Aves-Gil Vicente, 1-0 (crónica)

29 out 2000, 18:49

Perdidos de medo Uma vitória quase obrigatória, sem risco a declarar ou vontade expressa de esmagar. O Gil tolhia-se pelos fantasmas que criou e facilitava a vida de quem não estava para assumir um par de exuberâncias.

O perigo contou-se pelos dedos da mesma mão que se dirigia à boca para confirmar o espanto. Ninguém ousava festejar, aplaudir ou vibrar. Trocava-se o incentivo pelo assobio, apostava-se na insatisfação, no pedido de recompensa pelo bilhete que motivara a troca de um lanche de azeitonas e presunto por uma ida ao futebol. Os cachecóis perdiam a utilidade lúdica e tornavam-se num mero agasalho, as bandeiras ficavam recolhidas, aguardando que um pontapé bem direccionado ou um ensaio bem imaginado as fizesse esvoaçar. O jogo chateava. 

Álvaro concebera com arrojo. Casara Vítor Vieira e Nuno Assis com cada uma das linhas laterais e pedia-lhes que ficassem de olho nos movimentos de Sadjó, jogador que ocuparia o posto mais adiantado do esboço. O objectivo era rasgar uma defesa recentemente em sobressalto contínuo. As diagonais e as inversões de marcha repetidas amiúde bastariam para chegar à posição desejada, à rota de colisão com o golo e ao meio do percurso para a primeira vitória. 

Crente que a agonia classificativa tornaria os seus jogadores ainda mais rápidos e ambiciosos, o treinador anunciava que não se contentaria com um mísero ponto, mesmo que esse pudesse conceber-se como um mal menor. A intenção não era despachar para a bancada, apertar nas marcações, destruir em vez de construir. A vontade, assumida sem preconceitos ou cuidados, duplicava o risco, mas alargava a capacidade para reagir. Se funcionasse, obviamente. 

O Aves apostava no de sempre, com os trincos obrigatórios a estorvar as congeminações de Abílio e a deixar Quinzinho entregue ao seu poder físico e às amostras avulsas de Douala e Rui Lima. Aos laterais não era concedido o direito para deixar o meio-campo atrás das costas ou para esquecer por um segundo que fosse o adversário que não assumia as intenções. O golo chegaria por outros meios. 

Vitória precoce 

A tendência era para o equilíbrio de forças, principalmente numa zona intermédia de forte densidade populacional e indefinições constantes. A bola viajava, sem rumo, de canela para canela, sem se queixar do mau trato. Os guarda-redes folgavam, sem quedas ou embaraços a registar. Chegava o fortuito, o inesperado, a sorte para um dos lados. Na primeira investida que a marcação de um canto obrigou, o Aves marcava e segurava os três pontos. A defesa do Gil era traída pela própria insegurança e escorregava nos próprios receios. 

Não havia nada a fazer, mesmo que Álvaro insistisse no reforço do ataque e no devaneio que a dispensa de um médio podia parecer. A equipa de Barcelos rendia-se aos medos e às pressões classificativas e estava a ponto de recorrer aos serviços de um analista. Os cérebros queriam, mas a ordem chegava às pernas fora de horas, depois de os adversários já terem adivinhado a encenação e recuperado a bola. A máquina soluçava e a ignição de Casquilha e Nuno Assis não chegava para a colocar em velocidade cruzeiro. Sérgio Lomba tentava de cabeça, ficava póximo do festejo, mas adiava nova tentativa para o instante anterior ao útimo apito. Não havia solução.

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