estrangeiro e manter o país na alma e no coração é muito mais do que ser apenas um futebolista no mundo. Em Auxerre, no coração da tranquila região da Borgonha, Hélder Esteves vive um sonho que há poucos anos seria impossível de concretizar para um filho de emigrantes portugueses, nascido em Bragança, que tentaram a sorte numa França próspera quando tinha apenas quatro anos.

O nome será desconhecido para muita gente, mas em França o ponta-de-lança já é conhecido como «o mais azarado dos jogadores portugueses», como o próprio Guy Roux, seu actual treinador, acabou por reconhecer. A história profissional de Hélder (25 anos) tem, de facto, sido preenchida de azares, mas também de algum sucesso, porque conseguiu agarrar uma carreira depois de ter começado a jogar num clube apenas aos 17 anos, ou seja, sem qualquer tipo de formação de base. Dos pátios dos arredores de Paris, saltou para o Le Havre, clube modesto no norte de França, que lhe ofereceu a oportunidade de dar os primeiros passos consistentes.

Só que o azar começou a bater-lhe à porta. Num dos primeiros treinos lesiona-se (pubalgia) e fica um ano parado, cumprindo apenas sessões de tratamento, por isso diz que só ter começado a jogar «aos 18 anos, que foi quando começaram a surgir as primeiras oportunidades». Nessa altura jogava a médio interior direito ou a número 10, organizador.

Recuar para voar mais alto

O primeiro contrato de profissional, mas ainda na categoria de júnior, foi assinado no Le Havre, mas quando terminou a segunda época houve troca de treinador e a opção foi mudar-se para o Troyes, uma vez que o seu ex-técnico-adjunto o aconselhava a voltar a trabalhar com ele. Nos dois anos que lá esteve poucas memórias ficaram: «Nunca consegui convencer o treinador, joguei poucas vezes e acabei por ser aconselhado pelo tal técnico que me levou para lá a procurar uma outra solução, porque ali estaria sempre tapado. É que havia um outro jogador que estava mais próximo do técnico principal e eu nunca teria hipóteses».

Novamente sem equipa, Hélder Esteves não desistiu de procurar uma solução para uma carreira curta que não pretendia que terminasse rapidamente. E a solução estava bem mais perto do que esperava, na cidade-Luz, encontrando refúgio naquele que parecia ser um clube de amadores igual a tantos outros, sem grande futuro pela frente. O Lusitanos Saint-Maur precisava de um ponta-de-lança e Hélder aceitou de imediato, apesar de nunca ter jogado na posição. «Queria, acima de tudo, continuar a jogar», explica. O calor dos dirigentes, a vontade do presidente Armando Lopes e o apoio dos emigrantes elevaram o tímido emblema lusitano a um sucesso inesperado. Hélder Esteves foi a sua principal estrela.

No último dos três anos que passou no Lusitanos marcou 40 golos em 29 jogos. Um score impressionante em qualquer campeonato, que chamou a atenção de vários clubes em França e no estrangeiro. No final da época, depois de ter estudado convites e mais convites («de Portugal só surgiram empresários, nunca clubes»), optou por Auxerre, acreditando nas palavras de Guy Roux, que falou consigo vários vezes e lhe prometeu as estrelas. Ficar no país onde sempre jogou e num grande clube, conhecido pela sua excelente escola de formação, foram os argumentos que sobraram para o convencer a mudar-se para a Borgonha.

Uma nova esperança

O salto estava dado e tudo corria, novamente, muito bem. A primeira pré-época foi «excelente», talvez porque «Cissé estava na Argentina, no campeonato do mundo de esperanças, e não havia mais ninguém para marcar golos». Hélder encarregava-se de os marcar. Só que quando o francês regressou foi sempre a primeira aposta e o português começou a ser relegado primeiro para o banco, depois deixou de ser convocado.

O primeiro ano foi para esquecer e o início do segundo também não está a correr nada bem, pois surgiu nova lesão e mais um período de afastamento forçado. Mas Hélder tem esperança de que tudo corra melhor no futuro, ainda para mais agora que a equipa apurou-se para a fase de grupos da Liga dos Campeões.

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