ANTF: Henrique Calisto critica «herdeiros de Meirim»

14 jun 2001, 19:46

«Façam um esforço de memória e percebam que as coisas mudaram»

Henrique Calisto, presidente da mesa do congresso da Associação Nacional de Treinadores de Futebol, que decorre em Santa Maria da Feira, foi o protagonista da intervenção mais aplaudida até ao momento. 

Alheando-se, por momentos, da sua condição de moderador, e tomando a palavra enquanto sócio, Calisto tomou uma posição enérgica quanto àquilo que considera ser o «discurso miserabilista» dos membros da lista B. 

Falando directamente para os apoiantes de Américo Pereira, Calisto acusou-os de serem os continuadores das ideias de Joaquim Meirim, o carismático treinador falecido recentemente, e que liderava, de forma incontestável, a oposição à direcção da ANTF:

«Deixemos o discurso dos coitadinhos. Já não somos coitadinhos! Respeito muito o Joaquim Meirim, era meu adversário, mas era também meu amigo, mas o Meirim fez o seu percurso, teve o seu lugar no futebol. Já morreu, infelizmente. Não concordo com a postura de certos elementos que têm adoptado um discurso derrotista e negativo. Esqueceram-se que a nossa classe tem vindo a ser credibilizada nos últimos anos?» 

Prosseguindo este ideia, Calisto acrescentou: «Cada vez tenho mais orgulho em ser treinador português. Olhemos para o que está a ser conseguido. O Inácio foi campeão nacional; o Jaime Pacheco foi campeão nacional. Dois jovens treinadores portugueses que se afirmaram ao mais alto nível. Os êxitos do Queirós, do Rui Caçador, são êxitos de todos nós, dos treinadores portugueses, que descobriram talentos que estão a ser aproveitados ao máximo. O futebol português não tem dinheiro para aguentar os Figos e os Rui Costas, mas deve orgulhar-se deles e, antes de todos, os treinadores portugueses, que os descobriram. Em que sector da vida portuguesa somos o segundo a nível europeu, o quarto a nível mundial? O futebol português está nessas posições? Discursos derrotistas, a meu ver, não fazem sentido hoje». 

Ainda e sempre, Joaquim Meirim 

Na acutilância do discurso de Calisto, notava-se, ainda e sempre, o contraponto em relação às posições veiculadas, nos últimos anos, por Joaquim Meirim, que era muito crítico em relação à actual situação dos treinadores portugueses. Henrique Calisto, que é o braço direito de José Pereira na lista A, acusou os membros da lista B de estarem «órfãos de Meirim»: «Há que dar um passo em frente, fazer um esforço de memória e perceber que, apesar de tudo, hoje em dia o futebol português está muito melhor. Façam um esforço e lembrem-se das guerras de palavras que eram feitas entre Pedroto e Mário Wilson, entre Pedroto e Meirim, entre Octávio Machado e Humberto Coelho... Já todos nos esquecemos disso? Nessa altura, há 20, 25 anos, essas guerras eram muito mais penalizadoras para o futebol português. Hoje já se nota mais contenção, mais bom senso, continua a haver divergências entre nós, temos acesso aos jornais, há polémica, mas está tudo muito mais estabilizado!» 

A tese de melhoria apontada por Calisto é sustentada por outro dado: «Reparem que hoje na I Liga há só um treinador estrangeiro. Na II Liga... não há nenhum. Ora, isto era absolutamente impossível há 20 ou 30 anos, em que a relação entre portugueses e estrangeiros era quase 50/50 por cento. Isto é uma grande vitória dos treinadores portugueses!»

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