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Amaral quer ver a «águia sorrir» outra vez

17 nov 2000, 09:51

Em Florença, o antigo médio «encarnado» torce pelo êxito do Benfica Souness não o quis, Heynckes ignorou-o. Sempre soube que algo de melhor esperava por ele, jurando que o desprezo não bastou para o magoar. As dores chegaram à segunda experiência na Fiorentina, sob a forma de rotura de ligamentos que o mantém no ginásio, a olhar de esguelha o relvado e a bola quase desconfiado. Quer ver a «águia sorrir» e admite voltar. Para já, aplaude a contratação de Marques.

Leandro interrompe a marcha quando o vê passar, sempre sorridente, sempre bem-humorado. «Como é que o cara consegue?», interroga-se. Não evita a expressão, a boca abre-se-lhe de espanto. Amaral quase não manca, depois de três meses de recuperação. Os ligamentos cruzados do joelho esquerdo mal lhe doem agora, mas ainda não o deixam jogar. É isso que o incomoda, só isso lhe rouba temporariamente o sorriso. 

Antes das oito horas ecoarem na Catedral de Florença, Amaral já está no estádio. Lança um olhar rápido e inevitável ao relvado, remoendo baixinho o lamento de não o poder pisar. Com bolas a pular por perto, demora-se mais um pouco, espreita e resiste como pode à tentação de desferir um pontapé violento no pedaço esférico mais próximo. O ginásio e a fisioterapia, feita sempre dos mesmos exercícios, esperam por ele. Sorri, mesmo assim. 

Regressa, outra vez a sorrir, cantando, gracejando. Leandro nunca o irá perceber. «De que me adianta chorar? Vai ajudar ficar triste?». Não esperava resposta. Sabia que não. Na vez das lamúrias, de dizer mal da sorte, Amaral detectava o que mais ninguém poderia ver: «Só tenho que agradecer a Deus por não me ter acontecido algo de mais grave». Impossível, diria outro jogador no mesmo azar. 

Sem mágoa 

Uma infância extraordinariamente difícil preparou-o «para tudo». Não se envergonha de ter passado por «pior», por situações «realmente graves», mesmo admitindo que não lhe será fácil esquecer a lesão que o afastou logo à segunda experiência com a camisola da Fiorentina. «Estava bem para caramba», suspira. «Todas as vezes que entrar em campo, vou reflectir sobre esta fase». Inevitável. 

Interrompeu-se, descontente com o rumo que dava à conversa. Sabia que o futuro lhe reservava «coisas melhores». Inadvertidamente, introduzia um novo tema. A rejeição repetida do Benfica e a transferência para Florença. «Vim para um grande clube». Riu baixinho da ironia nas barbas do destino. «Isso pegou todo o Mundo de surpresa». Antes, já Souness e Heynckes lhe haviam fechado as portas da Luz. «O escocês não gostava muito do meu jeito e o alemão não me conhecia. Creio que nem quis conhecer».  

À excepção dos ligamentos, e só uma vez por outra, nada mais lhe doía. «Não guardo mágoa do Benfica». Na verdade, até gostava de voltar. «Se um dia me chamarem, eu vou». Com Souness ou Heynckes, só o faria na condição de jogar. «O meu ordenado», assumiu, «também não ajudava». A par da mundança, com o Benfica a pular entre o coração e a boca, Amaral desejava «toda a sorte do Mundo» a Vilarinho, esperando que recupere a «grandeza do clube». 

Faltas, penalties... «muito bom» 

Em resumo, Amaral queria ver a «águia sorrir de novo» e «o terceiro anel levado à loucura, em vez de conduzido ao desespero». Aplaudia a inclusão de Mozer na equipa técnica e mostrava-se certo de que «o Benfica tem de correr contra o relógio». A notícia da contratação de Marques, de que ficava a saber pela boca do jornalista, interrompia a corrida, a visão acelerada, quase asfixiante, dos dias mais próximos na Luz.  

O Benfica acertara, não tinha dúvidas. «É um jogador muito bom, rápido, que se assemelha muito ao João Pinto», garantia. «Marques é uma óptima aquisição», continuava, entusiasmado, dispensando pausas. «Sofre muitas faltas, muitos penalties. Quando está bem, pode resolver um jogo sozinho». A comparação parecia-lhe inevitável. Outra vez. Talvez até a melhor forma de o caracterizar. «O Marques é um João Pinto», resumiu. Julgava, então, estar descoberto o caminho. «Aquela águia vai recuperar o brilho», arriscava, já com a família à espera no carro, a lembrar-lhe que a hora do almoço havia passado há muito. Tinha que ir. «O Benfica voltará a ser um dos maiores clubes do Mundo». Despedia-se. O filho, com fome, já o puxava pela mão.

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