Cantar Beatles até Anfield Road

15 mar 2001, 09:36

Magia à solta em Liverpool Liverpool é a cidade que nos obriga a trautear algo que os Beatles tornaram hino. É mágico passear junto à Caverna, é arrepiante sentir que a estátua de Lennon parece troçar de nós, é assustador imaginar o que será a zona de Anfield em dia de derby local. O F.C. Porto está num dos locais mais importantes de Inglaterra. Também à procura de fazer história

Estava capaz de jurar que o John olha directamente para nós, como se estivéssemos sós entre as duas margens da Mathew Street, como se só nós existíssemos no centro de uma cidade com meio milhão de habitantes. Parece piscar o olho, premiando o ar pasmado de quem o mira, inerte e incapaz de prosseguir, preso pela música que ainda sobe à superfície desde o subsolo da Caverna, que por instantes parece o centro do mundo. É arrepiante. Está-se no coração de Liverpool, a meio de uma rua com quatro metros de largura, marginada por amontoados de tijolos castanho-escuros que constroem prédios estranhamente austeros e confortáveis. 

«Help» ou «Hey Jude», não dá para distinguir. Sabe-se apenas que John, Paul, George e Ringo continuam lá em baixo, no final de umas escadas que davam acesso ao sonho de uma geração. Talvez nunca tenham saído de lá. As paredes talvez o saibam, a madeira do tecto talvez o discuta, sempre na dúvida, com as fotografias que perpetuam momentos únicos. Talvez Lennon não tenha sido efectivamente baleado em Nova Iorque e a estátua, com o mesmo ar desorientado do músico, sirva apenas para lembrar que foi ali que a aventura principiou. Nunca se sabe. Sabe-se apenas que todos passaram por ali. Os famosos deixaram placas de homenagem aos quatro que os inspiraram. Os anónimos limitam-se a respiram um ar pejado de magia e a sorrir. O local é dos mais míticos do planeta e resta-lhes aproveitar. 

A Caverna é a excelência do centro de Liverpool, mas está camuflada num orgulho muito próprio de quem aprendeu a crescer com os Beatles na ponta da língua. Não há neons, há unicamente convites ao sonho, num espaço sombrio, negro, capaz de nos fazer arrepiar. Para quê mudar algo que já era tal e qual quando os quatro abandonavam a adolescência? Esse é o maior reconhecimento que podem ter. O prémio da cidade, esse, fica para um espaço moderno, nas margens do Rio Mersey, onde o museu da maior banda de sempre é atracção para resmas de turistas. 

Anfield Road também é um dos espaços mágicos cá do sítio. Não há Beatles, mas há futebol, a outra paixão, o segundo maior orgulho destes ingleses. O estádio fica a meia hora do centro, mas continuam a ouvir-se os acordes de «Let it be» em cada cruzamento, aparentemente até ao Goodison Park, casa do Everton, o rival azul do Liverpool. A partir daí já apenas se escutam cânticos e gritos eufóricos. Adiante fica o palco onde esta noite o F.C. Porto joga o futuro na Taça UEFA. A pouco mais de um quilómetro. Crê-se, sem dificuldade, que o duelo deve ser fantástico.

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