Será que o futebol português também está... de «tanga»?

8 mai 2002, 13:40

Crise financeira alastra a vários níveis O Campomaiorense pode não ser caso isolado. Salários em atraso e escassez de receitas são problema.

Será que o futebol português também está... de tanga? A pergunta, lançada nesta fase da vida nacional, remete para a necessidade de apertar o cinto. Alguns casos recentes confirmam a urgência de tomar medidas de emagrecimento de custos e despesas: o Campomaiorense abriu o precedente, ao anunciar que não conta participar na próxima edição da II Liga. Vários clubes estão a contas com salários em atraso. Quase todos se queixam de falta de fontes de financiamento e de fraca produção de receitas.

O recente estudo publicado pela Delloite & Touche, sobre o estado das finanças dos clubes portugueses, pôs o dedo na ferida. A diferença em relação aos grandes da Europa é colossal, a dificuldade em atrair investidores e em arrecadar receitas é indisfarçável. «Podemos dizer mesmo que o futebol português entrou em processo de falência», denuncia António Carraça, o presidente do Sindicato dos Jogadores. Carraça fala numa «reformulação completa e total dos métodos de gestão» como única forma de salvação. «Se isso não acontecer a curto prazo, que ninguém duvide que o futebol profissional em Portugal acaba. E acaba porque os grandes serão absorvidos em Ligas Europeias que estão aí a desenhar-se e dentro de uns anos serão uma realidade; enquanto a maioria dos clubes, pequenos e com imensas limitações, vai caindo numa situação de insolvabilidade».

Um pouco menos catastrófico, mas igualmente preocupado, mostra-se José Guilherme de Aguiar. O director-executivo da Liga não acredita que «o futebol profissional em Portugal esteja em riscos de acabar», mas chama a atenção para muitos problemas que estão a agravar-se: «Vivemos num clima de recessão, para o qual temos que encontrar respostas. Há que haver mais rigor nas gestões e temos que encontrar solução para problemas que não são só nossos. São de toda a Europa». Para Guilherme Aguiar, «é importante haver coragem para assumir determinadas medidas difíceis». Quais? «Reduzir salários, sem dúvida. Não é comportável por muito mais tempo o que se está a pagar aos jogadores. Os futebolistas deverão ser os primeiros a perceber isso, porque é melhor receber menos do que ficar no desemprego».

Investimento próximo do «zero»

Mas há mais. Guilherme Aguiar não considera comportável «o tipo de receitas que se geram com as transferências de jogadores». Defende a adopção de «fontes de financiamento alternativas que diminuam o peso das receitas televisivas nos orçamentos dos clubes» e avisa para os perigos de se gastar «muito dinheiro em contratações». Neste capítulo, poderemos mesmo estar a caminhar para o... investimento zero. O conceito, aparentemente irrealista no caríssimo mercado de aquisição de jogadores, foi assumido recentemente por José Eduardo Bettencourt, administrador-delegado da SAD do Sporting, que dias depois de ganhar o campeonato, apontou a «racionalidade a gestão» como um dos segredos do sucesso e garantiu que a estratégia para próxima temporada é a de não gastar um cêntimo em contratações. Será que os outros grandes estão condenados a ir pelo mesmo caminho?

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