Presidente do Sindicato dos Jogadores avisa que «há dinheiro a mais a circular no futebol»

8 mai 2002, 13:32

António Carraça preocupado com desequilíbrio financeiro dos clubes O excessivo peso das receitas televisivas gera desemprego iminente em Inglaterra.

O excessivo peso das receitas televisivas nos orçamentos dos clubes é um dos sinais mais preocupantes da crise financeira que afecta todo o futebol europeu. O recente exemplo do crash da ITV, que faz com que 600 futebolistas britânicos corras o risco de ir para o desemprego, mostra os perigos que os clubes correm.

A única alternativa que os clubes britânicos ponderam para evitar o desemprego imediato destes 600 futebolistas é uma redução drástica dos salários. Em Portugal, será que um cenário destes é possível? António Carraça, o presidente do Sindicatos dos Jogadores, avisa que sim. E não se surpreende com o que já se passa em Inglaterra: «Não se trata de uma situação conjuntural, mas sim estrutural. Mostra um cenário de crise de todo o futebol europeu. E em Portugal, isto também poderá acontecer».

Na lista de razões que explicam a crise, Carraça aponta «a falta de realismo que tem imperado nos clubes e nas SAD's. A solução terá que passar por um entendimento conjunto de todas as partes que compõem o futebol profissional. Já toda a gente percebeu que há dinheiro a mais a circular no futebol».

Redução salarial é inevitável

 
E os jogadores, como deverão reagir à ameaça de redução drástica dos salários? Carraça distingue espírito sindical de pragmatismo: «Os jogadores terão que contribuir para que se encontre uma solução. O desemprego é uma ameaça preocupante. Reduzir os salários poderá ser uma consequência, mas temos que olhar para todo o problema. Há que ter a coragem para fazer reformas de fundo, que passa pela formação, pela racionalização das gestões e por encontrar fontes de financiamento alternativas. Os jogadores não podem resolver tudo».

O director-executivo da Liga, e candidato à presidência do mesmo organismo, José Guilherme de Aguiar, também se mostrou muito preocupado com o caso britânico: «Mostra a recessão que afecta as receitas televisivas a nível geral. Em Inglaterra, já se adivinhava esta situação, o mesmo pode acontecer noutros países. Em Portugal, não estamos tão dependentes da televisão, mas também há preocupações».

Aguiar faz questão de explicar que «este caso mostra uma crise no mercado televisivo, crise essa de que o futebol se ressente». «Importante», frisa, «é diminuir a dependência dos orçamentos dos clubes nas receitas televisivas e encontrar outros financiamentos. Não nos podemos esquecer que Inglaterra é só o país que mais receitas gera no futebol, em termos de marketing». Guilherme Aguiar lamenta o risco de desemprego nos jogadores e aponta a redução da massa salarial como «uma inevitabilidade».

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