«No futebol de robots ninguém resmunga quando fica de fora...», diz Fernando Santos

28 nov 2000, 19:57

Treinador do F.C. Porto regressou à faculdade para ver projecto inovador O engenheiro na faculdade de engenharia. Fernando Santos participou esta tarde numa palestra sobre «futebol robótico» e defendeu que as novas tecnologias podem ajudar os treinadores na preparação das estratégias, mas jamais irão reinventar ou competir directamente com o futebol... humano.

Fernando Santos tentava detectar interesse, inclinava o pescoço para encontrar um ângulo de visão mais favorável e sorria. Era engraçado, quando muito curioso. Não estava maravilhado. Limitava-se a aceitar a evolução tecnológica como normal e perspectivava uma vida ainda duradoura para o futebol que praticou e que mantém como actividade favorita. 

O futebol simulado podia ser divertido, podia provocar-lhe espanto pela capacidade futebolística de algumas inteligências artificiais, mas jamais lhe provocaria sensações de euforia. «É interessante ver que estas equipas têm estrutura estratégica», avançava, depois de escutar a explicação de Luís Paulo Reis, um dos responsáveis pelo F.C. Portugal, uma equipa de futebol simulado que integra a Robocup e acumula os títulos de campeã do Mundo e da Europa. 

Os alunos do 5º ano da licenciatura em Informática e Computação da Faculdade de Engenharia de Universidade do Porto aguardavam que o treinador do F.C. Porto os esclarecesse. Queriam perceber como é que seria possível conciliar as duas áreas. Fernando Santos estava certo que era uma tarefa exequível. «Há sem dúvida factores coincidentes», assegurava, «mas há igualmente diversas áreas em que não se podem comparar». E exemplificava: «No futebol simulado só há um espaço, enquanto no futebol real se jogo pelo chão e pelo ar, o que exige condições diferentes em todas as acções. Os jogadores programados, por outro lado, não se irritam e não discutem com o árbitro». 

A palestra estava interessante. Luís Paulo Reis defendia que a evolução do projecto pode aproximar ainda mais as duas actividades. Fernando Santos admitia a possibilidade, mas não se convencia. «Tenho a convicção que nunca haverá um jogo entre homens e humanóides», afirmava perante o objectivo final do projecto Robocup. Os investigadores querem construir uma equipa de robôs que em 2050 consiga vencer a selecção campeã do Mundo. O treinador do F.C. Porto torce o nariz. «Se isso acontecesse o ser humano estaria em perigo», avisava, retomando o capítulo das diferenças que lhe parecia suficientemente convincente. «Aqui nesta equipa há 11 jogadores, mas os que ficam de fora não resmungam». A gargalhada tinha sido geral. «E os jornalistas», insistia na graça, «também não perguntam por que é que o treinador deixou este ou aquele de fora». 

«O futuro, no entanto, aponta para que haja uma interligação na organização estratégia». Chegava-se finalmente ao verdadeiro objectivo do encontro. «Quando estiverem bem organizados, estes projectos podem ajudar os treinadores a estudar as melhores formas de anular os esquemas de um determinado adversário». Fernando Santos apressava as conclusões mostrava-se disposto a trabalhar com este tipo de tecnologias. «Já existe um programa, baseado em câmaras fixas, que permite ver todo o campo». O técnico virava palestrante. «Sei que o Manchester United o utiliza assiduamente. Eu também já o utilizei para preparar os jogos da época passada com o Bayern. Foi graças a ele que consegui perceber como é que eles colocavam tantos homens junto à nossa baliza na marcação dos cantos».

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